A reunião - Sohan

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Recebi o memorando da empresa, informando que Kamala havia voltado a integrar o conselho diretor e que estaria presente na próxima reunião de diretoria. Tentei não me emocionar, mas era impossível não ficar apreensivo. Eu estava ansioso pela reunião, apenas para vê-la. Tentei o tempo todo lembrar-me de que ela logo estaria casada.

Também havia a informação de que outro acionista passaria a integrar o conselho diretor da empresa.

" Anik?"

No dia da reunião, eu fiquei muito surpreso quando vi Anik entrar na sala, vestindo terno, ao lado de Kamala. Os dois entraram e sentaram-se à mesa, ao lado um do outro. Meu amigo acenou para mim discretamente e voltou sua atenção à irmã.

Robert deu início à reunião explicando sobre as mudanças que iniciaríamos na empresa. Ele parecia perturbado e um pouco triste. Percebi que ele evitava olhar para Kamala e que os dois pareciam distantes. Robert continuou.

— Como todos os que leram o memorando devem saber, nós estamos recebendo Kamala de volta ao conselho diretor. Seu irmão Anik também passa a integrar este conselho. Como ambos são acionistas, eles têm o direito de pedir intervenção em qualquer mudança relacionada às empresas. Sendo assim, Kamala pede veto ao fechamento da sede indiana.

Todos pareceram surpresos. Houve murmúrios vindo de todas as direções. Robert seguiu friamente:

— Dois dos acionistas querem que as mudanças propostas e estudadas pela presidência e por esta diretoria sejam vetadas. Nós sabemos que sem estas mudanças, os ganhos da empresa diminuirão. Com isso, muitos dos investidores que nós conseguimos nesta gestão nos deixarão. Mahish, nosso principal investidor, já deixou claro que não continuará conosco, caso a matriz indiana não seja fechada e transferida aos Estados Unidos. Nós sabemos que aquela sede é obsoleta e que não faz sentido ela continuar ali. Ainda assim, a senhorita Kamala e o senhor Anik desejam impedir estes avanços. Por este motivo, faz-se necessário que se abra votação em relação a estas propostas. Votarão os três principais acionistas, o presidente, representando os acionistas menores e a diretoria. Podemos começar?

— Antes de começarmos — interrompeu Kamala — eu gostaria de dirigir-me aos meus colegas.

Ela se levantou e caminhou até à frente. Robert sentou-se incomodado.

— As indústrias Rajaram pertencem à minha família há quase três séculos. A empresa nasceu e cresceu dentro de princípios sólidos de respeito aos seres humanos. Minha família é indiana, como são as Indústrias Rajaram. Muitos indianos dependem desta empresa. A economia de um região inteira gira em torno desta indústria. O que estas pessoas farão quando não tiverem mais seus empregos?

Kamala sinalizou para Anik, que levantou-se e conectou o computador a um projetor.

— As fotos que vocês verão a seguir, foram tiradas por mim, durante uma viagem recente à Índia e arredores. Isso é a realidade da maioria das pessoas da região.

Uma série de fotos foram passando pela tela: favelas, crianças e mulheres carregando pedras, pegando comida em lixões, disputando alimentos com urubus, meninas em prostíbulos, meninos desnutridos e doentes, mulheres mutiladas pedindo esmolas nas ruas. As cenas eram tão fortes e brutais que me custou acreditar que Kamala tivesse visto aquilo com seus próprios olhos, me doeu o coração. Então imaginei o quanto aquilo foi marcante para ela. Senti muito orgulho da mulher que eu amava. Kamala continuava falando:

— A pobreza, ela existe no mundo todo e ela é brutal. Nós todos aqui temos vidas confortáveis, ganhamos muito dinheiro graças ao nosso trabalho, graças a esta empresa. Nós sempre tivemos lucros, algumas vezes menores, outras maiores, mas sempre ganhamos muito dinheiro. Não faz sentido sacrificarmos outras pessoas para obtermos ainda mais lucros. Não podemos aceitar que pessoas percam seus empregos, unicamente para que nós, ricos, fiquemos ainda mais ricos.

Os filhos do tigreحيث تعيش القصص. اكتشف الآن