Onde está o príncipe?

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Desde a noite em que a princesa o abandonara de forma tão brusca, o príncipe não conseguiu falar com ela nem uma só vez. Ele a vira no lago uma ou duas vezes, mas, pelo que pôde perceber, ela não mais aparecera no lago à noite, como das outras vezes. O príncipe então se deixou ficar na gruta, cantando sua tristeza, tentando em vão avistar sua nereida. Enquanto isso, a princesa, como verdadeira nereida que era, finava-se junto com o lago, minguado na mesma medida em que as águas minguavam, secando no mesmo ritmo em que o lago secava. Quando o rapaz finalmente descobriu o quanto o nível da água estava descendo, tomou-se de grande desespero e perplexidade. Ele não conseguia entender se o lago estava secando porque a dama o tinha abandonado ou se a dama deixara de vir porque ele começara a secar. Mas resolveu investigar.

Resolveu se disfarçar, foi até o palácio e pediu uma audiência com o camareiro-mor. Sua boa aparência logo conquistou as boas graças do camareiro-mor, que era um homem um tanto perspicaz e percebeu que havia, na solicitação do príncipe, mais do que parecer à primeira vista. Ele também estava ciente de que ninguém saberia de onde viria a solução para as dificuldades que o reino estava enfrentando. Então, resolveu atender ao pedido do príncipe candidatar-se candidatar-se a um emprego tão fácil, pois a princesa certamente não sujava tantos sapatos quanto outras princesas.

Ele logo se inteirou de tudo o que se dizia sobre a princesa e por pouco não enlouqueceu. Mas, depois de vagar pelo lago por muitos dias e mergulhar em todas as poças d'água que ainda restavam, a única coisa que conseguiu fazer foi dar uma mão de graxa num elegante par 4de botas, sem que ninguém tivesse pedido que o fizesse.

Quanto à princesa, ficava metida no quarto com as cortinas fechadas sobre lago moribundo, mas sem tirá-lo de sua mente nem por um segundo. Ela sentia como se o lago fosse sua alma, secando dentro de si, reduzindo-se a lama, depois chegando à loucura e à morte. Então ela ficava remoendo sobre os motivos daquela mudança, com todas as consequências sinistras, até chegar à beira da loucura. Quanto ao príncipe, ela o esquecera. Por mais que tivesse apreciado sua companhia no lago, pouco se importava com ele sem a água. Mas ela parecia ter se esquecido também do pai e da mãe.

O nível do lago continuava baixando. Começaram a surgir manchas lodosas com um brilho constante em meio aos fungos oscilante da água. As manchas transformaram-se em grandes massas de lama, que se expandiam e se espalhavam, com pedras aqui e ali; peixes debatiam-se e numerosas enguias fervilhavam. As pessoas iam a toda parte para pegar os peixes e procurar objetos que por acaso tivessem caído dos barcos reais.

Afinal, chegou o momento em que não restava quase mais nada do lago, exceto umas poucas poças mais profundas onde ainda havia um pouco de água. Certo dia, um grupo de meninos estava à beira de uma poças bem no centro do lago. Era como uma concha rochosa até que profunda. Ao olhar para dentro dela, as crianças viram lá no fundo uma coisa amarela e que brilhava ao sol. O menor dos meninos pulou dentro da poça e mergulhou para buscá-la. Era uma placa de ouro coberta por uma inscrição.

Eles a levaram para o rei. Num dos lados da placa se liam estas palavras:

Só a mote salva da morte.

Amor é morte, por isso é audaz.

O amor aplaina o abismo mais fundo

e resiste até nos recessos do mundo.

Aquilo era por demais enigmático para o rei e seus cortesãos. Mas o reverso da placa explicava um pouco melhor. Ali se lia mais ou menos o seguinte:

"Se o lago começar a secar, é preciso achar o buraco por onde a água escoa. Mas de nada adiantará estancar o vazamento com métodos comuns. Só há uma maneira de resolver o problema. Apenas o corpo de um homem vivo poderá estancar o vazamento. O homem deverá se apresentar voluntariamente, e o lago à medida que se encher de água, acabará por tirar-lhe a vida. De outro modo, seu sacrifício terá sido em vão. Se o reino não for capaz de produzir um héroi dessa magnitude, então terá chegado sua hora de perecer."

A Princesa FlutuanteOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz