08. SILVIA

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Vou usar a ferramente de perguntas do instagram pra vocês mandarem perguntas sobre o capítulo de hoje. Volteiiiii. <3

Procura lá no meu stories, é brunaescreve.

Com amor, B

Se a Silvia de alguns anos antes pudesse ver a Silvia de agora, provavelmente sofreria uma reconfiguração em seu disco rígido ou qualquer que seja o termo utilizado pelos nerds de computador quando algo deixa de ser o que era e vira uma grande pil...

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Se a Silvia de alguns anos antes pudesse ver a Silvia de agora, provavelmente sofreria uma reconfiguração em seu disco rígido ou qualquer que seja o termo utilizado pelos nerds de computador quando algo deixa de ser o que era e vira uma grande pilha de informações que não se conectam nem com o presente, nem com o passado.

Perda total dos arquivos e essas merdas.

A imagem no espelho do quarto em que ainda morava na casa de seus pais – sua casa por apenas mais alguns meses, quando se mudaria com o marido para a casa que seria dos dois – mostrava uma imagem completamente diferente do que a Silvia do Colégio esperaria ver. Uma mulher comportada, vestindo algo florido e pueril, os cabelos selvagens comportadamente domados em um coque. Bochechas artificialmente coradas, "para dar um ar de saúde". E uma porra de um sapato de salto.

Quem diria que a Silvia que passou a maior parte da vida praticamente sem saber a aparência dos próprios pés, porque só usava tênis Converse de cano médio, um dia seria essa acompanhante perfeita para ficar pendurada no braço do marido, um policial condecorado, em um churrasco na casa de sua futura família na cidade vizinha, a figura da feminilidade e da tradição.

A Silvia de hoje a lançou um olhar desapontado no espelho, em luto pela Silvia de antes. Logo em seguida, tratou de curvar as bochechas com um sorriso. Ela queria isso. Era sua escolha. Não havia sentido em se lamentar agora.

Não devia se demorar, no entanto. Até a cidade vizinha dava uns bons vinte minutos de carro, e isso era contando que nenhum idiota causaria algum acidente na estrada, que só tinha uma mão de ida, e uma de volta. E mal tinha acostamento. Não podia se atrasar, porque prometera que ajudaria sua futura sogra na cozinha. A fazer a farofa e a porra do vinagrete.

Seu reflexo deu de ombros, à guisa de "não fica melhor que isso". Convincente era o suficiente. Não poderia exigir mais de si mesma do que aquilo.

Deu as costas para o espelho pronta para pegar as chaves do carro sobre a cômoda, mas foi interrompida por uma cena que não acreditava ser possível até meio segundo atrás: uma perna longa e delineada passava pelo parapeito da janela de seu quarto, e o tronco de Brenda Belucci a impulsionava para dentro com graciosidade. O tempo que passara sem praticar ginástica não lhe fizera perder sua incrível habilidade de se mandar janela adentro aterrissando perfeitamente sobre os dois pés – como se tivesse acabado de executar um salto duplo.

O mesmo não podia ser dito de Alana David, que não aperfeiçoara em nada sua técnica de rolar do parapeito até o chão, e se levantar com a expressão de quem espera que os outros não tenham achado tão patético quanto realmente fora. Pular janelas não era seu forte quatro anos atrás, e de todas as coisas que mudaram da água para o vinho a seu respeito, essa não era uma delas.

Menina MalvadaWhere stories live. Discover now