Capítulo 3

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Assim que o sol se põe, me arrumo para ir com Emma à academia. Ela fica atrás de uma porta bem escondida se passando por almoxarifado dentro do YMCA de Vancouver. É o nosso lugar especial para treinarmos. Ninguém além de Guerreiros Crossfire pode entrar.

No entanto, assim que cruzo a porta, percebo que o brasão do nosso clã não está mais pendurado na parede. Lembro-me de isso ter acontecido algumas vezes e a minha reação é sempre a mesma: Estranhamento. Temos certo orgulho de exibir o nosso brasão, seja nas portas das casas dos caçadores ou em locais que só nós frequentamos.

A última vez que o brasão foi retirado já faz pelo menos uns 3 anos. Eu não me lembro o motivo.

– Eles já devem estar selecionando o novo líder – Emma diz ao entrar pela porta da academia junto comigo. – Pelo menos eu acho que é isso, né? Quando selecionarem o novo líder, devem colocar o brasão de volta em sinal de respeito.

O que faz muito sentido, para falar a verdade.

Eu não posso dizer que ouvir a respeito da nova escolha não mexe comigo porque seria mentira. Tanto é que minha primeira reação é apertar o anel que eu carrego comigo pendurado em meu colar. O sentimento que tenho pelo líder vai demorar um bocado para sair de mim pelo visto.

Mas treinar é a minha maior válvula de escape e é isso que vou fazer pelas próximas duas horas, junto com a minha irmã e os outros membros do meu clã. Especialmente os da 86ª geração, que são os que eu treino com muito orgulho.

Desde muito cedo nós treinamos luta corpo a corpo, especialmente artes marciais mais antigas, como tai chi. Tai chi é, na verdade, aprendido como uma dança e apenas quando atingimos 11, 12 anos é que passamos a treinar com espadas e adagas os movimentos dessa luta. É também a mesma época em que começamos a nos reconhecer como guerreiros e até mesmo assassinos. Não há como negar, é para isso que treinamos tanto. Para deter e matar qualquer shifter que ouse cruzar o nosso caminho.

Porém, devido à minha agilidade, fui chamada para aprender outras técnicas de luta corpo a corpo. Raras são as mulheres selecionadas para isso porque normalmente os homens têm preferência por serem mais fortes. No entanto, não somente o Líder Ezequiel, mas a minha treinadora atual, Crystal, me ensinaram que tudo é jeito e não força.

Eu sou capaz de defender o golpe de um homem de 130 kg de músculo e ainda derrubá-lo no chão sem usar praticamente força nenhuma. Eu sou boa nesse nível.

Por isso, ao chegar ao vestiário, visto minhas roupas de acordo com as atividades que vamos planejadas para hoje, prendo meus longos cabelos em uma trança que bate quase na altura da minha lombar e vou para o tatame. Lá, meus "alunos" já me aguardam prontos para o aquecimento.

– Hoje nós vamos fazer um exercício diferente – falo observando Mike, Milo, Alec, Emma e Dominic, que pulam sobre o tatame para ativar a circulação. – Vamos preparar vocês para enfrentar todo e qualquer desafio que um Guerreiro Crossfire pode encontrar. Vai exigir de vocês força, estratégia e atuação.

Na parte da atuação, todos eles apertam os olhos, confusos.

Empolgada, continuo:

– Como vocês estão em 5, cada um vai ter um papel e depois vocês vão intercalar para que além de descobrir com quem vocês estão lidando, vocês também saibam como atacar. Vamos ter apenas um Guerreiro Crossfire por vez. Alguém se habilita para ser o primeiro?

– Eu – Emma levanta a mão timidamente. Acho que ela se sente mais confortável em ser quem ela é mesmo.

– Okay, Emma – falo estalando os nós dos meus dedos. – Meninos, venham comigo.

A traição - Livro 1 - Série ShapeshiftersWhere stories live. Discover now