12. THALES

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Thales sabia o quanto podia ser irritante para Brenda ver seu celular vibrando incessantemente enquanto tentava estudar Química Orgânica, para encontrar o nome do ex namorado em letras garrafais iluminando a tela.

Sabia também que, apesar de seu isolamento do resto do mundo ser proposital, em provavelmente preferia receber a ligação de qualquer outro ser humano antes da dele.

Enquanto observava a chamada se estender sem completar, se perguntou se Brenda ainda mantinha seu número salvo com um apelido bobo. Ou se sequer tinha seu número salvo, e era mais provável que não tivesse. No caso de seu próprio aparelho, o nome dela estava salvo como "Bê" e um trazia coração ao lado; ele já pensara a respeito, mas não se dera ao trabalho de trocar o emoji para o de um coração partido.

Não precisava de mais um lembrete sobre a situação precária de seu coração.

De plano de fundo à chamada que não completava, em seu celular havia uma foto dos dois abraçados no sofá, Brenda vestindo sua camiseta do Capitão América e sorrindo para a câmera. Alguns segundos de olhos fechados foram o suficiente para que ele quase pudesse sentir o cheiro de camomila do cabelo da garota. Quem sabe um dia poderia enterrar o nariz no topo de sua cabeça de novo, fazer carinho em sua nuca enquanto sua respiração se tornava mais homogênea, e seu tórax subia e descia indicando a sua entrada no mundo dos sonhos.

Sonhar é de graça.

A foto desapareceu da tela, e deu lugar ao aviso de que a chamada tinha falhado. Ela não atendeu. É claro que não atenderia. Não se isso significasse a chance de torturá-lo um pouco mais após sua cara de pau de aparecer em sua porta no outro dia.

Ele jogou o celular no porta-luvas do carro e girou a chave na ignição quando viu uma velha amiga saindo de uma casa grande, tão branca que poderia estar em uma das ilhas gregas, de estilo bem colonial. Os cabelos curtos da garota estavam amassados, e olhos eram os de quem faria bom uso de um par de óculos-de-sol. Parecia de ressaca e vestia roupas que com certeza passaram a noite jogadas no chão da casa de alguém.

Era difícil enxergar Alana como esse tipo de garota. O tipo que ela se fazia na internet. E apesar se Thales já estar acostumado à ideia de que a velha amiga não era mais a mesma pessoa, ainda era duro vê-la tão distante de si mesma, saindo da casa de um cara que com certeza mal conhecia após ingerir uma quantidade abusiva de álcool.

"Como nos velhos tempos", ele comentou com as mãos no volante enquanto Alana sentava desajeitadamente no banco do carona. Algo sobre o divertimento de Thales com aquela situação precária contribuía em larga escala para o mau humor de Alana. "Você fazendo merda, e eu acobertando."

"Trouxe o que eu te pedi?", ela ignorou e questionou, esfregando as mãos com ansiedade. Fez menção de abaixar o espelho do tapa-sol a sua frente, mas desistiu. Não estava interessada em nenhuma imagem que o espelho poderia lhe mostrar.

Menina MalvadaOnde histórias criam vida. Descubra agora