Capítulo 9

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Meia hora atrás recebemos um código vermelho. Quando digo um código vermelho, não é um chamado vermelho. Código vermelho significa carnificina. Todos os caçadores da Grande Vancouver foram chamados esta noite para irem ao Deer Lake Park, inclusive os mais novos. Em um momento crítico como esse, toda e qualquer ajuda se faz necessária. Eu ainda não sei o que exatamente está acontecendo no parque, mas meu pai, enquanto nos guia até o local do ataque, quase bate o carro três vezes de ansiedade, sendo que ele não costuma se alterar com nada.

Mal pisamos na floresta, vemos inúmeras poças de sangue no chão, mais ainda do que no massacre que presenciei alguns meses atrás. O que quer que esteja acontecendo aqui, vai virar notícia no jornal se não corrermos para retirar todos os corpos e limpar as evidências o quanto antes.

– Quantos mortos até agora? – meu pai pergunta em seu relógio.

– 60 entre guerreiros e shifters por enquanto, mas ainda estamos contando – diz uma voz do outro lado do aparelho.

60 é o número exato de shifters que eu abati nos últimos cinco anos. É assustador como em questão de horas essa mesma quantidade de vidas foi tirada. O trabalho da minha vida inteira em duas horas.

Surreal.

– Fiquem junto comigo – meu pai ordena. Emma e eu o acompanhamos enquanto minha mãe segue por outra direção, ativando seus óculos especiais.

Passamos por algumas árvores, adentrando ainda mais a floresta, onde avisto Crystal de longe. Aviso ao meu pai que vou até ela e começo a caminhar antes que ele diga que tudo bem. O seu semblante de pânico e desorientação é indescritível. Guerreiros correndo de um lado para o outro, alguns com aparatos médicos, outros tentando se munir de cada vez mais armas e um grupo pequeno com celulares nos ouvidos para avisar às famílias dos guerreiros que eles se foram. Eu nunca vi uma confusão tão grande em um lugar só.

– O que está acontecendo, Crystal? – pergunto. Suas mãos e braços estão sujos de sangue, mas não acho que seja dela.

– Algumas horas atrás, eu recebi um alerta amarelo e vim com o meu grupo ver o que estava acontecendo – ela narra com o olhar completamente perdido. – Nos dispersamos e fomos atrás dos shifters para descobrir onde eles estavam. No meio do meu caminho, fui encontrando corpos dos shifters mortos e logo em seguida dos guerreiros. De todos os guerreiros que me acompanhavam.

– Todos morreram? – pergunto aturdida.

– Todos. Ninguém saiu ferido. Foram todos abatidos. – Vejo seus olhos ficando úmidos. – Inclusive o meu marido.

Crystal sucumbe ao choro. Fico sem saber o que fazer, então minha única reação é abraçá-la. Crystal nunca fala do marido, apesar de eu conhecê-lo. Eu não sei o quão próximo era o relacionamento dos dois, mas ao vê-la desse jeito, suponho que apesar da obrigação do casamento, eles deveriam se amar. Meu coração fica em pedaços por saber que ele teve esse fim tão cedo.

– Eu sinto muito – digo enquanto ela chora no meu ombro.

Deixo que ela despeje suas lágrimas pelo tempo que precisar, mesmo vendo a correria ao nosso redor só aumentar. Perco a conta de quantos corpos vi sendo arrastados pelo chão e escondidos em um saco preto antes de serem levados até a ambulância do clã. Quando começa a chover, percebo que não importa o que esteja acontecendo dentro do parque, estamos em desvantagem.

– O que houve? – Emma pergunta. Isso faz com que Crystal saia do meu ombro e seque suas lágrimas, ainda tendo certa dificuldade para respirar. Seus olhos estão completamente vermelhos. Eu não sei exatamente o que ela está sentindo, mas tive uma amostra desse sentimento quando o nosso Líder morreu. É horrível.

A traição - Livro 1 - Série ShapeshiftersWhere stories live. Discover now