Poeira

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Sentia em meu peito: não havia acabado.
Será que ela decretou, em seu coração, o fim?
Eu insisti, compreendi, resisti.
Ela calou. Sobretudo, o que sentia.
Estávamos em guerra, fomos atingidos pelas palavras de muitas pessoas. Nosso erro, hoje vejo.
Tentei resgatá-la e falhei miseravelmente. Era impossível retirá-la da cela de suas convicções.
Recorri ao Rei Tempo, pedi a ele que a encontrasse. Eu sabia que ele sim, seria capaz de libertá-la.

O amor machuca, vê as cicatrizes em minha'lma?
A mágoa paralisa. Foi ela que me impediu de seguir no caminho da confiança.
Eu segurava o amor em minhas mãos quando tropecei e o perdi. Estive tentando reencontrá-lo. Será que o amor dele ainda segue intacto? Será que ele o guardou?
Desde que nos perdemos naquela guerra, eu diminui as vozes ao meu redor. Elas eram tóxicas e precisavam sumir.
O medo transforma. 

Vê o quanto eu fugi de você? 

O quanto eu fugi de mim? 

O quanto eu fugi da vida?

Numa de minhas fugas, conheci um Rei. Disse-me que seu nome era Tempo e me convenceu a passar alguns dias com ele.

Quando segui meu caminho de volta, avistei, com algumas marcas e muita poeira, o amor.
Foi o Tempo, ele me disse antes que eu partisse: "olhe seu caminho com cuidado, há muitas pedras em que você pode tropeçar, mas há também o amor perdido em algum canto."

Peguei com cuidado o amor do chão, limpei a poeira com a manga da minha blusa. Vi que algumas marcas ainda ficaram e lembrei da promessa do Tempo: "é minha função restaurar as marcas do passado." 

Ele tem cumprido.


Agora não ando mais com o amor nas mãos, é perigoso.
Carrego-o comigo em um lugar seguro.
Carrego-o dentro.
Foi assim que ele manteve o amor dele a salvo. Hoje eu sei.

Outono inWhere stories live. Discover now