Capítulo III

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  Chegaram enfim a um abrigo conhecido por Mattew, que carregou seu novo amigo por todo o caminho. Era um galpão para pescadores, sendo muitas vezes onde dormia e fazia suas refeições. Apesar do cheiro de peixe, era seco e confortável. Baehrius foi deitado para recuperar seu estado mental após o trauma e Matt observou-o tempo todo, preocupado.

  Durante a vigia, escutou algo estranho na noite. O garoto dormia e o pescador decidiu investigar sozinho. Abriu a discreta porta lateral do galpão e observou a escuridão afora. Nada além de árvores ao vento e o som das ondas. Sentia-se sonolento e no momento que esfregou seus olhos e bocejou, sentiu um peso no peito e caiu para trás. Um par de mãos esguias fecharam seu pescoço, forçando-o a resistir. Não esperava Nikola neste momento, mas vislumbrou algo muito mais inesperado.

  Uma garota suja e esfarrapada tentava dominá-lo, porém, parecia fraca de tão magra. Com facilidade, empurrou-a para o lado e a situação se reverteu.

  — Quem é você!? — Mattew estava furioso.

  — Kateryn, sou Kateryn! — respondeu a garota, desesperada e submissa — Eu só quero comida!... por favor?

  Baehrius acordou repentinamente com a voz desconhecida e se deparou com a cena. Mesmo perdido, resolveu interferir e pulou em cima de seu amigo, tirando-o de cima da garota esfarrapada.

  — Matt, quem é essa? E que lugar é esse?

  — Calma, garoto. — Mattew estava no chão e tentava acalma-lo, levantando lentamente com suas mãos projetadas a frente. — Esta é minha casa, ou quase isso, e a garota é só uma pedinte.

  — Kateryn! E eu não sou uma pedinte! — Exclamou ela após pular do chão e limpar suas vestes em trapos— Sou uma pirata!

  — Ha! E quem dos teus pais te dá esse titulo? — Mattew se divertia com a situação, afinal, ele mesmo tinha seu próprio navio.

  — Minha mãe é a Capitã Sirene! E ela ainda vai voltar e me dar um de seus muitos barcos!

  —... Pff... MWAHAHAHA! — não se conteve ao gargalhar tão sarcasticamente — Uma cria da Sirene tem menos direito as conquistas dela que qualquer outro pirata. Não seja tola, ela mal deve saber seu nome.

  — E quem é Sirene? — Baehrius continuava perdido.

  — Minha mãe! A maior e mais selvagem pirata desta era. — Kateryn, apesar do visual deplorável, brilhava ao dizer estas palavras e seu orgulho tinha uma bela voz.

  — Ou a maior cadela do mar, se preferir assim. — Mattew provocou-a baixinho, porém foi suficiente para irritá-la.

  A garota novamente se jogou em seu pescoço e o derrubou. Baehrius não se assustou mas também não respondia aos gritos de ajuda de seu amigo que lutava com a garota furiosa. Ela, para o garoto mais novo, tinha um jeito muito peculiar de agir e, de alguma forma, admirava isso.

Um Conto Sobre o Mar, os Barcos Sobre Ele e os Homens Sobre AmbosWhere stories live. Discover now