Nós temos um monte de fiéis famintos.

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We've got a lot of starving faithful

Abandonei minhas chaves sobre a mesa da cozinha. Suspirei sentindo a dor queimar-me o peito. À ponta da mesa minha mãe; uma taça de vinho e o telefone ao lado do objeto. Fechei os olhos e prendi a respiração por alguns segundos.

–Me desculpe. – Sussurrei.

A mulher tinha seu olhar fixo na pintura da parede. Chegamos há dez minutos e a mais velha não tinha sequer olhado para mim e meu pai. Não sabia se o homem estava infeliz, feliz ou somente orgulhoso. Seu sorriso indicava o pleno orgulho.

–Kim. – Chamou meu pai, mas suas orbes escuras e sem brilho não se dignaram em mover-se. Nos dê licença, precisamos conversar. – Meu pai arqueou as sobrancelhas.

–Não vou permitir que o castigue pelo que fez.

–A decisão não é sua, saia.

O mais velho atirou a chave do carro sobre a mesa, subindo as escadas para seu quarto. Mordi o lábio, segurando as lágrimas teimosas que queriam queimar-me o rosto.

–Eu não entendo você. – Começou. – O que você é? – Indagou com a voz embargada.

–Um hipócrita. – A respondi, deixando a mulher surpresa. – Eu não sei o que deu em mim, mãe. – A mulher respirou fundo. – Por favor... – A senhora sorriu fraco, pedindo para que eu me sentasse ao seu lado.

–Eu e seu pai não queremos e não aceitamos que você seja o que diz ser.

–Gay? – Murmurei, a mulher engoliu em seco.

–É... essa coisa. – Disse um pouco atordoada. – Continuando... – Batucou os dedos sobre a mesa. – Não é porque nós achamos errado e doentio o que você sempre diz ser, que apoiemos violência. – meus lábios tremeram. – Na verdade, seu pai apoia. Ele realmente acha que a cura é uma surra bem dada. Já eu, acredito que a cura seja Deus, mas isso não vem ao caso! Não é porque é errado ser homossexual que você deve bater em um.

Fechei meus olhos com força e, então, as lágrimas escorreram e umedeceram minha pele. De minhas bochechas até o meu pescoço.

–Ser gay n-não é errado mãe! – Exclamei entre o choro.

–Então por quê bateu em um? EM DOIS? – A mais velha elevou o tom de voz, me deixando assustado. – Seu pai teve de ir à delegacia, Namjoon! – Levantei a cabeça, abri os olhos entre as lágrimas demonstrando minha raiva.

–VOCÊ ACHA QUE EU LIGO PRA ISSO? – Esbravejei, a morena se assustou. – VOCÊ ACHA QUE EU ME IMPORTO COM O QUE VOCÊ OU AQUELE MERDA ACHAM QUE SEJA A "CURA" PARA O MEU "PROBLEMA"? – Me levantei com tanta braveza que a cadeira caiu no chão. – EU ESTOU POUCO ME FODENDO PARA A CURA QUE VOCÊS ACHAM QUE EU PRECISO!

–Kim Namjoon, eu sou sua mãe. – Falou firme mas com temor no olhar. Meu coração acelerou, e em meio as lágrimas eu ri sarcástico. Eu não suportava mais aquilo!

–E consegue ser mais burra e ignorante que eu. – Sequei minhas lágrimas. – Eu fui hipócrita ok? Eu fui estúpido, eu fui burro, muito burro! Eu fiz algo que eu ODEIO que façam comigo, eu fiz o que eu sempre pensei ser errado pra um caralho! – Minha mãe me olhava com os olhos transbordando em lágrimas. – Mas eu pergunto pra ti, agora, se acha essa atitude tão imbecil e errada por que NUNCA parou o meu pai, o seu marido, quando ele foi me bater?

Eu nunca me orgulhei de tudo o que acontecera naquela noite. Foram muitos erros em poucas horas. Hoje eu leio as postagens nas redes sociais e eu vejo total sentido quando as pessoas chamam os agressores de hipócritas, de meras pessoas escondendo o que são e com raiva de quem tem orgulho de mostrar e ser quem é.

.take me to churchWhere stories live. Discover now