Lembranças

4 1 0
                                    


Acordei com a gritaria de pessoas na rua. O que estaria acontecendo lá fora? Levantei e fui até a janela. Parecia uma tempestade chegando.

̶ Tudo isso por causa de uma chuva? ̶ Sussurrei para mim mesmo.

Ignorei o que acontecia no exterior e fui calmamente até meu banheiro. Liguei o chuveiro em uma temperatura morna e tomei meu banho.

Assim que terminei de lavar-me peguei minha toalha e fui me vestir.

Abri meu closet e comecei a procurar algo para colocar. Parei em frente a uma pilha de roupas consideradas delicadas e femininas. Lembrei-me de quando usava isto.

̶ Ele ainda estava... ̶ Em meio a minha fala sinto algo molhado cair pelo meu rosto, uma lágrima? Sequei-a rapidamente e continuei a procura de algo para pôr.

Depois de me vestir fui até minha penteadeira. Soltei meus cabelos, que havia prendido para não molhar durante o banho. Observei meu reflexo por alguns segundos. Meu cabelo vinha até o ombro. Havia o deixado crescer, pois ele disse que o achava bonito comprido. Por um momento pude sentir suas mãos passando por meus cabelos. Novamente senti lágrimas caírem pelo meu rosto.

̶ Por que está doendo de novo? ̶ Perguntei a mim mesmo enquanto a água escorria de meus olhos. ̶ Sou uma pessoa tão fraca assim? ̶ Naquele momento ouvi um fraco barulho de um raio. ̶ Chega de chorar... Isso já passou. Retome-se! ̶ Falei em tom bravo na tentativa de me acalmar, não surtiu muito efeito, então concentrei-me por alguns minutos até parar de chorar.

Depois de retomar-me fui em direção à cozinha pegar algo para comer, no meio do caminho o telefone toca e vou atendê-lo.

— Alô? Quem fala?

— Oi! Sou eu, sua irmã.

— Ah, oi. Por que ligou?

— Vi no noticiário a tempestade que está se formando aí e liguei para saber se você está bem... – Sua voz parecia preocupada.

— Estou bem, não se preocupe, não é tudo isso que estão falando. — Falei em tom seco.

— Ok então, se cuide, te amo...

— Se cuide também... – Ficamos em silêncio por alguns segundos. – Tchau.

— Tchau. – Ela respondeu e eu encerrei a ligação.

Todos com medo dessa tempestade, com medo de que seja igual a aquela, mas nenhuma será. Nenhuma trará tanta destruição e dor.

Escuto o barulho vindo da rua.

— Todos estão apavorados. – Falo enquanto termino meu percurso até a cozinha. – Todos temem perder a vida, como aconteceu com muitos daquela vez. – Digo ao abrir a geladeira e pegar um pote com o resto da macarronada do dia anterior. Coloquei o objeto no microondas. Fiquei um tempo olhando para o nada. – Eu não ligaria se morresse.. Seria um favor... –Talvez eu tenha virado um pote vazio.

Após comer voltei ao meu quarto. Sentei na cama e abri a gaveta do criado mudo em busca de meu livro. Ao colocar minha mão no interior do repartimento senti algo com uma textura que aparentava ser veludo. Retirei de dentro da gaveta e averiguei que meu tato não havia falhado. Era uma caixinha de veludo vermelho. A abri e peguei o anel que encontrava-se nela. Observei o brilho de seus pequenos diamantes com uma angústia no coração que há tempos não sentia mais. Foi achado depois do acontecimento. – Era o nosso futuro... – O que sentia em meu peito se tornou mais intenso. Preferia mil vezes sentir uma dor física do quê aquilo.

Comecei a chorar descontroladamente. Minha respiração começou a ser falha. A chuva e o vento ficavam cada vez mais forte, aumentando meu desespero. O barulho das árvores balançando fortemente e então o estrondo de um raio. O pânico preencheu-me por completo. Já não sentia mais o ar encher meus pulmões. Levei minhas mãos ao meu pescoço na tentativa falha de fazer o oxigênio voltar a correr pelo meu corpo. Juntei todas as minhas forças e fui até a varanda.

As pesadas gotas de chuva o e vento, que agora já se aquietara, pareciam ajudar a acalmar-me. Após minutos minha respiração ainda era pesada, porém já estava bem melhor que antes. Então decidi entrar e deitar sem mesmo me enxugar ou trocar de roupa.

Depois de alguns minutos ali deitado senti meus olhos pesados de sono.

Era tudo escuro, sem nada, parecia um vácuo. Porém, logo a escuridão tornou-se um lindo campo com várias flores e árvores. Era lindo!

Vi alguém de longe, demorei alguns segundo para reconhecer aquela figura mas, aqueles olhos cor de amêndoa eram dele, apenas dele.

Sai correndo em sua direção. Quando o alcancei pulei em seu abraço. Pude sentir uma de suas mãos fazendo carinho em meu cabelo e a outra em minha cintura nos mantendo unidos. Aconcheguei meu rosto em seu pescoço e depositei um beijo ali. Nos mantivemos naquela posição...

I'll be fineWhere stories live. Discover now