5 - parte 3

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Desci do ônibus próximo a minha casa, havia conseguido não chorar nele. Estava me habituando à maneira fria com que o André estava me tratando, e parecia não machucar tanto. Mesmo que aquela sensação ruim de perder alguém ainda estivesse ali comigo. Não pensei em me sentir culpada por não atender o pedido dele, afinal de contas, não adiantaria me martirizar sentindo-me egoísta por não fazer algo que me machucaria. Eu tinha pouco tempo para viver, não o passaria fazendo coisas que não me faziam bem.

Havia um homem mexendo na minha porta. Seu porte alto, usava uma blusa social para fora da calça, o cabelo loiro estava ajeitado e ele deixava alguma coisa na soleira da porta.

— O que faz aqui, estranho?

— Ellen, não sabia que voltaria tão cedo! — Christopher respondeu perscrutando meus roso em busca de alguma informação. — Está tudo bem?

— Está ficando repetitivo perguntar-me isso cada vez que volto da prisão só para me ouvir dizer que não. O que é isso que está deixando aí?

Um buquê de rosas estava caído, escorado na porta, aparentemente, ele o estava tentando deixá-lo em pé.

— Você me trouxe flores?

Ele as pegou e estendeu para mim.

— Pelo seu aniversário. Clichê, não é?

— Não é porque é clichê, que é ruim. Obrigada. Mais uma vez.

— Você está linda. Se foi assim ver o seu noivo deve tê-lo enlouquecido.

— Não como eu gostaria, e obrigada.

— O que você vai fazer agora? Estou indo para aquele coquetel chato que te falei, tem certeza que não quer ir comigo?

— Eu não estou no clima, Christopher. Sinto muito.

— Tudo bem, não vou insistir. Descanse então. Já estou acostumado a ir sozinho a essas festas cheias de casais. Minha noite vai ser um porre. Boa noite, Ellen.

Tive pena dele. Christopher era sozinho, como eu estava desde a perda de Liz e a prisão injusta de André. Eu entendia como era ter que passar por coisas que geralmente se faz com alguém que você goste, e ter de fazê-lo sozinho. Ele estava confuso, havia aquela conversa estranha com seu pai e a mágoa que tinha por seu irmão mais velho. Talvez não fosse fazer mal esconder um pouco a minha tristeza e tentar amenizar a dele.

— Christopher, espera! Eu vou com você. Não vamos demorar, não é?

Seus olhos brilharam e ele exibiu um sorriso de tirar o fôlego.

— Não, não vamos, antes que perceba iremos embora. Obrigado, Ellen.

Ele me abraçou apertado e depositou um beijo terno em minha testa, sua barba por fazer fazendo cócegas em minha pele, então se afastou, e tirei rapidamente da mente as comparações sobre o abraço dele e o do André.


A tal festa acontecia em um salão de festas tradicional no centro. O lugar era rodeado por lindas esculturas, um jardim perfeito e uma decoração magnífica! Eu sabia que era um dos lugares mais caros da cidade e por um momento senti-me simples demais para estar lá. Desde o momento em que descemos do carro, as pessoas cumprimentavam Christopher e ele era educado e me apresentava como sua amiga. Cheguei a questioná-lo se não seria melhor apresentar-me como uma funcionária, mas com um sorriso malicioso e nada culpado, disse-me que seria melhor para minha reputação se não o fizesse.

No centro do salão, alguns casais mais jovens dançavam uma música atual e agitada, algumas pessoas conversavam no terraço, e outras, no jardim dos fundos. Os garçons estavam a todo vapor com bandejas de bebidas e petiscos. Tratei de pegar um porque estava faminta, e Christopher fez o mesmo.

SACRIFÍCIO - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora