Capítulo 1

11.3K 1.5K 592
                                    

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

CIBELE, ILHA HAWIS - ANO DE 2014

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

CIBELE, ILHA HAWIS - ANO DE 2014

Nosso cérebro armazena inúmeras lembranças. Quando ativado por um estímulo externo, como um aroma, o cérebro desencadeia uma reação neurológica na memória associando tal cheiro a fatos importantes da nossa vida. Basta sentir um cheiro familiar para que uma cena do passado venha para nossa memória com uma incrível riqueza de detalhes. Pode ser o aroma de um alimento, o exalar de uma flor ou o perfume de uma pessoa.

No meu caso, são os cheiros dos livros.

Desde que me entendo por gente, os livros fizeram parte da minha vida e sempre estiveram acompanhados de gestos de carinho e amor. Livros, para mim, são sinônimos de Mamãe e Papai.

Talvez seja por isso que a primeira coisa que faço quando seguro um livro em minhas mãos é cheirá-lo e tocar suas páginas suavemente. É como se esse gesto fosse capaz de trazê-los para mim novamente, como se eu pudesse sentir a presença deles.

Mas, infelizmente, são apenas lembranças.

Além das doces recordações, meus pais me deixaram nossa casa, uma livraria e Oliver, meu irmão adolescente, que ficou sob meus cuidados quando ainda era uma criança. E foi por causa dele, e de seus atos inconsequentes, que minha vida deu uma reviravolta de 180 graus.

— Bom dia! — Sorri para a mulher de cabelos encaracolados que entrou na livraria, fazendo a campainha soar quando atravessou a porta de vidro. — Posso te ajudar em alguma coisa?

— Ah, oi! — A jovem retribuiu com um sorriso inseguro. — Eu estou em busca de um livro: A Bela e a Fera. — Seus olhos vasculharam uma das inúmeras prateleiras que estavam a sua frente.

— Está por aqui. — Dei a volta no balcão de madeira e caminhei até o local onde os livros sobre histórias de princesas se sobressaíam aos outros. Meus olhos correram pelos títulos até encontrá-lo. — A Bela e a Fera! Um clássico da literatura!

— Amo essa história! — A mulher pegou o livro de minhas mãos o segurou como se fosse algo precioso. — Sempre me imaginei sendo a Bela em seu vestido amarelo. Aliás, que menina não sonha com isso?

— Eu! — Ergui o dedo indicador, declarando-me culpada. — Eu nunca quis ser princesa. Imagino que a vida delas vai muito além do romance com o príncipe e não deve ser nada fácil. Tantas regras, tanta burocracia! Parece tudo tão... Frio!

— Então, você é a primeira mulher que eu conheço que não sonha em viver um conto de fadas. Eu cresci, mas a fantasia ainda está bem viva aqui dentro. — A jovem levou a mão ao coração e me entregou de volta o livro. — Vou levar!

— Sabia que existem inúmeras versões desta história? — Caminhei em direção à bancada com o livro na mão, expressando minha empolgação que era devolvida na mesma intensidade pela minha cliente sonhadora. — Na versão de Beaumont, por exemplo, Bela se ofereceu para ficar no lugar do pai e seguiu até o palácio, acreditando que a Fera a devoraria. Mas, ao invés de devorá-la, a Fera foi se mostrando, aos poucos, um ser sensível e amável fazendo todas as vontades dela e tratando-a como uma princesa. Quando Bela partiu, a Fera quase morreu por não se alimentar direito, pensando ter perdido sua amada. Mas, no fim, todas as versões falam sobre a mesma coisa: alguém que era muito mais do que aparentava ser!

— E é isso que faz todas, ou quase todas — ela corrigiu ao encarar meu rosto sorridente —, sonharem em viver um conto de fadas assim!

Enquanto eu embalava o livro, olhei discretamente para o relógio na parede à minha frente. Os ponteiros indicavam que Oliver já deveria ter voltado há meia hora. Ele nunca se atrasava, fato que gerou em mim o princípio de um estado de alerta.

— Está quase na Hora Familiar. — A cliente tirou-me das minhas preocupações ao notar meu olhar em direção ao relógio. — Eu não vejo motivo para continuarmos com essa regra boba! Nosso país insiste em preservar essas leis conservadoras e desnecessárias.

— Bom, sou suspeita para discutir sobre isso. — Comprimi os lábios sem ter certeza se expressava minha defesa. — Eu amo essa hora do dia, sempre tivemos bons momentos em família! É uma excelente oportunidade para estar em comunhão.

— Isso é verdade. — Ela ponderou ao ouvir meu ponto de vista. — Entretanto, não deveria ser obrigatório, pois nem todo mundo concorda com isso. Acho um pouco de exagero impor a todos os estabelecimentos a fecharem suas portas. Mas, leis são leis, não é verdade? Devemos segui-las, ainda que não concordemos!

Eu afirmei que sim com a cabeça, estendendo a sacola com o livro, já cuidadosamente embalado. A moça pagou pelo produto, agradeceu e, quando ela estava atravessando a porta, falei animada:

— Não desista de ter esperanças, afinal, estamos em Cibele!

— E temos dois príncipes solteiros – ela completou, partindo com o sorriso iluminado.

Segui até a entrada da livraria com as mãos na cintura, sinal de minha preocupação. Saí para a calçada, vasculhando pela rua em busca de algum sinal de Oliver, mas tudo que vi foi a movimentação de pessoas apressadas, tentando resolver seus compromissos nos últimos minutos restantes antes do comércio fechar. Logo a quietude que acompanhava a hora seguinte tomaria conta de toda Cibele.

Ele passou dos limites hoje! — O pensamento se misturou às mil ideias de como castigá-lo, lembrando-me de como eu era uma irmã má quando queria ou precisava.

Votei para a mesa e me deparei com as diversas contas para pagar se destacando, me levando às recordações de que eu precisava de um verdadeiro milagre de Deus para conseguir honrar com todas elas naquele mês. As vendas sempre diminuíam nos meses que antecediam a festa da Independência e eu sabia que teríamos que enxugar os gastos.

A situação me trouxe Oliver à memória. E, quando o barulho da campainha indicou que alguém atravessava a porta, meus olhos subiram na expectativa de ver meu querido e único parente ali na minha frente. Mas, me decepcionei.

— Senhorita Anne Davies? — Um enorme 'guarda-roupa' vestindo o uniforme vermelho da guarda real adentrava na livraria com sua postura imponente, fazendo-me estremecer ao ouvir sua voz autoritária.

— Sou eu — hesitei em responder, criando diversos motivos reais ou irreais para que meu nome estivesse na boca daquele ser temível.

— Sua alteza requer sua presença imediatamente — a pronúncia rouca e firme preencheu todo o local.

— E...Eu? — gaguejei. — O que o príncipe quer comigo? Você deve estar enganado!

— Agora, senhorita! – O homem não me deu espaço para mais perguntas.

Seja bem vindo, leitor! Deixe seu votinho na estrelinha e ajude uma autora!

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Seja bem vindo, leitor! Deixe seu votinho na estrelinha e ajude uma autora!

Amor Real 1 - Despertar (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora