Maternal

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Eu sempre tive sérios problemas em me adaptar, seja a algo ou a alguém. Coisas novas sempre me assustavam e me davam vontade de ficar trancado em meu quarto e não sair nunca mais. No meu quarto, tudo era somente eu. Um lugar onde eu não precisava encarar ninguém além de mim mesmo, e acreditem, já é difícil demais encarar somente a mim, eu diria que é insuportável, na verdade.

Se eu pudesse escolher algo no mundo que eu odeio mais do que tudo, esse algo seria eu mesmo. Qual era a minha utilidade no mundo, além de ser um estorvo na vida das pessoas? Não suporto a ideia de ser sempre um problema para os que estão a minha volta.

Eu procurei de várias formas possíveis algo que pudesse dar rumo a minha vida, mas por que diabos é tão difícil achar a droga de um belo motivo para continuar vivendo neste mundo idiota? E eu sei que é difícil encarar as coisas, mas sabe o que é mais difícil ainda? Desistir delas. Desistir de algo importante é uma das piores coisas de todo o universo. Você precisa ser completamente corajoso e covarde ao mesmo tempo para desistir de algo.



Se você perder a paciência, será pior, bem pior, por isso, mantenha-se calmo, Seokjin. Ele só desconfia de você, não tem certeza, não tem provas, não entregue o jogo facilmente, você é mais esperto do que isso.

– Por que não me responde quando eu falo com você?

– O quê? – Sua voz alta me assustou, fazendo com que eu voltasse a realidade.

– É mesmo uma garota, não é? Essa pessoa com quem você tem saído.

– Sim, pai. Quem mais seria? – Saí de perto dele rapidamente, não queria que ele notasse mais ainda meu nervosismo.

– Não sei, sempre te achei meio boiola. Consequência de passar tanto tempo com aqueles tais de Jung.

– Isso não tem nada a ver, eles sempre foram legais comigo.

– Eles mimaram você, Jin.

Eles me criaram, coisa que você nunca fez.

– É. – Eu ainda tinha um pouco de amor pela minha vida, então iria ficar calado e preservá-la. – Eu vou lavar roupa, tem algo seu que você queira que eu lave?

– Tem, vou pegar.

– Ok, obrigado.

Suspirei aliviado quando meu pai se afastou de mim, mas eu sabia que meu alívio era meramente temporário. Meu pai não era alguém em quem você pudesse depositar algum tipo de esperança, você sempre teria que esperar o pior. E eu não queria que o pior acontecesse com Namjoon, não mesmo.

Durante o resto do tempo em que passamos juntos, meu pai não tocou mais naquele assunto e eu agradeci muito por aquilo, mas eu sabia que ele não esqueceria essa história tão cedo. Por mais que eu tentasse me distrair e pensar em outras coisas, eu só conseguia pensar naquilo.

Quando terminei tudo que tinha pra fazer, fui até a casa dos Jung, Hoseok não precisou de muito tempo pra notar que eu estava estranho com algo, mas eu preferia não envolver ninguém naquilo. Por volta das oito da noite, sem que estivéssemos esperando ninguém, alguém bateu na porta, levantei e fui até lá, enquanto Hoseok me observava.

Não sei explicar bem o porquê, mas a visão de Namjoon sorrindo ali me deixou um tanto apreensivo. Ele me abraçou apertado, mas eu o afastei rapidamente, fazendo com que uma expressão confusa surgisse em seu rosto. Antes de tentar explicar o que quer que fosse, eu o puxei pra dentro e fechei a porta novamente. Enquanto Namjoon e meu irmão trocavam cumprimentos, corri até a janela da sala, vendo as luzes da minha casa acessas, isso significava que meu pai já estava lá.

Manual de como (não) se suicidarWhere stories live. Discover now