Inimigo protetor

1.3K 95 17
                                    

Já era tarde e todos estavam dormindo. Mandei trazer água quente e colocar em uma tina. Meu gabinete tinha três cômodos, sala de visitas, dormitório e um lavatório. A água na tina estava tão quente que saía fumaça. Joguei nela um óleo perfumado que encontrara em Paris há alguns meses. Não era luxo a capitã tomar banho pelo menos quatro vezes por semana. Na Espanha, tomava-se banho todos os dias, mas na Inglaterra e na França, não. Mesmo sendo francesa, sinceramente preferia a higiene nos espanhóis, ainda mais quando se vivia no mar cercada de homens e a probabilidade de levar um banho de água salgada ou de feder o jantar era imensa.

Deixei uma toalha pendurada perto da tina para poder me secar e me afundei na água quente. Molhei meus cabelos e usei um sabonete com o mesmo perfume que o óleo. Realmente os antigos Mouros espanhóis eram geniais e eu os agradecia por isso.

Quando a água estava quase fria, saí da tina e fui enrolada na toalha até a sala de visitas, que ficava entre o dormitório e o lavatório.

                – Achei que estivesse dormindo. – uma voz profunda saiu dentre as sombras

                – Quem está ai? Saia imediatamente. – tentei ir até uma mesinha onde tinha deixado uma adaga, mas meu pulso foi preso por uma mão forte e a lâmina fria da adaga pressionou meu pescoço.

                – Você é muito descuidada, capitã. Deveria levar uma adaga ou arma consigo.

                – O que é que você está fazendo aqui a essa hora? – segurei a toalha que envolvia meu corpo com uma das mãos e com a outra a adaga que me era devolvida. Era Henry Cavendish.

                – Queria conversar com você. – tirou do bolso uma garrafa de rum e bebeu um gole. – Quer um pouco?

                – Conversar? É um pouco tarde para bater papo, capitão. – bebi um gole e lhe devolvi a garrafa. – O que quer conversar comigo?

                – Quero lhe alertar. James não é quem pensa que é. Eu, ele e Tobias e Rupert estamos de olho na sua frota e na primeira oportunidade algum deles pode te matar.

                – Você acabou de ter uma oportunidade. Não me matou por quê?

                – Eu não faria isso pelas suas costas. Eles fariam.

                – O que temos aqui? Um pirata honrado? Uau.

                – Honro o código e a memória de seu pai, que foi um grande capitão. Isso se chama respeito. Tenho meus princípios, mesmo matando homens e roubando seus bens.

                – Isso não é comum, mesmo. Tem mais alguma coisa para falar comigo?

                – Na verdade, tenho. E é importante. Não posso esperar até amanhã.

                – Então espere eu ir me vestir, pelo menos. – entrei no dormitório e fechei a porta.

Peguei uma camisola longa de seda e um manto preto para vestir. Não ia colocar calça e camisa, ele já tinha me visto de toalha mesmo.

Henry Cavendish

Assim que Quilia se virou e fechou a porta, fui até a porta da sala que dava para o convés e a tranquei. Caminhei até a porta de seu dormitório e a abri sem fazer barulho. Ao que parecia, o dormitório luxuoso do velho Edward contava agora com um toque feminino: ao invés de negras, as cortinas da grande cama de dossel eram de um azul profundo, o chão era agora quase inteiramente coberto com uma tapeçaria felpuda e por todo canto tinham velas aromáticas.

Amor PirataTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang