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Mamãe prendeu meu cabelo com seu pente de contas num rabo de cavalo alto. Vesti uma calça preta e camisa de seda branca, saltos baixos, nenhuma maquiagem. Heloísa seria a conselheira que me apresentaria, ela era minha tutora desde os oito anos e insistiu na mínima produção para aquela manhã.

- Está perfeita – disse ela- Eles precisam realmente vê-la nesse primeiro encontro, livre de artifícios. Ajudará a ganhar sua confiança.

Mamãe parecia concordar. Assim como eu ela confiava em Heloísa e seu julgamento. Eu gostava de minha tutora, era quase como minha mãe, sempre protetora e preocupada. Mamãe não era obrigada a participar da convenção e como estava ainda muito abalada, liberei-a e chamei Heloísa e Nikko para as apresentações. Nikko era conselheiro e um de meus padrastos, mamãe confiava cegamente nele que estava metido em tudo que dizia respeito ao campeonato já que papai não tinha muito estômago para os jogos.

- Vá com Deus filha, não leia o cronograma, use suas palavras como te ensinei.

- Sim mamãe – levantei e beijei seu rosto.

Papai estava parado na porta com os olhos vermelhos e lacrimosos. Tomou-me num abraço e sussurrou em meu ouvido:

- Não quero entregar minha bonequinha aos abutres.

Eu ri.

- O senhor ainda tem Kátia.

- Sua irmã não dá a mínima para mim, só pensa no padrasto.

- Isso é mentira, ela o ama.

Ele suspirou e me soltou.

- Vá minha filha, eu e mamãe estaremos aqui quando voltar.

Segui porta afora e, quando olhei para trás papai e mamãe estavam abraçados tentando sorrir para mim em incentivo. Aquele era para ser um grande dia: muitos ao nosso redor tinham a idéia distorcida do que viria nos próximos dois anos, diversão sem limites aos olhos de muitos.

Mas o sofrimento envolvido era algo palpável para mim, por todas as histórias que meus pais, padrastos e madrastas contaram e todas as que não contaram. Os segredos também eram palpáveis em minha família e havia aquela tensão que eu e meus irmãos sentíamos às vezes apesar de nossa convivência harmoniosa.

Eu teria que assistir aqueles que partiriam para longe, os que se revoltariam e os que se mostrariam folgados e imorais. Enfrentaria a discórdia, a dissimulação, as intrigas e o ciúme...

Segui pelo longo corredor principal e desci evitando os elevadores, toda a velha guarda estaria às portas deles. Sete andares de escadas depois e cheguei ofegante aos jardins, Nikko me esperava, majestoso em seu traje despojado com Heloísa ao seu lado, ela com sua costumeira aparência profissional.

Esperei enquanto Gino e Anastácia conduziam todos para dentro. A primeira parte da reunião seria particular, exclusiva entre eu, meus padrastos, meus dois irmãos, suas damas e meus campeões. Meus pais preferiram não participar e eu os entendia.

Nikko e Heloísa, Gino e Anastácia são meus padrastos e madrastas, campeões e damas da geração de minha mãe. Nikko e Heloísa eram pais de Élen e Heloísa mãe de Kátia, minha irmã. Gino e Anastácia eram pais de Jonas e Melissa e Gino era pai de Jin, meu outro irmão. Do casamento entre meus pais somente eu viguei. Sim, deve entender que ciúmes é algo a ser deixado de lado por aqui. É preciso manter a mente aberta. A população em geral não sabia quem era pai biológico de quem nos jardins, conheciam os príncipes pelos casais que os criaram e deixávamos que concluíssem que éramos famílias convencionais.

Heloísa segurava firme em minha mão, Nikko permanecia com uma mão em meu ombro, eu estava tremendo.

- E se não gostarem de mim? – falei depois que todos tinham finalmente entrado no parlamento e Gino acenava em nossa direção.

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⏰ Última atualização: Oct 03, 2018 ⏰

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