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O nome de minha dama era Fen e ela era, de longe, a criatura mais linda na qual eu já tinha colocado os olhos. Quando me tomou pela mão chamando-me pelo nome fiquei totalmente fora do ar.

- Venha comigo Felipe. Precisamos esperar pelos outros no salão. Eu sou Fen, dama dos jardins e noiva do príncipe Jin - disse ela me encarando com um sorriso enorme.

- Olá Fen - falei quase sem ar - Nossa, você é muito linda.

- Obrigada Felipe, mas verá que todas nós o somos, assim como todos vocês.

Acompanhei-a ao salão fiquei num estado alternado de encantamento e sobriedade. Acordei do sonho fantástico quando a regente começou a falar de nossos corpos, experiências, doação de DNA...

Eu mentiria se dissesse que não estava ali pelo trono, sim eu estava. Mas queria a aventura, a companhia e a possibilidade de estar com as mais belas mulheres do país. Poucos de meus colegas sabiam o que nos esperava, eu, no entanto, estava completamente ciente de boa parte.

Meu tio avô tinha sido escolhido para os jardins de sua geração, mas, desgraçou-se quando conseguiu ser liberado dos serviços. Tornou-se o paria da família, aquele que ninguém suportava, principalmente em seus últimos anos, sempre encharcado em vodca, uísque e maconha. Eu era sua única companhia e estive presente em incontáveis delírios bêbados, quando me contava detalhes secretos do campeonato.

Tudo o que um adolescente em formação sonhava: aventura, conhecimento, poder e muitas, muitas mulheres.

Mas havia o detalhe da princesa secreta, aquela que ninguém via e que todos imaginavam ser uma bruxa com garras e verrugas. A idéia me apavorava.

Mesmo assim, fiz minha inscrição quando completei a idade mínima, ansioso e sedento por aventura, agindo por impulso.

Com o tempo e as conversas com tio Mathias amadureci a decisão, pensei em desistir algumas vezes, mas no fim a possibilidade de limpar a honra da família falou mais alto. Eu era um dos poucos que não pertencia à casta nobre, era filho de comerciantes e carregava o peso de possuir um campeão destituído como parente razoavelmente próximo. Minha mãe chegou a achar que eu nunca teria chance de passar pelas peneiras, mas eu sabia mais. Sabia o que procuravam nas seleções, homens com boa herança genética e nesse quesito eu era o candidato padrão: razoavelmente belo, nunca adoecia, notas acima da média na escola e ainda com um grande carisma.

Bem, ali estava eu então ouvindo o que meus mais quentes sonhos adolescentes esperaram por tanto tempo: que eu haveria de doar meu corpo pelo bem da raça humana. Oh sim, eu o faria de muito bom grado.

Não houve companheira de juventude para mim pois não fui criado para o campeonato mas, não ser um nobre tem suas vantagens: pude namorar e conhecer o mundo das mulheres, trabalhei com meus pais e aprendi a negociar com o mercado externo que era tão exigente de nossa genética mista e privilegiada.

Fen me observava com algum divertimento, enquanto pescava tudo o que acontecia a nossa volta, vez por outra fazendo sinais para as outras, como ela mesma disse, igualmente lindas damas a nossa volta. Quando finalmente fomos dispensados eu já havia me livrado do torpor inicial e consegui ficar de pé sem cambalear como um pêndulo.

Um murmúrio coletivo começou logo que a família real saiu do pequeno palanque, todos aqueles pobres desinformados escrutinando suas companhias para mais informações. Elas apenas riam, assim como eu.

Seguimos por uma escada lateral, do meio da fila onde estava puder ver que não conhecia nenhum dos outros campeões do séquito. Fen, ainda com ar divertido, guiou-me gentilmente pelo enorme corredor de granito que surgiu ao final da escada, dele para um dos seis elevadores que subia com um casal de cada vez.

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