14. gifts.

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- Ei filha, acorda..- ouvi longe a voz do meu pai.- acorda, garota!- fui sacudida.

Merda, não era um sonho.

- O que tá rolando?- meu pai tava ajoelhado do lado da minha cama.

- Dormimos demais. Já são uma e meia da tarde.- se levantou e abriu a minha persiana.- perdi um dia de trabalho e você perdeu escola. Tamos fodidos, mas fazer o que, né? Vou pedir pizza pro almoço, tudo bem pra você?

Não vou mentir, não ligo nem um pouco de ter perdido escola hoje e tenho certeza que meu pai também não liga de ter perdido um dia de trabalho.

Levantei e fui pro banheiro lavar o rosto e escovar os dentes, fiz um coque mal feito no cabelo e tirei o pijama.

Depois de arrumar a minha cama eu desci.

Meu pai tava jogado no sofá assistindo Discovery turbo, tomei meu remédio com um copo d'água e me juntei a ele.

- O que você vai fazer no seu aniversário?-  perguntou.

- Ainda não sei, provavelmente nada.

Ele ficou em silêncio um pouco mas logo abriu a boca.

- E aquele menino loiro que veio aqui outro dia? É seu amigo?- tava demorando pra ele perguntar.

- É, o nome dele é Gus.

Ele permaneceu olhando pra Tv.

- Mas ele é só seu amigo?- sabia que iria perguntar isso.

- Não- me olhou um pouco assustado - ele também tem outros amigos.

Me senti a comediante.

- Ok, deixa eu reformular a pergunta: vocês são só amigos?- ele tava vermelho de vergonha/raiva, eu nao sei dizer.

- Sim, só amigos.- eu tava rindo igual uma hiena.

Se eu falasse que éramos amigos com benefícios talvez eu não  ficaria viva pra comemorar mais um aniversário.

A pizza chegou 2:20 da tarde, eu tava varada de fome.

Meu pai me fez ir na casa do amigo dele que mora lá na puta que pariu.

Ele tinha um abrigo pra animais nos fundos da casa, foi isso que me fez ir lá.

Enquanto meu pai e ele conversavam sobre sei lá o que eu fiquei brincando com os bichinhos.

- Caramba Alana, eu te peguei no colo quando você era desse tamaninho- o colega dele disse fazendo um movimento com os braços.

Tinha começado a chover então eles me convenceram a entrar em casa.

O nome do bro do meu pai era Josh.

- Eu morava do lado da casa da sua avó, no Brasil, mas vim pra cá porquê queriam me matar lá.- Josh falava enquanto passava café.

- O que você fez pra querem te matar?- perguntei curiosa.

- Confundiram ele com um cara que pegou a namorada de um traficante de ácido.- disse meu pai se intrometendo.

Era cada história que esses dois me contavam que eu rachava de rir.

- Teu pai contou como conheceu a sua mãe?-  disse servindo o café.

- Josh..- meu pai ia dizer alguma coisa mas parou pela metade.

- Contou, ele foi comprar maconha e era ela que tava vendendo..

- Foi assim que você contou pra ela?- Josh parecia indignado.

- É o seguinte: seu pai tava no Rock in Rio pra ver o show do Paralamas do sucesso mas  tava sedento por um trevinho*, então falaram pra ele que tinha uma mina vendendo dentro do banheiro feminino. Ele tentou pedir pra alguma mulher ir buscar pra ele mas nenhuma quis, então, seu pai astuto do jeito que é esperou esvaziar e invadiu o banheiro, assim que ele bateu os olhos na sua mãe rolou uma química louca e você foi gerada ali mesmo..

- JOSH!- meu pai tava puto.- não trouxe ela aqui pra você ficar falando essas asneiras!

- Ah, e seu pai so foi descobrir o nome dela quando ela bateu na porta da mãe dele, lá no Brasil- ele interrompeu o meu pai.- sabe se la Deus como ela descobriu onde era a casa da sua avó, disse que se seu pai não te pegasse iria dar pra primeira pessoa que visse na rua.

Enquanto Josh falava eu senti meu celular vibrar dentro do meu bolso, olhei disfarçadamente e vi que era o Gus, depois eu retornava, não iria perder esse papo do colega do meu pai de jeito algum.

Já eram 8 da noite quando decidimos ir pra casa.

Fomos o trajeto todo ouvindo Pink Floyd.

- Gostei do Josh.- falei quebrando o silêncio entre nós dois.

- Ele é gente boa, só não tem papas na língua.- ele continuava meio puto.

Quando chegamos em casa eu fui a primeira a tomar banho.

Sai do banheiro com o corpo quente mas quando entrei no meu quarto senti uma lufada de ar gelado. Minha janela tava escancaranda.

Estranho, sempre a fecho antes de sair.

Caminhei pra fecha-la mas parei no meio do caminho assim que vi um embrulho no pé da minha cama.

Me agachei pra ver melhor o que era.

Haviam dois pacotes, um bem grande e outro menorzinho, estavam unidos por uma fita  vermelha com um laço, tinha um bilhete também.

"Abra só no seu aniversário.
-Gus"

Eu já devia ter imaginado que era obra dele.

Sempre me surpreendendo.

Coloquei os pacotes sobre a mesa do computador e fui arrumar as minhas coisas pra escola.





O Gustav não veio hoje.

Passei todas as aulas doida pra chegar em casa e abrir o embrulho. Eu tinha deixado para abri-lo a tarde, o pior erro que cometi.

Caminhei rápido no trajeto pra casa.

Quando cheguei nem tirei a roupa, fui direto pro quarto abrir os pacotes.

Comecei pelo menor, um livro. "O lado bom da vida" abri a capa pra ver se ele tinha escrito algo e me deparei com o carimbo da escola. Claramente roubou o livro da biblioteca e me deu, não crítico pois faria o mesmo.

Eu abri o maior com um pouco de dificuldade pois tinha muita fita adesiva.

Quando finamente tirei o embrulho um bilhete saiu voando, peguei e coloquei num canto pra ler depois.

O embrulho maior era o quadro de flor havaiana do motel abandonado que ele me levou, o quadro que eu disse que tinha gostado.

Pelo o jeito ele voltou la depois e o pegou.

Deixei  ele sobre a minha cama enquanto lia o bilhete.

"Olhe o seu e-mail." Só isso.

Gus todo enigmático.

Peguei o notebook e fiz o login no e-mail. Desci um pouco a página e achei um e-mail que ele me enviou hoje pela manhã,  tava escrito"por favor não fique brava" e logo abaixo tinha um link do soundcloud.






Nota da autora: Gente, postei uma edição do Xxxtentacion no soundcloud. A música depression & obsession com barulho de chuva.

Vou deixar o link na minha bio, vão ouvir.♡♡

Xoxo, moonmila.


*trevinho=maconha

Crybaby- Lil Peep.Where stories live. Discover now