CAPITULO XI - JOKUL FROSTI

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Em poucos segundos a nuvem, causada pela explosão, dissipou. O chão ao meu redor estava completamente congelado e caiam apenas alguns flocos de neve ao meu redor, não conseguia nem mesmo ver Cupid, será que havia fugido?

— Cupid?! — Gritei por seu nome, após a explosão, tudo tinha ficado branco, não tinha conseguido ver mais nada a minha frente e a última coisa que me lembrava era de Cupid assustado. — Cupid?! — Gritei mais uma vez desesperado, não queria que ele tivesse se machucado. Não muito distante de onde estava, um amontoado de neve se mexeu, ouvi alguém tossindo e dei um salto em sua direção, logo duas formas enormes se alongaram por detrás do amontoado, eram asas. Não qualquer asa, asa de dragão. Cupid estava desajeitado, tentando se livrar da neve a todo custo, foi só quando consegui ver seu rosto que consegui sorrir. Suas sobrancelhas e alguns cachos de seu cabelos estavam cobertos por neve, por um momento quase acreditei que ele pudesse ser albino.

— Vai ficar rindo ou vai me ajudar a sair daqui? — Perguntou sarcástico, parei de sorrir e o ajudei a se elevar da neve deixando seu arco, que ainda estava em minha mão, no chão, o guardião esticou suas asas e com as mãos procurou afagar toda a neve que tinha. Parecia um cachorro se sacando depois de ter levado um balde de água, não pude resistir o sorriso novamente. Cupid estava bem. — Jack? — Estava novamente com uma expressão espantada, assim como momentos antes da explosão.

— O quê?

— O que aconteceu com você? — O fitei confuso e segui para onde seus olhos estavam tão focados.

Foi então que vi o que era tão confuso. Minhas vestimentas haviam mudado completamente, não usava mais a blusa de moletom azul, nem a calça esfarrapa cinza, pelo contrário e muito inimaginável, estava vestido como Cupid.

Era uma túnica azul apertada no peito com um decote fechado, uma saia pequena amarrada com um cinto que parecia ter dentes bem afiados costurados. A calça também era apertada, mas não limitava de modo algum meus movimentos, e usava botas como as de Cupid. Minhas mãos estavam cobertas pelo que pareciam luvas com os dedos para fora, no dorso haviam desenhos de flocos de neve e por cima de tudo estava uma capa, presa no meu pescoço, nela havia um capuz bem fofo com pelo de algum animal, talvez. Mas o que mais chamava atenção, fora as roupas novas, eram as duas palavras, uma em cada ante braço, o guardião do amor logo pegou meus braços para poder lê-las, mentalmente as traduzi mais rápido do que as outras palavras que havíamos encontrado.

Jokul — No braço direito. — Frosti? — No esquerdo. Pingente de gelo, seu significado. Pouco a pouco, as duas palavras iam sumindo, sem deixar nenhum resquício de sua existência. Cupid e eu trocamos olhares.
— Como assim? — Subitamente perguntei, rezando para que o mesmo tivesse uma resposta.

— Isso é estranho... Jokul Frosti é uma lenda nórdica, o espirito do inverno, um espirito travesso. Mas... Espera. — Os olhos de Cupid brilharam. — Jack Frost e Jokul Frosti. — Apontou para mim. — São a mesma pessoa. — Uma sensação me percorreu. — O que foi? — Cupid notou.

— Quero tentar uma coisa. — Me movi para pegar uma das flechas de Cupid, um passo apenas, mas parecia que estava me movimentando junto ao vento. Em um piscar de olhos estava atrás do guardião segurando uma de suas flechas, o mesmo ficou sem palavras.

— Como...? — Virou metade do seu corpo para trás, enquanto o que havia acontecido antes com o arco acontecia com a flechas em minhas mãos: uma fina camada de gelo se apossando da madeira. O guardião continuava perplexo, um frio passou pelo meu estomago, estava gostando daquilo, me divertindo. Novamente movimentei-me tão rápido quanto o vento, ficando no cume da montanha que estávamos. — Jack, espera...

Porém fora tarde demais, já havia me colocado em posição, como se soubesse exatamente o que fazer, posicionando a flecha na corda do arco, puxando-a, mirando uma árvore mais distante e então liberando. Acompanhei sua trajetória enquanto ela cortava pelo ar e quando ela fincou na madeira, me assustei quando ao redor da flecha o gelo se formou, não era só a fina camada que havia aparecido antes, era grossa e se espalhava por uma pequena área dando origem a formas pontiagudas inclinadas na nossa direção. Conseguia ser assustador, perigoso, mas por algum motivo só conseguia ver a beleza e magnificência do gelo, deixei o arco cair no chão e voltei a encarar Cupid que observava espantado.

A Origem dos Guardiões - O Guardião PrimordialWhere stories live. Discover now