Prólogo

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 N'aie pas peur= não tenha medo.

Os meus dedos seguravam um copo de cappuccino pelo qual enfrentei uma longa fila na cafeteria do aeroporto. Eu não estava com sono ou cansada, mas o meu corpo precisava de cafeína. Me sentei em um dos poucos bancos vagos na sala de embarque e liguei para o meu pai, que atendeu a ligação sem nem mesmo ter completado dois toques.


— Fala princesa! Como está se sentindo agora em solo californiano?! — o seu tom de voz era gentil como sempre

— É legal. Não vi quase nada ainda, mas pelo menos consegui pedir um cappuccino em inglês o que é um ótimo avanço.

— Você é ótima em inglês Antonella! E além do mais é tudo uma questão de prática... Sua mãe, onde ela está?

— Eu não sei, ela ainda não deve ter chegado. — respondi.

Lana e seu incrível super poder de se atrasar para tudo.

— Antonella! — ouvi uma voz feminina gritar do outro lado da sala de embarque, me virei em direção ao som e vi uma mulher de cabelos ruivos e óculos escuros acenar os braços para mim.

— Parece que ela já chegou. — papai concluiu

— Ela chegou. — a minha voz saiu embargada.

Antonella deixe de ser idiota é a sua mãe!

— Querida — ele disse do outro lado da linha — Tudo vai dar certo é só se lembrar do que a Vovó Amélie sempre diz: N'aie pas peur — repetimos a última parte ao mesmo tempo.

— Te amo pai.

— Te amo mais. — falou encerrando a chamada.

Os sapatos de salto da minha mãe batucavam no chão conforme ela dava uma mini corrida na minha direção. Foi então que ela me envolveu em um longo abraço e pude sentir o cheiro de seu perfume Chanel invadir as minhas narinas.

— Meu Deus você está linda! Como cresceu desse jeito desde a última vez que te vi?! — ela tirou os óculos escuros do rosto e reparou minimamente nos meus 1,80 de altura.

— Um ano e meio fazem diferença na puberdade. — comentei e ela abriu um sorriso surpreso. Certeza que ela achava que havíamos nos visto há menos tempo.

— Onde estão as suas malas? Bob vai levá-las até o nosso carro. — disse e foi então que reparei em um homem de quase dois metros se aproximar e me cumprimentar com um leve aceno de cabeça enquanto pegava as minhas malas.

— Quer dizer então que a gente tem um Bob? — perguntei irônica e minha mãe soltou uma leve risadinha.

— Na verdade ele é o segurança do Jimmy, mas hoje ele está por nossa conta.

Ao chegarmos no estacionamento, coloquei as mãos em frente aos olhos graças a claridade, o calor em Paris não é nada comparado com o calor na Califórnia. Me arrependi de ter comprado um cappuccino e não um sorvete.

— Com o tempo você se acostuma. Só não saia de casa sem protetor solar e óculos escuros.

Durante o trajeto, minha mãe se esforçava ao máximo em tentar puxar qualquer tipo de assunto comigo. Ela me falou de praias e de pontos turísticos que eu poderia visitar além de mil e uma informações sobre a vida americana. Eu tentava abrir um leve sorriso e mostrar interesse de vez em quando.

Bem resumidamente, eu sabia que Jimmy, o cara com quem a minha mãe casou tinha uma situação financeira boa, mas nem imaginava que ele tinha um segurança chamado Bob e muito menos morava em um bairro de classe alta em Malibu.

Conforme íamos passando pelas ruas mais eu deixava de lado os assuntos aleatórios da minha mãe e focava nas pessoas andando pelas calçadas. Já tinha visto vários esteriotipos: surfistas, grupos de garotas de biquíni, skatistas, etc.

Senti o meu celular vibrar no bolso e atendi ao ver o nome de Belle na tela.

— Achei que o seu avião tinha caído no meio do oceano Atlântico! — exclamou. — Por que não me ligou?!

O medo irracional de Belle por aviões me fez jurar a ela que ligaria assim que pousasse, porém foram tantas novidades de uma vez só que acabei esquecendo.

— Belle eu to viva, esqueci de te ligar foi mal.

— Tava pegando um surfista sarado e esqueceu da sua melhor amiga francesa. — revirei os olhos e ela soltou uma risada — como são as coisas por aí?

— Muito cenário de filme adolescente pro meu gosto. — disse ao ver um outro grupo de garotas bronzeadas passarem por nós no semáforo.

— Sabia. — afirmou. — Como as coisas foram com a sua mãe?

— Bem... Normal. — respirei fundo.

— Olha pode me ligar qualquer hora, eu sei que tudo deve estar meio pesado com essa coisa de mudança mas conta comigo viu? Eu te amo. — falou e posso ter certeza de que ela estava chorando.

— Também te amo Belle.

Engoli em seco e reprimi a vontade de chorar. Estava com saudades do meu pai, de Belle, da minha família, de Paris. Eu só precisava aguentar um ano nos Estados Unidos e voltar pra casa. Vai ser fácil.

N'aie pas peur, Antonella.

Continua...

Lost in California  |  Shawn MendesWhere stories live. Discover now