Capítulo 1

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Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
por amor.

- Clarice Lispector.

Alexis Blair P.O.V

Eu não sabia claramente dizer qual era bem o conceito de uma família certa, nem muito menos de uma vida normal. Quero dizer, não que a minha vida não fosse, ela só era... digamos que um pouco perdida.

Desde que eu e meu pai nos mudamos para Westforest depois da morte da mamãe, tecnicamente fora para acalmar os nervos e tentar recomeçar do zero, mas parece que havia piorado. Era uma cidade grande comparada a Cityside, onde morávamos como uma família normal, não que não fossemos. Mas o papai agora andava mais disperso, afastado.

Tinha uma vantagem nisso tudo, não teria que acordar tão cedo para vir para Westforest para estudar, morava quase do lado da escola agora - e era grata por isso. Desde que nos mudamos meu pai aparenta não ter acordado do transe de termos perdido a mamãe, estava afogado em dívidas de apostas, fora demitido semana passada e para variar, bebe cada dia mais. Tento manter minha postura de garota sensata e que estou me dando bem com a perda e a dor, mas a verdade é que não. Só estou mantendo essa postura para que não apavore ainda mais meu pai. Já cheguei a pensar numa noite quanto tempo demoraria para ouvir a campainha tocar e eu ter a notícia que meu pai estava morto.

Havia conseguido um emprego em um bordel. Não, eu não me prostituo, apenas toco num velho piano em busca de alguns trocados no final da noite. Sabia que, nos olhos de outras pessoas aquilo era errado, e que se meu pai descobrisse me deixaria uma semana ou até meses sem nem poder sair de casa. A Sra. Mercedes sabia da minha história, ela fora uma grande amiga da minha mãe e acabou me dando esse emprego.

- Aqui, querida. - disse a Sra. Mercedes me entregando um pequeno envelope marrom.

- Obrigada. - disse pegando o mesmo e enfiando no fundo da minha bolsa.

- Tenha uma boa noite. - disse.

- Você também. - devolvi seu sorriso cativante e ajudei o Phill a erguer algumas cadeiras sobre as mesas.

- Boa noite, Ali. - disse o Phil, ele parecia cansado.

- Te vejo por aí. - disse.

Parei em frente a entrada e respirei fundo como era de costume. Segui em direção a minha casa. Ela não era lá essas coisas, mas podia chamar de lar. Peguei a chave debaixo do vaso e destranquei a trava. Encontrei meu pai sentado em sua poltrona com algumas latas de cerveja do lado e a TV ligada. Peguei uma coberta e a coloquei até a altura de sua cintura, desliguei a televisão e subi as escadas devagar.

Fechei a porta do meu quarto, logo abri minha bolsa e tirei o pequeno envelope, contei o dinheiro e coloquei metade dentro do pote que escondia no fundo do guarda-roupa.

- Pronto. - disse enquanto fechava a tampa do pote. - Faltam mais 765 dólars, sem mais dívidas. - falei a mim mesma.

Pus o pote no seu lugar e tirei meus sapatos me jogando na cama. Nem me importei em ver se meu pai tinha guardado meu jantar em algum lugar da cozinha. Fechei meus olhos e adormeci com a mão na pequena Rubby.

[...]

Acordei com uma sensação boa, sempre acordava antes que o despertador pudesse fazer isso. Entrei no banheiro e fiz minha higienes matinais e logo desci para fazer um café.

- Acordado essa hora? - perguntei ao meu pai dando-lhe um abraço rápido. Ele coçou a cabeça e sorriu confiante. - Onde vai? - perguntei de novo.

- Tenho uma entrevista de emprego na nova fábrica de tecidos. Eles ganham bem. Fiz seu café, tenha uma boa aula, querida. - disse e me deu um beijo no topo da cabeça. - Ah! Quase esqueci, talvez eu não volte para o jantar. Espero que dê para você desenrolar sem mim. - disse com a mão sobre a maçaneta.

- Está tudo bem, boa sorte pai. - disse e peguei um pedaço do pão e coloquei na boca.

Terminei de comer e pus minha mochila nas costas sem antes colocar comida para pequena Rubby.

- Logo logo estou de volta. - disse recebendo um "miau" da mesma.

[...]

O Professor gritava para que os alunos paressem de jogar petecas e prestassem atenção na explicação.

- Alexis. - chamou a Amber entrando na sala de aula séria. - Te liguei ontem a noite toda e você não atendeu, aconteceu alguma coisa? - perguntou visivelmente preocupada.

- Não, Amber não aconteceu nada. Eu só... a bateria tinha acabado. - disse.

- Tudo bem. A propósito, o Shawn voltou da suspensão. - franzi o nariz e fiz cara de manhosa.

Shawn Mendes é, literalmente, a pessoa mais calculista, idiota, insensível, irritante e irresistível que eu conheço, um porre em pessoa.

- Semana passada foi tão bom sem ele aqui. - disse me virando para ficar de frente com ela.

Dito isso, a porta da sala foi escancarada onde Shawn e seus amigos babacas entraram - sempre atrasados, a aula já estava prestes a acabar. Ele me olhou com repulsa e eu apenas lancei um sorriso de escárnio, o que o deixou enfurecido. Ele veio na minha direção e parou na minha frente.

- Você vai pagar por tudo que fez. - disse com o dedo no meio do meu rosto.

- Uma suspensãozinha, e já está assim? - perguntei com ironia.

- Garanto que a próxima vai a sua, Srta. Blair.

- Quem muito atira perde o alvo principal, Mendes. - disse e sorri de lado. - Cuidado.

Eu deixo vocês dizerem que somos infantis por brigarem iguais a duas crianças, mas não posso negar de que essa intriga venha desde que nos conhecemos, tínhamos entre 5 à 8 anos. A Amber era o tipo de mãezona quando eu brigava com o Shawn, ou seja, todos os dias. Mas sempre acabava rindo depois. E para terminar, o inútil era meu vizinho, olha que maravilha! Se a irmã dele não fosse minha melhor amiga...

- Quer falar mais alguma coisa? - perguntei quando já podia ver os alunos saindo da sala depois do toque.

- Já disse tudo que tinha para falar, Hermione. - me deu uma piscadela depois de uma risada debochada.

Ele passou por mim deixando seu perfume marcante e no fundo o tilintar dos seus dedos sobre minha cardeira.

Like To Be You II S.MWhere stories live. Discover now