Parte 2

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...

Enquanto o ar parecia finalmente retornar a seus pulmões, as lágrimas pareciam querer sair de Emily como uma avalanche, empapando seu rosto, os lençóis e os travesseiros e inundando-a de tristeza.

Fora um sonho. Uma vez mais, fora só sua mente lhe pregando peças. Uma vez mais despertara e só restava dor e saudade. Não podia acreditar. Não podia conformar-se. Havia sido tão real. Maldita cabeça que parecia unir lembranças do passado com Alison com desejos de um futuro ao lado dela e fazer sonhos tão incrivelmente reais que faziam Emily ter certeza de que nunca amaria ninguém como amava Alison.

Enrolou-se consigo mesma, como uma tartaruga dentro de seu casco, recolheu-se a seus desejos mais íntimos e a suas tristezas mais profundas. Fechou os olhos. Não queria mais lembrar, não queria mais pensar, não queria mais sofrer. Mas queria Alison. O que fazer para esquecer? Seria capaz de esquecer? Ou melhor... queria realmente esquecer?

...

Quando acordou na manhã seguinte, Emily mal podia abrir os olhos, inchados pelo rio de lágrimas que havia chorado durante a madrugada. Seu corpo ainda ardia naquele calor infernal que o sonho íntimo com Alison havia deixado. Impregnado em sua pele, assim como aquele amor. Levantou-se, pois não havia mais o que fazer e tampouco tinha uma desculpa decente para não descer para tomar café com seus pais.

Dirigiu-se ao banheiro sentindo-se suja, pois não tomara banho na noite anterior, mas, ao mesmo tempo, seu corpo relutava em banhar-se. Afinal de contas, ali estavam resquícios dela, bom, de um sonho com Alison, mas ainda assim, era o mais próximo que Emily tinha de sentir Alison sua, daquela forma tão íntima, tão crua, tão forte.

Surpreendeu-se ao perceber que enquanto a água fria escorria por seu corpo quente, parecia começar a sentir-se melhor, quem sabe um pouco menos triste, ou um pouco menos angustiada. Talvez fosse seu coração dizendo que alimentar-se de devaneios só destrói pouco a pouco quem disso vive. E Emily não queria devaneios. Não queria sonhos que, ao despertar-se, pareciam pesadelos; não queria sonhos que se desfaziam quando ela abria os olhos e a traziam para a crua, fria e dura realidade. Alison não estava com ela. E talvez nunca estaria.

Juntou-se com seus pais para o café da manhã quase uma hora depois. Pam, sua mãe, já havia chamado pelo nome dela umas 5 vezes quando a morena realmente decidiu descer as escadas e dirigir-se à mesa já posta pela mãe.

- Emily, eu chamei diversas vezes – reclamou Pam.

- Pam, está tudo bem – falou o Sr. Fields acariciando a mão da esposa – Emily não é mais uma adolescente. Dormiu bem, meu anjo?

- Na verdade, não. Mas vou ficar bem. Obrigada, papai.

O senhor e a senhora Fields pensaram e tentaram algumas vezes abordar qualquer assunto na mesa do café da manhã, mas a única coisa que conseguiram foi que Emily comentasse alguma notícia que havia passado no jornal numas das últimas manhãs. Eles queriam saber como a filha estava, queriam que ela lhes contasse um pouco de todos esses anos na faculdade, das experiências, do que aprendeu, de seus relacionamentos. Mas não sabiam como conversar sobre isso, pois não sabiam se Emily estava aberta e disposta a conversar sobre qualquer coisa.

Comeram mais ou menos em silêncio. A mãe de Emily passava ovos e bacon para lá e para cá, no entanto, ela apenas provou um pouco de cada coisa, nada que se pudesse considerar uma refeição, mais parecido a um cumprimento de protocolo: a refeição da manhã.

Deveria estar com fome, pensou Emily consigo mesma. Não comia desde o dia anterior. Na verdade, desde a manhã do dia anterior. Deveria esta faminta. Mas não estava. Só sentia um enorme cansaço de uma noite mal dormida e uma vontade enorme de desistir, porque, de verdade, para todo canto que olhava não parecia haver nenhuma brecha, uma gaveta entreaberta, um baú destrancado, onde pudesse abrir e encontrar a alegria que há tanto havia perdido.

Eu escolho Paris (emison)Where stories live. Discover now