Capítulo 5 - A Festa

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A semana seguinte passou com um misto de dormência e ansiedade para Mikaela. Ela se sentia dormente cada vez que se lembrava do encontro que teve com Taylor – o nome ficara gravado na sua mente como a tatuagem que fizera com Vivien ficou gravada na pele de seu braço – e que não havia conseguido descobrir mais nada dele além do nome.

Se sentia ansiosa e um pouco enjoada quando se lembrava que a festa de aniversário estava chegando e toda a família dela estava vindo. E quando ela pensava em toda família, era isso mesmo que a deixava ansiosa: a família da mãe viria, ela bem sabia que todos os ciganos estavam acampados ali perto, mas somente os seus avós e os avós de Vivien compareceriam na festa, e a família do pai já estava lá quando elas voltaram de Las Vegas. O que foi bom por um lado, assim ela não tinha muito tempo para pensar nele, mas a avó a deixava especialmente ansiosa sempre falando que ela precisava criar raízes em algum lugar, que deveria se casar, ter uma família, já que não pensava em entrar pra faculdade. A resposta era sempre a mesma, ("casamento não é pra mim", "não sou igual ao meu pai", "sou feliz assim, se não estiver mais feliz, a senhora será a primeira a saber") mas ela não estava mais convencida de que isso era verdade, de que podia continuar sendo feliz sem ele.

- Mika, volta pra terra! - Vivien chamava a amiga há 5 minutos, coisa comum nesses últimos dias.

- O quê? - ela olha para a amiga e entende que estava perdida em pensamentos novamente – Desculpa, Vivi, tá difícil me concentrar. O que a gente ainda precisa fazer, além de tentar manter meus avós o mais longe possível uns dos outros?

- Eu diria que essa já é uma tarefa quase impossível com eles vivendo no mesmo país, imagina estando na mesma vizinhança como agora? De qualquer maneira, eu acho que se a gente dividir desse jeito, a gente consegue que todos fiquem felizes e longe um do outro. Mesmo porque sua avó paterna disse que não pretende ficar próximo dos seus avós maternos, então estamos com alguma vantagem. Agora a gente precisa ir ver os doces...

- Com isso você não precisa se preocupar, já disse que eu vou preparar essa parte, sua mãe fez tanta questão de contratar o buffet pra fazer toda a comida da festa então pelo menos disso eu vou cuidar. É bom que já me acostumo a cozinhar pra tanta gente assim.

A tentativa de Vivien de distrair Mikaela do encontro dela em Las Vegas dá certo e elas continuam conversando a respeito da preparação para a festa. Apesar de a amiga negar, Vivien sabe que aquele encontro a deixou abalada. Não sabia como ela reagiria e também não queria entrar nesse assunto. Não por enquanto. A festa delas estava próxima e também o "aniversário" dos pais e sempre nessa época Mikaela se fechava como uma concha em relação ao que planejava para o futuro. Tudo que ela podia fazer era dar tempo para Mikaela e esperar para saber o que aconteceria dali para frente.

O fim de semana se aproximou com uma velocidade inacreditável, Mikaela se dividia entre as famílias e terminar de preparar os doces para a festa delas, incluindo o bolo. A avó materna queria ajudar, mas Mikaela recusou. Tudo que ela queria era que eles se divertissem e fizessem companhia pra os avós de Vivien.

A festa não teria nada demais, era apenas uma reunião das famílias. O grande problema era o tamanho das famílias. E todos fizeram questão de estar presentes para a celebração. Mas, como Joan previa, tudo foi de uma calmaria que elas nunca acharam possível em se tratando da família de ciganos. E todos os convidados que estavam presentes não paravam de falar sobre os doces preparados por Mikaela, principalmente a tortilha.

- Mika, querida, você se superou! Conseguiu fazer uma tortilha melhor do que a minha! - a avó de Vivien se deliciava com o doce, receita dada por ela para Mikaela.

- A tortilha da senhora consegue ser a melhor de todas! Não tem como superar a sua história, vovó.

- Isso mesmo, Vivi. É a senhora mesmo que diz que uma tortilha do cigano Húngaro Rigo Jancsi sem uma história de amor é só mais um doce sem graça. Meu doce é só isso, um doce sem graça, não tem nenhuma história de amor junto com ele.

Vivien abraça a amiga e cochicha em seu ouvido.

- A história existe, você só não conta pra ninguém por enquanto.

Mikaela a olha com ternura e um certo medo, pois sabe que a amiga tem razão. Mas logo ela é tirada desse pensamento pela avó paterna que não sabe da história.

- Como assim, querida? Do que é que elas estão falando?

- Diz-se entre os ciganos que somente uma mulher apaixonada pode fazer esse doce e oferecer aos convidados no dia do seu casamento, contando sua história de amor, já que esse era o doce preferido do cigano Húngaro Rigo Jancsi que raptou uma princesa por amor e a conquistou presenteando sua amada com ele. Foi o doce oferecido no casamento dos dois. - a avó de Vivien contava a história e olhava para a filha, Joan, com ternura - Eu fiz esse doce para conquistar meu marido, o cigano mais lindo que jamais tinha visto. Meu pai não queria que eu me casasse com ele, já que era um homem mais velho que eu e de um outro acampamento, mas nos apaixonamos perdidamente. Ficamos nos encontrando em segredo por meses, os pais dele queriam que nos casássemos, então eu enfrentei meus pais e disse que se eles não nos dessem a benção, eu fugiria com ele. Meu pai acabou concordando depois que eu fugi de casa. Ele me procurou no acampamento dos pais do meu marido e disse que acreditava que eu não o amava o suficiente, mas que provei que amava sim. Depois eu ensinei minha filha a fazer o doce e de como ele pode ajudar a conquistar o seu verdadeiro amor, ela deve ter feito para o marido também, é só olhar para os dois e ver que eles também se amam.

Joan fica emocionada com a confissão da mãe e começa a chorar. Vivien e Mikaela riem e abraçam-na, emocionadas com a história contada pela avó de Vivien.

A felicidade de Mikaela estava quase completa: a família estava reunida, todos aprovaram seus doces e algo em seu coração lhe dizia que o reencontro com ele não estava longe de acontecer. Só faltavam seus pais. Mas sabia que eles estavam olhando por ela, de onde quer que estivessem.

Os dias se seguiram quase arrastados para Taylor. Ele não sabia nada sobre ela, só que a garota loira a chamou de Mika. Mika. Conseguiu identificar também um leve sotaque da... Não conseguia localizar de onde era... Mas agora sabia que ela era real e que ela se lembrava dele. Não conseguia dizer como, mas sabia que ela também estava sonhando com ele.

Mas o que ele precisava fazer mesmo era se concentrar nas aulas e, principalmente, fazer Dylan parar de perturbar.

- Cara, já disse um milhão de vezes que a culpa não foi sua. Nem da sua avó, antes que você recomece com essa ladainha! A gente tinha que ir embora e fomos embora. Agora esquece isso, já tá difícil me concentrar do jeito que tá e você não tá ajudando em nada falando disso toda hora.

- Eu sei, mas tô me sentindo culpado por ter te arrastado de lá desse jeito. E agora você nem sabe o nome dela!

Taylor segura o amigo pelos ombros e diz da forma mais calma que consegue.

- Para de falar sobre isso! Eu já disse que ouvi a amiga chamando-a de Mika, por enquanto é tudo que vou conseguir descobrir! E se eu não estudar igual um camelo nos próximos dias, tudo que vou conseguir saber é isso mesmo. Com minhas notas é capaz do maestro fazer picadinho de Taylor Hanson e servir no próximo almoço.

- Tá, entendi, eu vou ficar quieto. Você não precisa fazer essa cara de louco.

Dylan deixa Taylor voltar pros estudos e ele tenta se concentrar nisso enquanto rabisca no caderno. Quando olha para os rabiscos percebe que desenhou os olhos dela. Ele só consegue sorrir diante da lembrança da sua voz e de como foi sentir a pele dela e seu cheiro que continuava igual ao dos sonhos.

Logo ele foi arrancado de seus devaneios pelo amigo que estava avisando-o do horário da aula. Fechou o caderno com o desenho, pegou suas coisas e saiu. Durante a aula, Taylor não percebeu, mas o amigo viu que ele continuou a desenhar e terminou o rosto. Ele imediatamente reconheceu o rosto do encontro. Dylan tinha visto o rosto dela muito rapidamente, mas sabia que era a mesma garota dos sonhos que ele vinha tendo. De volta no dormitório ele esperou Taylor sair do quarto para fotografar o desenho do caderno. Ainda não sabia como, mas iria descobrir quem era ela.

Outro TempoWhere stories live. Discover now