SHADOWS - Livro I

VINTE E DOIS

Não marcamos um dia especial para pormos o plano em prática. Tudo depende de muita coisa, mas estamos nos preparando. Sam e Rubi trabalham dia e noite na tentativa de hackeamento do sistema. Clara está trabalhando com ele e toda a equipe quase 24 horas por dia. Dara não sai do estúdio para a confecção das roupas. Ela tira as minhas medidas e diz estar fazendo algo especial. Lucy ainda não faz noção da coisa grande que está por acontecer, e isso me deixa feliz. Ela está aprendendo a ler e a escrever e tem sido uma criança de verdade, do jeito que deve ser. Meu amor por ela só aumenta a cada dia e o seu jeito adorável conquista todos.

Estou treinando como se não houvesse amanhã, e sinto dentro de mim que não haverá um, de verdade. Dany não tem pegado leve comigo, mas não é a mesma coisa como era com Hunter. Ele ainda vai em algumas aulas para supervisionar e quando está presente, chama minha atenção para os meus pontos fracos de um jeito que Dany não faz. Não sei se ele é gentil demais para isso ou se tem vergonha.

A cura da perna de Hunter está indo bem, por mais que eu creia que não dará tempo de ele estar bem o suficiente até o dia da rebelião. Ele alega que estará bom o suficiente para meter a porra em todo mundo e estar comigo quando for matar o Superior.

Não estamos lá nem cá. Estamos tão atarefados nas últimas semanas que não tivemos tempo nem mesmo de conversarmos sobre o que aconteceu entre nós e como vamos ficar. Os principais se reúnem umas três ou quatro vezes por semana para conversar sobre o andamento do plano, e é basicamente nessa hora que conversamos. Mas não é nada romântico ou pessoal, e nunca será quando estamos falando de soldados e treinamento e armamento e estratégia. Às vezes ainda me pego olhando para ele e imaginando quando vamos resolver isso, mas sinceramente, não sei. Tenho coisas mais importantes para resolver.

Todos da Resistência estão esperançosos, e não conheço nem mesmo uma pessoa que não esteja dando o seu melhor. As outras 4 unidades da Resistência não estão diferente de nós. Trade intercede todas as cinco e nos dá detalhes de tudo o que está acontecendo. Hunter e mais quatro caras, cada um responsável por uma unidade, tem tomado conta do exército e dos soldados infiltrados. Descobrimos que as pessoas estão reagindo aos poucos, mas já é um ótimo começo. Somente pelo fato de estarem de cabeça levantada e acreditando em algo, já nos dá esperança.

Sei que eles estão prontos. Só precisam de um empurrão.

Estou aprendendo a usar armas mais diversas, desde as de fogo até as de contato direto. Estou aprendendo a jogar facas, empunhar uma besta e já tentei até mesmo arco e flecha! Mas, infelizmente sou péssima nesse último. Desisti de tentar quando uma flecha quase acertou um aluno, e todos concordaram que talvez fosse melhor.

Não trabalho mais na cozinha nem na creche. Tudo o que acontece é dirigido a mim. Me sinto em segundo plano de tudo, sendo Trade o primeiro. Qualquer novidade, qualquer dificuldade, qualquer problema são falados comigo. Parece coisa demais para uma menina de 18 anos que até dois meses atrás tinha medo da própria sombra, mas não estou sobrecarregada. Talvez cansada, afinal, não sou feita de aço, mas minha cabeça trabalha com tanta velocidade que consigo pensar por várias pessoas Estou na sala de controle, estou no exército, estou nos planos de estratégia, no controle do abastecimento da Resistência através do roubo à Central e todo o resto.

Pela primeira vez na vida, me sinto muito mais do que útil.

Faz um mês e uma semana que coloquei o plano à mesa e tudo mudou. Faz um mês e uma semana que sou olhada com respeito e reconhecimento. Faz uma semana e um mês que Lucy está comigo, que Hunter levou um tiro e tudo está para mudar.

Uma semana e um mês desde que mostrei do que sou capaz.

Estou contando os dias.