Vício

Prefácio

Querido Adam, hoje me dei conta do tempo que passamos juntos e percebi o que perdi enquanto eu estava ao seu lado.
Então resolvi contar a nossa história para as mulheres que se encontram encarceradas em relacionamentos abusivos como o que tivemos.
É lamentável que existam vermes repugnantes como você no mundo. E é por isso que eu resolvi escrever, para que ninguém se deixe cair em mãos de insolentes.
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Adam...
Nos conhecemos  no ensino fundamental.
Fomos bons amigos durante boa parte da minha juventude.
Ele era doce, atencioso, carinhoso e muito inteligente. Eu sempre gostei de pessoas inteligentes, porque eram as únicas que entendiam as opniões que eu tinha sobre o mundo. O Adam sempre me ouviu, esteve ao meu lado quando ninguém mais estava.
Lembro-me bem das vezes que saíamos pra ir ao parque perto da minha casa. Passávamos a tarde inteira conversando sobre coisas fúteis.
O tempo passou e Eu e ele nos afastamos.
A Família de Adam iria se mudar pra o exterior e Ele precisou ir junto.
Nós acabamos perdendo o contato e ficamos 3 anos consecutivos sem trocar se quer uma palavra.
Eu estava no fim do meu ensino médio, quando ele finalmente voltou.
Nos encontramos por acaso no mesmo parque em que costumávamos ir juntos.
Era um dia ensolarado de outono, Avistei de longe Adam, sentado em um dos bancos da praça. Fiquei surpresa ao encontrá-lo.
Me direcionei até ele e sentei-me ao seu lado. Ele me olhou com seus olhos escuros, tão fundos que pareciam carregar consigo alguma história. Senti ânsia, eu parecia não mais conhecê-lo. Sua voz fadigada, seus olhos, seu corpo que parecia não ter descansado há
semanas. E Ele finalmente disse:
_olá, Maria. Senti sua falta.
Nós nos abraçamos e segundos depois ele se pôs a chorar.
Não entendi a situação  e não me neguei a perguntar:
_por que choras??
_ muitas coisas, Maria Laura. Eu não posso lhe contar.  Você é tudo o que me resta agora. Se importa se eu passar uma noite na sua casa?-ele disse enxugando os olhos.
_meus pais não vão gostar da ideia, mas você pode ficar no meu quarto sem que eles saibam. Tudo bem pra você?
_sem problemas. -ele respondeu.
E foi assim que começou. O que era pra ser um dia, se tornou uma semana. Adam escondeu-se em meu quarto durante sete dias.
Eu não sabia como dizê-lo que ele tinha de ir embora, mas, ele precisava.
Lembro-me como se fosse ontem.
Ele estava sentado em minha cama e eu me aproximei. Disse que precisava ir. E perguntei a ele:
_onde estão seus pais, Adam? Por que está aqui?
_Maria, meus pais não estão aqui e em nenhum outro lugar. Eu não posso lhe contar o que aconteceu. Me deixe ficar só mais um pouco, só até que eu consiga outro lugar pra ficar.
Eu estava tão irritada. Ele escondia algo de mim, algo que parecia ser realmente sério. Tentei evitar a situação e deitei-me na cama e em seguida, ele se deitou também.
Ele olhou em meus olhos e segurou uma das minhas mãos. Direcionou seu rosto ao encontro do meu e beijou meus lábios.
Olhei para ele, eu estava tão assustada, porém, eu havia gostado do beijo, eu queria mais.
Ele soltou minha mão e pôs no meu pescoço e continuamos a nos beijar por um bom tempo. Depois disso, passamos a noite dormindo abraçados. Eu fiquei encantada! Seus braços fortes que me entrelaçavam me faziam sentir algo que eu não sentia há muito tempo, paixão.
Eu ainda não sabia que estava apaixonada, mas não queria mais que fosse embora.
Foram duas semanas que Adam passou em minha casa. E ao fim das mesmas, ele me disse:
_eu preciso ir agora.
_e pra onde você irá? - falei.
_eu não sei. Com o tempo encontrarei um lugar pra ficar.
Baixei minha cabeça em um ato de lamentação, eu não queria que ele fosse, eu estava tão preocupada.
Ele pôs uma de suas mãos em meu rosto e disse:
_Maria, fuja comigo! Vamos andar sem rumo e seremos abrigo um do outro!
Eu tive um colapso.
Aquele seria seu último dia em minha casa e eu tive insônia durante toda a noite. Não conseguia parar de pensar na ideia de me jogar no mundo sem saber onde eu iria, mas... eu queria... e eu fui.