Capítulo 3

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Tomei um banho longo e demorado com único intuito de poder chorar tudo o que eu pudesse de baixo daquele chuveiro. O Theo ainda dormia e quando entrei no quarto para me vestir, vi minha mãe deitada em minha cama, lendo um livro. Vesti minha lingerie e pus um vestido de alcinha, me sentando na poltrona para pentear meus cabelos.

— Se você precisar sair, deixa um pouco de leite para o Theo — Ela comentou distraída e eu a fitei.

— Eu preciso me encontrar com ele — Murmurei desanimada.

— Qual o teu medo, Alice? — Minha mãe perguntou, fechando o livro e franzindo a testa para mim — Você não quer perde-lo?

— Eu acho que nunca o tive, mãe... — Lamentei, encolhendo os ombros — E sinceramente, eu não sei do que tenho medo. Acho que é mais vergonha de tudo o que eu fiz...

— Procura por ele e resolve isso de forma amigável, por favor — Ela pediu — Não deixe jamais que a briga de vocês chegue ao Theo. É só o que eu te peço.

— Não vou deixar — Assenti, apertando os lábios e me levantei.


Alguns minutos depois o Theo acordou chorando e eu o coloquei para mamar. Já era início da noite, em torno das sete horas, quando ele adormeceu, e eu decidi que era a hora de procurar pelo Marcelo.


Tirei um pouco de leite antes, peguei minha bolsa, um casaco e calcei uma sandália. Quando cheguei à sala, a Isabela e minha mãe estavam no chão brincando com o Pablo e ele correu até mim, agarrando-se em minhas pernas. Ele havia chegado da escola às seis horas e elas davam-lhe o jantar, enquanto montava algum brinquedo.

— A senhora pode olhar o Theo? — Eu pedi e minha mãe assentiu.

— Programa favorito dela — Isabela falou em ironia e ela sorriu.

— Quero brincar com o primo — O Pablo pediu, esticando os braços para minha mãe pegá-lo no colo.

— Vou indo... — Falei, indicando a porta e minha irmã se levantou, vindo até mim.

— Boa sorte — Ela me abraçou forte — Explica tudo, que ele vai compreender o teu lado, Li. Foi errado, mas não foi por maldade. Não era para prejudicá-lo, era, na ideia, para proteger os dois.


Eu apenas assenti e dei-lhe as costas para ir até a garagem pegar meu carro. Ele estava parado ali há um tempo, mesmo antes de o nascimento do Theo. Entrei, liguei o motor e peguei meu celular, encarando-o cheia de medos. Abri o whatsapp e o vi online.

Alice:
Posso ir até você?

Marcelo:
Vou te mandar um localizador.
Cadê ele?

Alice:
Dormindo.


Ao chegar, avisei na recepção e esperei me autorizarem ir até o seu quarto. Dei duas batidas na porta e imediatamente ela foi aberta, mostrando uma imagem do Marcelo que eu estava acostumada a ver meses atrás. A cena era muito parecida de quando ele e Estela terminaram o namoro e meu coração apertou por ele estar tão mal. Sua feição denotava cansaço, já que suas olheiras eram notórias, além do mais, seus olhos estavam avermelhados, o cabelo bagunçado e sua roupa estar bem amassada. Parecia que ele não dormia há dias, quando na verdade isso só havia começado há menos de doze horas.


Ficamos nos olhando por tempo, que pareceu mais longo do que realmente era e então ele deu um passo para o lado, me permitindo adentrar o seu quarto. Suspirei ao me aproximar da cama e então me virei, vendo-o pegar uma cadeira, que compunha uma mesa, e colocar de frente para mim. Ele se sentou parecendo enraivecido e cruzou os braços, me encarando. Com um gesto de cabeça, ele indicou a beirada da cama e então eu me sentei.

Sem legenda - Parte 2 (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now