O sábado da Festa Junina parecia interminável.
Depois do ocorrido com o Joel, Renan o levou até a mesa dos pais para descansar. Ele estava abalado, mas disse que se sentia mil vezes melhor por ter colocado pra fora tudo o que pensava. Nós não sabíamos dos detalhes da sua saúde, física e mental, mas deu pra ter uma ideia de como as coisas haviam ficado depois que ele entrara em coma no ano anterior. Deixamos que ele tentasse relevar a situação naquela hora, porém, com a certeza de que poderíamos conversar sobre esses pontos importantes mais tarde.
— Valeu, velho. — ele agradeceu o Renan e se virou pra nós dois, já sentado na mesa com os pais e batendo o punho no lado esquerdo do peito. — Cês dois tão aqui.
Renan sorriu.
— A gente sabe. Relaxa, gordinho.
Joel subiu o dedo do meio pra ele, também sorrindo, e era nossa deixa para sair de perto.
— Vou procurar meu pai — Renan me disse enquanto andávamos entre as mesas na quadra descoberta. Levantei as sobrancelhas e ele revirou os olhos. — É, ele veio. Disse que quer que eu passe o fim de semana com ele, sei lá pra quê. E é bom que não tenha trago aquele embuste da "namorada" para a minha escola de novo.
— E você vai? Passar o resto do fim de semana com seu pai? — questionei, curioso. Renan subiu os ombros.
— Não sei. Não tô a fim, mas minha mãe também insistiu. Parece que ele vai viajar o resto do mês e tal, e daí não vai estar aqui no meu aniversário, então sei lá, acho que quer compensar agora. — ele bufou, cínico. — Compensar por ter ficado os seis meses passados só trocando mensagens no whatsapp perguntando como estava indo no colégio ou se a mesada era o suficiente.
— Pelo menos agora ele quer fazer isso pessoalmente... — também levantei os ombros e o Renan forçou a expressão de impaciência na minha direção.
— Eu me jogo do carro se a primeira pergunta que ele me fizer for sobre a escola. — ele fez uma pausa desnecessária e abaixou a voz um pouco. — Mesmo porque a resposta não vai ser lá muito satisfatória...
— Renan! — paramos entre duas mesas vazias. Ele se escorou numa das cadeiras e revirou os olhos na minha direção. — Não me diga que você pegou recuperação no meio do ano? De novo?!
— Tá, então não digo.
Arqueei as sobrancelhas, me sentindo ultrajado. Eu tinha me esforçado ao máximo nas últimas semanas para me safar da recuperação, e o boletim do Renan não estava tão ruim que não pudesse ser consertado. Mas ele não tinha pedido ajuda alguma, ou sequer comentado o fato, então eu... Egoisticamente me preocupei só comigo, é claro.
Um primor de amigo esse que você é, Daniel Henrique.
Fiquei realmente sem palavras, porque isso significava que ele não teria férias direito, e no ano anterior ele já tinha pego recuperação, e não viajara, e não aproveitara nada...
— Bem, saberemos semana que vem. — ele concluiu a questão, desviando nosso pensamento para outra coisa em seguida: — E aí? Seus pais estão aqui, né? Onde?
Balancei a cabeça, ignorando a mudança brusca de assunto.
— Não sei, vou procurar também...
Ele assentiu, apertou meu braço de leve e disse que nos encontraríamos depois, me deixando sozinho na quadra. Não demorei muito para achar a mesa dos meus parentes — principalmente porque eles tinham juntado três delas. Havia uma dezena de cadeiras e outra infinidade de latinhas de cerveja ao redor. Meus tios e meu pai estavam rindo de algo, gargalhando, a voz no último volume, ultrapassando a mixagem de som que o DJ fazia alguns metros dali.
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Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}
Teen FictionO último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte, quem sabe, fazer Daniel Henrique ter um verdadeiro ataque cardíaco de estresse. Isso o pouparia de muita coisa, sério... Mas o que tinha t...