Capítulo 24: Samurai

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Japão, Terra

903 d.C.

Os getas de Minato batiam na terra da estrada, contudo faziam tanto barulho, que parecia que estava andando sobre pedras dentro de uma caverna. Assim que entrou no vilarejo, os olhos de todos os passantes viraram-se para ele, afinal, conheciam seus robes negros e suas katanas, uma longa e uma curta, ambas presas ao lado direito de seu corpo formando um X.

Seu coque estava bem preso e nenhum de seus fios de cabelo preto estava desgrenhado, como se ele não tivesse acabado de se livrar de alguns bandidos no caminho até ali. Minato não matava sem motivo ou sem ser contratado para isso, mas os bandidos haviam matado seu cavalo, o garanhão Hayaide. Então, ele cortou cada um deles e deixou suas carnes a beira da estrada para os corvos.

Ao contrário dos outros Samurais, Minato não usava armadura ou respondia aos militares do Imperador Daigo; de fato, um dia ele pertenceu aos Exércitos Imperiais, mas há mais de dez anos que ele desertara. Suas habilidades com a katana eram lendárias e por isso não foi difícil ganhar a vida como mercenário, trabalhando para clãs, principalmente para o clã Ronyama, um dos mais ricos do país.

Ele arrastava um saco de pano manchado de sangue, que já estava seco há algum tempo, no fundo. Fazia dois dias que tinha parado de deixar rastros pelo caminho. O vilarejo ficava a beira de um morro, que era mais alto do que o resto da vila, mas não grande o bastante para ser considerado uma montanha. No topo dele, um casarão de três andares, com dragões nas quinas dos tetos, fitando as pessoas abaixo com desdém, como se ele fosse superior a todos os humanos.

Minato foi até essa casa e entrou sem bater. Havia outro samurai, um homem duas vezes mais alto e musculoso que Minato. Seus olhos eram negros e sua cabeça careca. Seus robes eram de um vinho sombrio combinado com um azul marinho profundo – as cores do clã Ronyama. Ele sabia que este era o porteiro, estava ali para impedir que as pessoas do vilarejo incomodassem Eiichi Ronyama, o líder do clã. O samurai não impediu Minato, afinal, ele era a melhor espada que Eiichi tinha contratado.

Encontrou o líder do clã, um senhor cujo corpo, apesar das rugas, era forte, ajoelhado diante de uma estátua do antigo deus Susanoo, uma entidade mitológica que há muito tempo não era adorada pelos japoneses. Seu corpo estava rijo, como se ele esperasse um ataque a qualquer momento. Se Eiichi notou a presença de Minato, não demonstrou; e ele sabia que não deveria entregar seu pacote diante das estátuas dele, isto é, se não quisesse ser exterminado por cem homens que ele enviaria atrás dele.

Eiichi levantou-se. Não era mais alto do que o peito de Minato, mas ainda assim, era capaz de botar medo em todos os moradores do vilarejo e da maioria das pessoas da província.

– Mesmo que você não acredite, os antigos deuses são tão reais quanto os novos. – Minato sabia que ele se referia ao Budismo, uma religião que se espalhou pelo Japão nos últimos séculos. – Mas os métodos deles são muito mais rústicos, se é que me entende, Tanizawa-san.

Enquanto falava, Eiichi guiou-o por alguns corredores que margeavam um jardim cheio de flores coloridas, muitas que vinham do estrangeiro. Duas shōji feitas com madeira nobre foram abertas por um serviçal e os dois entraram. Ficaram sozinhos em seguida.

Minato lançou o saco de pano no chão. Com o impacto, seu conteúdo rolou até os pés de Eiichi, que estava diante dele. O contratante fitou a cabeça arrancada de seu maior adversário, o líder do clã Aoumi. Sorriu imediatamente, satisfeito.

– Foi uma tarefa difícil? – Perguntou, num tom sarcástico; apenas o olhar de Minato respondeu a pergunta. – Bem, de qualquer forma, preciso que fique na cidade. Logo, logo terei uma missão de extrema importância para você.

Afterlife: HeartlessWhere stories live. Discover now