Imortal

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Eu estava em uma cadeira de encosto almofadado encostada a parede, a caneca vazia posta no chão ao lado esquerdo da cadeira e ao lado direito um Calebe relaxado sentado no chão. Ele sentou-se ali logo depois que eu sentei na cadeira. Veio pedindo desculpa pela idiotice que falou, dizendo que realmente não tinha como eu saber do perigo que eu corria naquela fazenda. Pedi para ele esquecer toda a historia e começamos a conversar sobre coisas aleatórias. Em um momento eu lembrei que Kim e Theodor estavam trancados em um quarto e fingi obrigar Calebe a ir abrir a porta antes de eles acordarem. Calebe foi resmungando, fingindo estar com medo das minhas ameaças de agressões. Depois de voltar sentou-se no mesmo lugar, pouco tempo se passou e os dois policiais se juntaram a nós.

Agora lá estávamos os quatro.
A manha estava calma e com um clima agradável. Por um instante eu senti um pouco de paz, que foi quebrada com as lembranças de tudo o que aconteceu nesses últimos dias.
Meus olhos fitavam aquele bosque verde e úmido, enquanto a minha mente tentava buscar o lago e Steve, o meu fantasma predileto. Ele sempre estava lá, todas as manhas, todos os dias. Sempre. Mas naquele momento ele não estava.

Espera!

Eu não havia visto nenhum fantasma desde que sai da fazenda Rily. Isso não era normal. Eles sempre vinham até mim. Os fantasmas sempre apareciam, debaixo da cama, dentro do arma, nos corredores. Não importa onde eu estivesse eles estariam lá comigo e agora...

Para aonde foram os fantasmas?
Por que eu não os via mais?
Teria eu perdido o dom de vê-los? Não, eu ainda podia ver Jeremy, mas ele estava preso em mim. Eu era a coisa que prendia a sua lembrança neste mundo. Droga... Tinha de ser mesmo assim? Ele não poderia ter ficado preso em alguma coisa que não fosse eu? Senti-me angustiado, eu já havia percebido que para possuir alguém exigia dele muito esforço e que ele ficava um tempo sem dar as caras, talvez se recuperando ou... Bem, não sei. Afinal por que de repente ele ficou tão poderoso? Possessão, controle da agua, atravessar objetos sólidos... O que mais ele podia fazer e eu ainda não sabia? Teria uma forma de desfazer este feitiço? eu podia controla-lo?
A lembrança dele não estava presa fisicamente em meu corpo, o que era bom, pois eu já havia visto o que ele podia fazer quando dominava o físico de alguém. Ele estava preso a mim em uma forma mais abstrata, humanamente impossível. A lembrança dele estava naquele lugar escuro naquele momento, o que fazendo? Não se sabe. Mas eu era a porta capaz de trazê-lo de volta e o único a poder ver ele. O fato de ele estar preso a mim, estava mexendo muito com minhas habilidades, deixei de ver os fantasmas, comecei a influenciar as pessoas e agora aquelas vozes... Eu odeio aqueles sussurros.
Então esta era a resposta. Jeremy ao se conectar a mim mudou tudo em mim. Eu não era mais eu mesmo e podia sentir a diferença. Sentia-me mais forte, confiante e perigoso; capaz de fazer coisas que eu nunca considerei ser certo, como matar, como fiz com Odel.

Steve.
Steve.
Steve.

-- Sinto sua falta. – Disse em um sussurro fazendo Calebe me olha curioso.

-- Disse alguma coisa?

-- Que estou com fome. – Menti ao pensar rápido.

Levantei e fui pra cozinha perguntando antes se eles queriam alguma coisa. Responderam-me que estavam famintos e me seguiram até a cozinha. Calebe sentou-se a mesa, Theodor o acompanhou meio emburrado, o que se passava em sua cabeça naquele momento? E Kim encostou-se no balcão que separava a sala de jantar da cozinha e lá ficou.

-- O que vocês querem? – Perguntei totalmente arrependido daquela desculpa idiota, eu podia ter pensado em outra coisa, certo?

-- Qualquer coisa. – Calebe respondeu de imediato, parecendo uma criança faminta esperando a mãe aprontar o café da manha.

-- Ótimo. – Falei pegando alguns ovos na geladeira. Eles teriam de se contentar com ovos mexidos aquela manha.

-- E então quando vamos partir? – Kim perguntou após um tempo.

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Where stories live. Discover now