AMOR

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Nobre e rico, Alcibíades cedo perdeu o pai e foi educado pelo parente de sua mãe, Péricles, o grande estadista e líder de Atenas. Alcibíades era tido como o mais belo jovem de Atenas, e era visto acompanhado por bandos de homens que o cortejavam como se fosse uma linda moça. Ele flertava e frustrava os amantes, concedendo favores homossexuais quando lhe agradavam ou quando tirava algum proveito deles. Rapazes lhe copiavam o estilo e as suas extravagâncias centralizavam as conversas da cidade. Contudo, Alcibíades era brilhante e sensível. Estudava com Sócrates, e quando o filósofo lhe falava da vida virtuosa, lágrimas escorriam. “Se eu não fechasse meus ouvidos contra ele, e não fugisse como se fora da voz de uma sereia” — declarou Alcibíades mais tarde — “o meu destino teria sido como o destino dos outros: eu me tornaria velho, sempre sentado a seus pés. Porque ele me fazia confessar que eu não devia viver como vivo... E, por isto, eu saía correndo e fugia dele.”
Jovem, Alcibíades foi insolente e impune. Anito, um rico amante, convidou-o para um banquete. Alcibíades chegou apenas à porta e ordenou aos seus escravos, diante dos convidados, que levassem para sua casa os vasos de ouro e prata. Os presentes protestaram junto a Anito, mas o apaixonado anfitrião replicou: “Não dessa maneira, mas moderadamente e delicadamente. Ele poderia ter levado tudo o que lá se achava, entretanto, deixou-nos a metade”.
Para se equiparar à ousadia dos seus companheiros de algazarra, Alcibíades esbofeteou Hipônico, um cidadão rico e poderoso de Atenas. Mas, no dia seguinte, ficou nu e pediu ao homem mais velho que o chicoteasse. Hipônico, emocionado, não somente perdoou o jovem, como também lhe ofereceu a própria filha, Hiparte, em casamento, com um elevado dote. Para a maneira de pensar de Alcibíades, este foi talvez o único atrativo de esposa.
Alcibíades logo deixou de dispensar atenção a Hiparte. Com o dinheiro do dote encheu a casa de móveis caros, artistas lhe pintaram as paredes, ele promoveu banquetes e viveu numa atmosfera de luxo e de esplendor rara em Atenas naquele tempo.
Como ateniense das camadas sociais superiores, Alcibíades sentia-se igualmente atraído por ambos os sexos. As mulheres que o intrigavam e fascinavam eram aquelas que vendiam os próprios favores; delas, ele gostava sem reservas, desde as cortesãs elegantes até as inquilinas de lupanares. Isto não interferia na contínua afeição para com os homens. Era tamanho o seu sucesso em todas as frentes que escolheu para símbolo de seu escudo o desenho de Eros brandindo um raio. Indicava a sua própria invencibilidade no amor. É com este relato sobre Alcibíades que o historiador americano Morton M. Hunt nos mostra que os gostos e as preferências dos atenienses não eram sempre nobres e elevados como frequentemente se supõe. Alcibíades (450-404 a.C.), que, segundo Hunt, ajudou a dar brilho à Idade de Péricles, era seu filho adotivo, e foi homem de muitos contrastes: aluno de Sócrates, guerreiro magnífico e preguiçoso devasso, devotado à filosofia e à oratória, apaixonado amante das mulheres e dos rapazes.

Os gregos admiravam a sabedoria, mas admiravam mais ainda a beleza física. Manifestavam apreço pela moderação e o autocontrole, mas admiravam enormemente a hybris (orgulho insolente) e a paixão ardorosa. Embora louvassem a virtude, sentiam-se fascinados pela argúcia e pela artimanha. No reino do amor, dava-se exatamente o mesmo: estudavam-no, discutiam a seu respeito, exaltavam-lhe os prazeres e lamentavam os seus sofrimentos — mas, no fundo, eram capazes de senti-lo somente com as prostitutas e os rapazes.

O livro do amor - VOL 1Место, где живут истории. Откройте их для себя