Pequenos contos de um cotidiano corriqueiro

Capítulo 3

- Eu tenho 4 reais. Será que vai ser suficiente?

- Eu tenho 8, cada passagem vai ser 3. Então, 3 mais 3, 6. Ida e volta, 12... Nós temos 12. Fechou!

- Sagi, isso é meio loucura...

- Leão, a gente tem 11 anos! 11 anos! Nós sabemos muito bem como nos virar e podemos andar de ônibus. Poxa, o Escorpião vai para escola TODOS OS DIAS de ônibus SOZINHO! A gente vai estar em dupla, não tem como dar problema.

- Mas se a minha mãe descobrir que eu menti para ela, ela vai...

- Não tem como descobrir! Na cabeça dela você tá lá em casa, na cabeça da minha eu to na sua! E quando foi a última vez que nossas mães ligaram uma para a outra para "verificar" se estamos mesmo lá?

Leão tinha que convir que era verdade, afinal era tão costumeiro um passar o dia na casa do outro que seus pais nem perguntavam mais de onde ele vinha e para onde ele ia.
Não se sentia confortável em mentir assim para eles, mas seu amigo estava decidido a sair e conhecer algum lugar novo e ele não queria deixar de participar disso.

- Nós vamos para onde?

- Para o centro! Eu fui essa semana com minha mãe e passamos na frente de uma loja de brinquedos e ela não me deixou entrar! Acredita nisso? Só queria saber de roupas e sapatos, coisa mais chata.

- Eu gosto de comprar rou...

- Mas dessa vez vamos ter a tarde toda para olhar a loja e ninguém vai nos impedir!

Dito isso, o ônibus passa na frente deles e a cara de espanto de Sagi é logo notada pelo Leão, que tenta entender o drama.

- O valor que consta na plaquinha é de 3,10 reais... – Disse Sagi, surpreso.

Assim foi como descobriram como era duro os reajustes nas passagens do transporte coletivo.