Capitulo 3

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Meu corpo inteiro dói, tento me mexer mais dói demais, abro os olhos, mas é difícil enxergar por causa da claridade, olho para os lados pra saber onde estou, vejo que é um quarto com todas as paredes brancas e estou deitada em uma maca, tenho um soro conectado no meu braço, e ai que minha ficha cai, eu fui atropelada. O desespero começa a bater. Meu bebe como ele está?  Preciso de alguém. Quando penso em gritar, entra um homem de jaleco branco com uma prancheta na mão

- Vejo que alguém acordou. Boa tarde Melina, sou o doutor Ricardo, como você está se sentindo?

- Meu corpo está doendo, como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Mas eu quero saber do meu bebê, ele está bem? Como ele está?

O médico desvia o olhar do meu, e agora não preciso mais de respostas, sua reação já diz tudo. As lágrimas começam a rolar, sem pedir passagem.

- Infelizmente não conseguimos salvar o bebê, você chegou aqui desacordada e com começo de aborto,  fizemos de tudo, mas não conseguimos reverter o caso. Sinto muito.

- Nãaaao... - Sussurro e me entrego ao choro.

Passo a mão no meu ventre. Como não consegui te proteger meu filho? Por que fui tão imprudente de correr sem olhar? Tudo por causa de um homem que não me amava, que me enganou, eu perdi meu filho.

- Por favor se acalme, se não vou ter que te sedar. As dores no seu corpo é por causa do impacto da batida do carro, mas você não quebrou nenhum osso, e como você estava com um pouco mais de um mês de gestação,  não foi necessário fazer a curetagem. Por enquanto continuará em observação e receitarei analgésicos para dor. Tem duas pessoas que querem te ver posso deixar entrar?

- Quem está ai?

- Seu noivo Bruno e sua amiga Clara

- Não quero o Bruno aqui, e de preferência que nunca mais ouse passar perto de mim. - Sinto um ódio dele – Peça por favor pra Clara entrar eu preciso dela.

- Ok! Qualquer coisa chame as enfermeiras, vou pedir para aplicarem um analgésico para sua dor.

Ele sai me deixando sozinha com meu luto, choro copiosamente. Estou sozinha de novo, perdi minha mãe, perdi meu pai, perdi meu filho, e perdi um amor que achei que era verdadeiro, mas que nunca existiu, porque amei sozinha, construí uma vida a dois sozinha. Como alguém pode dizer que te ama enquanto tem outra na cama, como as pessoas conseguem ser tão vazias, mas não vou sofrer por ele, me recuso a sofrer por alguém que não merece uma lágrima minha.

Lembro do bilhete que escrevi mais cedo, a vida é uma caixinha de surpresas. Você vai da alegria plena, para uma tristeza sem explicação. Acordei hoje me sentindo uma nova mulher, descobri que ia ser mãe, e me sentia realizada, depois descubro uma traição, me senti usada, e agora vem a dor da perda de uma parte sua, estou me sentindo perdida.

Quando achei que ia estar completa, que minha vida estava perfeita, ela vem e me mostra que não é nada disso, e chego a conclusão que não nasci para ser feliz.

Minha amiga entra pela porta, seu rosto está abatido, os olhos estão vermelhos, entregando que esteve sofrendo a minha dor. Ela me lança um sorriso de cumplicidade, e vejo que não estou sozinha, tenho ela, a pessoa que sempre esteve comigo, tanto nos momentos bons quanto nos momentos ruins.

Abro meus braços e ela vem correndo em minha direção, e nem a dor em meu corpo me faz, querer se livrar desse abraço. E como sempre foi,  choramos juntas, sofremos juntas, ela é tudo o que tenho agora.

- Obrigado. - Falo com a voz embargada.

- Obrigado?

- Obrigado por você existir, por você jamais me deixar, por ser essa amiga e irmã maravilhosa que é, por não desistir de mim quando todos que eu amo me deixaram.

Surpresas da VidaWhere stories live. Discover now