Sábado à Noite - Parte 1

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Após um almoço agradável e sem perguntas com a família normal, onde, aliás, o pai era meu chefe, e simpática de Andrew (ao contrário da minha que, apesar de muito amor, são desajeitados e um pouco grosseiros às vezes), Andrew me deixa no campus.

-Que merda é essa, onde você dormiu?- Dessa parece histérica ao andar de um lado para o outro em nosso dormitório que, após uma noite sem mim, está em total caos e bagunça. Copos de café e rosquinhas de leite condensado estão espalhados pelo chão e uma mancha rosa toma conta do colchão inteiro de Dessa. Suas roupas estão jogadas pelo quarto e o carpete está molhado, pois Dessa deixou a janela aberta durante a tempestade. Meu Deus! Que desordem!

-Que bagunça é essa?- pergunto, mudando de assunto enquanto fecho a porta. Passo por cima de algumas toalhas que Dessa largou em cima do carpete para enxuga-lo e sento-me em minha cama.

-Ai, Endie, me desculpa, por favor... Eu não sei o que aconteceu aqui. Juro que não fui eu quem bagunçou!- Dessa tenta me enganar, mas seu tiro sai pela culatra. Balanço a cabeça, achando uma certa graça de Dessa.- Eu só procurei uma roupa para usar hoje à noite na festa e quando percebi já estava tudo uma zona! Ah, você vai, né?

-Certo... Eu até posso ir, mas...- um pensamento perverso me passa pela mente. Dessa me encara apreensiva, esperando que eu conclua.- Você vai ter que arrumar o quarto inteirinho. Sozinha!

-O quê?- os olhos de Dessa se arregalam, mas ela logo começa a trabalhar.- Olha, Endie, se eu não gostasse tanto de você eu juro que...

-Ei!- grito e dou um tapa na bunda de Dessa, que se assusta.- Eu quero tudo muito bem limpo. Antes de sairmos vou dar uma olhadinha... Se tiver um sapato fora do lugar... Bye bye festa!

Dessa revira os olhos e começa a recolher suas roupas do chão enquanto eu me deito em minha cama e começo a me lembrar da manhã maravilhosa que tive com Andrew.

Andrew acelera o Camaro pela avenida principal de Portland com todas as janelas abertas, o vento invadindo-me e balançando meus cabelos recém escovados. Eu gosto da sensação. De certo modo, parece libertador. Do som do carro sai uma música barulhenta de rock que a qualquer momento parece que irá me ensurdecer. Entretanto, eu também gosto disso. É como se algo dentro de mim reverberasse juntamente com o beat da música. Dessa, que está no banco de trás, grita sem parar.

-Ai, meu Deus, como eu sentia falta disso!- berra, se referindo à festa. Sorrio. Afinal, eu não poderia dizer a mesma coisa... Nunca havia estado em uma boate antes...- Endie, você não ama isso?- Dessa balança as mãos enfaticamente.

-É... Acho que sim.- olho para ela por trás do ombro, que parece nem ter ouvido minha resposta. Andrew, então, coloca a mão em minha coxa, por baixo do curto vestido preto de seda que peguei emprestado com Dessa e a acaricia levemente, levando a mão próximo ao meu sexo. Deliro, agarrando o banco abaixo de mim e mordendo os lábios.- É... Eu amo, sim.- sorrio de maneira provocante para ele antes de dar um tapa em sua mão.

Estacionamos em frente à boate, onde uma fila imensa parece rodar o quarteirão. Todos parecem admirados com o carro de Andrew e percebo vários olhares vindo de todos os lados, o que me deixa constrangida. Dessa é a primeira a descer e nos espera próximo a um banco de madeira em que algumas pessoas estão sentadas.

-Esse vestido... Está muito curto, não acha?- pergunta Andrew com um sorriso perverso no rosto. É claro que eu acho. Esse vestido é absurdamente curto, tendo uns 20 centímetros de saia, no máximo! Além do decote aprofundado no busto e nas costas, onde a fenda chega até perto da minha cintura, expondo totalmente minhas costas. É extremamente indecente.

-Não, não acho... Na verdade, preferiria um mais curto...- dou de ombros, provocando Andrew. Adoro vê-lo irado, mesmo que isso, as vezes, me assuste um pouco.

-Certo, você quem sabe...- ele se aproxima de mim de maneira ameaçadora e sussurra em meu ouvido:- Será um prazer tirar esse pedaço de tecido do seu corpo depois da festa.

-Certo, você quem sabe...- repito suas palavras, o provocando mais uma vez e recebo um olhar feio dele, que já está saindo do carro. Saio em seguida, não querendo ficar pra trás.

Dessa está conversando com o pessoal que está sentado no banco, certamente expondo suas piadas ou tirando sarro de algum deles. Dessa não é do tipo que tem dificuldade em fazer amizades, muito pelo ao contrário. Andrew a chama, impaciente, e nos dirigimos diretamente à entrada da boate.

-Não deveríamos ir pro fim da fila?- indago quando percebo os olhares hostis das pessoas que esperam. Andrew faz uma careta e Dessa ri como se eu fosse uma retardada.

-Estamos na lista VIP.- me explica Dessa.- Conosco quem quiser, contra nós quem puder.- completa, baixinho, provavelmente com medo de que alguém a escute e se revolte. Seguro a risada, apertando o braço de Dessa para que ela pare de me fazer rir em horas erradas.

-Andrew Montgomery, Andressa Young e Endie Samuels.- ordena Andrew para uma moça que segura uma prancheta transparente com algumas folhas na porta da boate.

-Endie Samuels, eu conheço esse nome de algum lugar...- resmunga a mulher e, de repente, reconheço a voz dela. Levanto a cabeça abruptamente e encaro uma Debi maquiada e bem produzida em minha frente. Quando ela me vê, seu sorriso se abre de orelha a orelha, fazendo com que seus olhos puxados fiquem ainda mais apertados. Caramba, Debi parece me perseguir! Ela sai do seu posto e vem até mim, me abraçando.- Eu sabia!- grita, bem alto. Discrição não era o ponto forte de Debi.- Eu trabalho aqui de fins de semana, como você me achou?- pergunta ela, mas não espera eu responder.-Menina, como você está linda! Você assistiu O Diabo Veste Prada?- pergunta.

Sério?

Olho, sem graça, para Debi. Ela não pode ser normal. Não pode.

-Sim, é claro.- forço um sorriso, e as pessoas da fila começam a gritar palavrões pedindo para que saiamos da frente.- Debi, podemos ir logo com isso?- peço, mas logo sou interrompida por uma voz extremamente estridente.

-Porra, essa fila vai andar ou não?- grita uma menina alta, com uns bons 80 kilos da fila, em um tom extremamente hostil.- Aliás, O Diabo Veste Prada nem é tão legal, a atuação da Anne Hathaway foi sofrível e, cara, como ela é entediante!

Debi respira fundo, olhando para a garota.

-Tudo bem...- diz, tranquilamente. Então Debi avança nos cabelos da garota, gritando.- Sua vaca, sua puta, como você ousa dizer isso? Sua palhaça, fudida, barata porca!- Debi grita enquanto esmurra a menina que tenta se defender. Encaro a cena, chocada, como uma estátua, sem conseguir reagir. Dois seguranças saem de dentro da boate e correm para tentar separá-las, então Andrew me puxa pela mão e me arrasta em meio ao caos para dentro da boate. Meu Deus, onde eu vim parar?

-Anne Hathaway é um ícone!- é a última coisa que ouço Debi gritar antes de ser engolida pela escuridão da boate.

Bad Boy IrresistívelWhere stories live. Discover now