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Três dias se passam, e eu e Jason não trocamos mais nem um único cumprimento. Não acreditava que ficaria envergonhada após descobrir o que aconteceu com a mãe dele minutos depois de insultá-lo de não ter família, ou após o que aconteceu quando Bauer descobriu o que seu neto fez a mim. O clima entre nós está estranho, e não é para menos, porque não facilitei sua aceitação. Mas não é como se eu fosse ficar aqui para virar amiga dele.

Se eu estivesse com meus amigos, somente nos alfinetaríamos e logo o assunto cairia no esquecimento; uma concordância de que tudo estava acertado entre nós. Todavia, eu vejo como Jason me olha, e isso me incomoda, porque não sei como reagir com o peso da culpa em provocá-lo tanto. Ele não é como os outros, não vai aceitar um simples tapa nas costas. Mas eu não conseguiria pôr em palavras o que ele deseja.

Bauer conversou comigo sobre a minha impulsividade e meus reflexos em querer executar o que comumente eu faria em uma situação de perigo junto ao meu grupo; alegou não ser bom eu não pensar em meus atos antes de efetuá-los. Ele me explicou que uma ação impulsiva gera frutos irresponsáveis, ou seja, o que seria um pequeno problema se transforma em uma bola de neve.

Roberto me passou dicas para eu perceber esses meus picos de ansiedade e me pediu para praticar, sempre contando até dez e refletindo em por que preciso exercer tal ação. Também me indicou separar um momento para meus pensamentos e refletir sobre a vida que estou levando.

Basicamente, o que ele quis dizer é que devo abandonar meus antigos hábitos e moldá-los em ações benéficas a mim e ao próximo. A começar por não ter língua afiada.

Durante essa primeira sessão, na qual ele falou o que observou em mim nos dois primeiros dias, relatou que eu ajo dessa forma muitas vezes por medo de alguma força maior — e eu não contei a ele sobre Levi nem nenhum detalhe de minha vida lá fora. Explicou também que meus atos vêm de meu inconsciente desejando materializar quem eu suponho que eu deveria ser, porém ele crê que sou muito mais do que uma ladra, a forma como me enxergo.

Com medo de ele descobrir mais alguma coisa, começo a evitá-lo e a passar mais tempo em meu quarto, onde nenhum dos homens me enchem. Silvana, nessa manhã, consegue me tirar de meu esconderijo e convence Bauer de que não me fará mal sair um pouco de casa. Ele, analisando meu progresso em não entrar em conflitos com seu neto e sem mais furtar facas, concorda em me levar para dar uma volta no mercado.

Eu, todavia, usei esses dias para observá-los em suas rotinas — nas horas em que estava com eles — e encontrar um plano melhor do que somente entrar no quarto de Jason e revirá-lo de cima a baixo atrás das chaves. Não desisti da ideia de fugir, mas ela não vai funcionar se eu simplesmente agir por impulso. E ficar discutindo com Jason, apesar de ele ser o dono das chaves, não ajuda meus planos em nada.

Estou esperando do lado de fora da casa pelo sr. Bauer enquanto observo a imensidão do céu azul acima de minha cabeça. Abaixo os olhos e suspiro ao perceber que novamente divaguei, distraída com lembranças e momentos finitos. Meu sorriso se desmancha assim que me recordo de uma das punições de Levi por momentos como esse, de baixar a guarda e ser pega desprevenida.

Algo bate em minha cabeça enquanto observo a cidade no topo de um prédio abandonado diante de nós. Escuto o som de uma arma sendo destravada, o meu corpo gela.

— Quer morrer, Shazad?

— Não — sussurro em resposta.

— Eu não te ouvi. — A voz autoritária dele dispara meu coração. São sempre esse tom e essa maldita arma batendo em minha cabeça; ele me lembrando de como sou fraca. — Está com medo de que eu possa atirar em sua cabeça?

— Levi? — eu o chamo ao virar-me em sua direção e deixo o cano da arma em minha testa na tentativa de não demonstrar medo. Mas ele sabe que é mentira.

O Alumiar do DestinoWhere stories live. Discover now