Capítulo 2

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Capítulo 2

Maio de 2010 – São Paulo – SP

Aillen Kern

Sempre que Juliano, seu futuro marido, era convocado para passar um tempo no mar, Aillen se sentia estranha, como quando um calo dói na mudança de temperatura, possibilitando adivinharem que irá chover. Juliano servia na marinha brasileira há quatro anos, não era nenhum marinheiro de primeira viagem, mesmo assim, odiava suas ausências e temia por sua vida. Principalmente, porque ele não permitia ativa participação dela em sua carreira, mantendo-a distante de seus superiores e colegas. Acreditava, em seus inúmeros devaneios, que ele era mais importante do que revelava e que suas missões eram mais do que vigiar as fronteiras.

Esperava que após seu casamento, programado para dali algumas semanas, ele confiasse e lhe revelasse o que realmente representava para a marinha nacional.

Ela estava acordada ainda, fitando o teto na escuridão da madrugada, pensando com ansiedade que apenas mais alguns dias a separava do homem de sua vida. Faria de tudo para conseguir dispensa na Sancsil, empresa onde trabalhava há alguns anos, para apanhá-lo no aeroporto. A ansiedade não a deixava dormir, nem os pensamentos que vagavam constantemente para os preparativos de seu enlace.

Finalmente, após tantos anos de espera, se tornariam marido e mulher e poderiam fazer tudo o que um casal fazia na lua de mel.

Riu sozinha ao pensar nisso, na primeira vez que ele a tocaria intimamente, e deixou a imaginação e seus desejos a guiarem para um sonho erótico, envolto em véus, grinaldas e muito glacê para bolos.

Despertou sobressaltada ao sentir um toque em seu rosto e piscou algumas vezes ao ter a luz de seu quarto acesa.

― Pai? – Estranhou, esfregando os olhos que pareciam cheios de areia. Ele e sua mãe, Madalena, estavam sentados em sua cama, encarando-a com pesar. – Aconteceu algo?

― Filha, recebemos uma ligação e precisamos que você seja forte... – Começou Marcos.

― Ligação de quem? O que houve? – Murmurou, ajeitando-se sobre o colchão.

Depois de muito hesitarem, finalmente o pai revelou:

― Houve um acidente em alto mar e a embarcação em que o Juliano estava afundou...

A frase a engoliu. A certeza de que Juliano estava morto concretizou-se dois dias depois quando participou da cerimônia belíssima de seu enterro, repleta de pompas, levando o que restava de sua vida.

Nem ao menos uma viúva ela tinha o direito de ser, era apenas a noiva que agora estava sozinha.

Aillen não existia mais. Não sonhava mais. Não sorria mais.

Sua vida afundara com ele naquele navio.


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⏰ Last updated: May 08, 2020 ⏰

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O Cobiçado: Rohan SenWhere stories live. Discover now