Capitulo 1

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Eu estou sentada na areia da praia e acho que nunca estive aqui antes por que não reconheço nada, não tem nem mesmo um quiosque por perto, mas para mim não faz diferença já que fico aproveitando os raios de Sol que esquentam minha pele e o maravilhoso som do mar.

Até que um cara sai do mar carregando uma prancha em baixo do braço, nem preciso olhar muito para saber que ele é lindo. Pele morena dourada, provavelmente de tanto surfar, cabelo escuro e um pouco comprido e músculos muito bem definidos. Em resumo o estereótipo de surfista que toda garota sonha.

Fico apenas ali tentando fingir que não estou olhando e esperando ele passar por mim, mas o surfista não faz isso, na verdade ele para e se senta ao meu lado e sorri torto fazendo meu coração quase saltar pra fora do peito.

-Oi, tudo bem?

-Oi - digo tímida. - tudo e você?

-Melhor agora.

Só posso estar enlouquecendo. Nunca no mundo que um cara como esse viria falar comigo para flertar.

-Sou o Gabriel, qual seu nome?

Ai que mora o problema, meu nome.

-Me chamo Amélia.

Gabriel franze um pouco a testa mas sorrir antes de abrir a boca para falar, mas o que sai é um som absurdamente alto e bem irritante.

-Bom dia, hora de acordar querida. - a voz da minha mãe invade meu quarto e eu percebo que tudo não passava de um sonho.

Bufo alto e esfrego os olhos, me espreguiço enquanto minha mãe vai ate minha janela abrir as cortinas e me dar um beijo na testa.

-Não demore muito para não se atrasar.

-Tá bom, mãe.

Me sento na cama e fico parada uns minutos, esperando que todo meu corpo desperte antes de eu me arrastar para o banheiro. Tomo um banho rápido, visto o uniforme e desço para a cozinha, onde meus pais estão dançando alguma musica de velho deles.

Reviro os olhos e passo por eles para me servir de um pouco de suco que está na geladeira.

-Bom dia raio de sol - meu diz enquanto me segura pelos braços e tenta me fazer dançar. - 'Pai e mãe, ouro de mina, coração, desejo e sina' - ele começa a cantar uma musica do Djavan que escuto desde que me reconheço como gente.

-Bom dia, pai. - tento me desenvencilhar dele, mas ele só me deixa ir quando faço uma dancinha ridícula com ele.

Tomamos  café da manhã sentados juntos à mesa, conversando sobre coisas triviais e como sera nosso dia e quando noto já estou quase perdendo a hora de ir para a escola. Subo correndo para escovar os dentes e estou pegando minha mochila quando escuto:

-CAZUZAAAAAAA! A gente vai se atrasar.

Alessandra. Gritando a plenos pulmões na frente da minha casa. Antes que ela possa fazer de novo escancaro a porta da frente e lanço meu olhar mais feroz para ela.

-Precisava? - eu digo me aproximando e ela desvia do tapa que tento dar.

-Sempre faz você ir mais rápido.

-Juro que um dia desses vou estrangular você. - resmungo e ela apenas ri.

Seguimos para escola a pé. Todo dia é a mesma coisa, Alê passa na minha casa, nós vamos juntas pra escola conversando sobre tudo e qualquer coisa. É assim desde que nos tornamos amigas no fundamental aos 9 anos.

-Tive um sonho muito estranho, eu estava numa praia e tenho quase certeza que o Gabriel Medina deu em cima de mim.

-Você precisa parar de assistir esses programas de surfe ante de ir dormir sua doidinha.

                                                                                                     (...)

O sinal toca quando ja estamos dentro da sala de aula conversando com outras meninas, a professora entra e pede para sentarmos nos nossos lugares, antes de começar a passar matéria um garoto aparece na porta com um dos funcionários da escola.

-Com licença professora Sônia, estou trazendo o aluno novo que foi transferido.

Todo mundo se vira e fica encarando o menino, sinto pena dele na mesma hora, não deve ser fácil estar num lugar onde ninguém te conhece. A professora pede pra ele entrar e antes de indicar um lugar para ele se sentar, pede que se apresente.

-Meu nome é Willian, tenho 15 anos e vim transferido de outra cidade por causa do trabalho dos meus pais, acho que é isso.

Ele da de ombros e se senta a duas cadeiras a minha esquerda, não precisa de muito pra saber que esta desconfortável com toda a atenção mas é impossível não acompanhar com os olhos o que será o mais novo assunto da escola.

-Vou fazer a chamada e logo em seguida fazer a correção dos exercícios da ultima aula.

Ai não, a chamada não. Os meus colegas de classe ja estavam acostumados com o meu nome, mas quem não me conhecia sempre estranhava e esse seria a primeira impressão que o garoto novo teria de mim.

-Cazuza...

-Presente. - eu digo acenando de leve com a mão.

Willian virou o rosto na mesma hora na minha direção e minha única vontade era me enfiar num buraco bem fundo e desaparecer.

Então sim, meu nome era Cazuza. Cazuza Amélia Oliveira Poncioni para ser mais precisa. 'De onde vem esse nome?' você me pergunta. De pais hippies é a resposta mais curta, a longa é que Deus estava provavelmente tentando me castigar por algum pecado dos meus pais.

Eles se conheceram em 1990 em um dos shows do famoso cantos Cazuza e não se separaram desde então, 7 anos depois eles se casaram (na igreja por insistência de seus pais) e com cinco anos de casados veio o primeiro bebe. Na ultrassom mostrava que seria um meninão e que nome melhor do aquele responsável pelo encontro de suas almas? Seria então Cazuza. O problema é que o exame teve alguma falha e no dia do parto uma menina nasceu.

Poderiam simplesmente ter escolhido outro nome certo? Errado! Decidiram manter o nome e ainda juntar com Amélia, para o caso de duvidas sobre o sexo da criança. Então 15 anos depois aqui estou eu, presa com esse nome e a vergonha de ter que explicar sempre.

Depois do que pareceu horas o sinal toca novamente e somos liberados para o intervalo, pego minha garrafa de agua e sanduíche e saio da sala. Eu e Alê sempre procuramos um lugar no pátio que tenha sol e sombra, sol para mim e sobra pra ela.

Minha mãe me chama de girassol desde pequena porque parece que estou sempre procurando por ele.

-Coitado do menino novo, comendo sozinho. - Alessandra diz olhando para onde ele esta sentado. -Willian! - ela chama alto e ergue a mão quando ele procura por quem o chamou. -Vem sentar com a gente.

Ele parece meio incerto mas mesmo assim se levanta e senta do meu lado, também no sol.

-Eu sou a Alessandra mas pode me chamar de Alê e essa é a Cazuza, mas chamamos ela de Cacau.

-Eu sou o Willian, mas creio que vocês já saibam.

-Acho que quase todo o ensino médio já sabe sobre o menino novo. - digo sorrindo em solidariedade.

-Então... Cazuza em, não é um nome muito comum, principalmente em meninas.

-Pais doidos e hippies é a única explicação que existe.

Ele ri e a risada é melodiosa e um pouco alta, bonitinha. Alessandra que não é boba nem nada engata um assunto atrás do outro se mostrando bastante interessada nele e eu so consigo sentir pena. Willian estará preso na teia de sedução da minha melhor amiga sem nem perceber.

O tempo não paraOnde histórias criam vida. Descubra agora