6

62 12 38
                                    

Ouvi um som diferente vindo do quarto de Jason, ao sair do banheiro para lavar o rosto e ir tomar café. Com estranheza, eu volto para o meu quarto na esperança de flagrar alguma coisa por trás da porta dele. O som era rítmico e acompanhava lufadas de ar, como se ele estivesse fazendo algum esforço. Ele já estaria bebendo a essas horas?

A porta estava parcialmente encostada e eu aproveito para dar um empurrãozinho para enxergar melhor. Pasma, eu não acredito no que os meus olhos viam: Jason estava de pé, vestido com uma calça escura e uma regata branca batendo com perfeição em um saco de boxe em seu quarto. Ele luta?

Minha mente entra em parafuso e eu continuo olhando para conseguir uma explicação, até ele reparar em seu público e fitar os olhos nos meus. Sem cumprimento, ele vem até mim e fecha a porta do quarto e eu aperto meu lábios, por receber uma portada no rosto.

Agora eu não estava entendendo mais nada! Se ele sabe lutar, então facilmente poderia me bater quando quisesse, porém, ele não demonstra esse lado violento nos momentos que eu o enfrentava. Muito pelo contrário, Jason fugia de mim!

Nada fazia sentido, e eu passo a mão no meu cabelo, bagunçando os meus pensamentos. Eu teria que falar com ele pessoalmente para entender a respeito daquilo. Com as roupas trocadas, eu além de ir para a cozinha, como planejava, saio pela porta de entrada e vou para o pomar, marcar mais um dia iniciado com a faca roubada. Aquele era o terceiro dia, mas parecia que havia se passado muito mais com as inúmeras horas vagas, cujos momentos eu não os preenchia mais com planos para furtar bancos ou dinheiro mais fácil em pessoas em mercados ou em qualquer outro lugar público.

— Então foi para cá que tu fugiste? — Depois de minutos longe de casa, Bauer me encontra. — Não está com fome hoje?

— Eu aprendi a lidar com os meus desejos de precisar comer toda hora — respondo olhando para cima, pois estava sentada no chão e encostada em um tronco. Eu sentia a fome apertar, mas não daria o braço a torcer.

Ele se senta ao meu lado, observando toda a extensão de seu terreno, dali conseguia ver tudo e muito mais. Uma paisagem linda para quem desejava repousar. E depois dele admirar sua casa, responde:

— Shazad, você não está mais nas ruas, pode se alimentar quando sentir fome, ninguém irá te impedir — ele olha para mim, esperando por um sorriso e gratidão por ter alguém cuidando de mim. Mas a questão é: eu já tenho que faça isso por mim. Não preciso se terceiros.

— Eu não passava fome, quando estava com meu grupo — argumento com o propósito de lhe mostrar que aquela generosidade a mim não significava nada. Não me comprariam fácil assim.

— Mas pretende passar aqui?

Eu não respondo e desvio o olhar, fazendo-o perceber que eu não falaria mais nada. Por fim, se põe novamente em pé e se despede, me deixando sozinha. Pensei em chamá-lo e perguntar onde ficava a adega de sua casa, mas eu não queria prolongar muito a conversa.

Vejo-o entrar na casa e Jason sair, caminhando em direção ao estábulo com outras vestes, iniciando a sua rotina matinal. Não que eu a saiba por completo, mas a monotonia do lugar te faz prestar atenção nesses detalhes. Pelas manhãs, Jason quem cuida dos animais, colhe das verduras, frutas dos pés e as entrega para Bauer, que liga a alguém e vão para a cidade. Ele as vende todas. Acho que era assim que sobrevivia, junto com a sua aposentadoria.

Aquilo era tão diferente da minha vida. Eles já sabiam o que fariam no dia seguinte e no próximo, na semana que viria, o mês posterior... Aquela família vivia dentro de um estilo bem simples e regrado, sem falhas ou desesperos, caso algo fugisse do controle. Bem contrário ao que eu luto diariamente para ter.

O Alumiar do DestinoWhere stories live. Discover now