A saudade não morre

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Um casal se beija no portão de embarque e eu fico pensando: "quando será que eles se verão novamente?"
Pessoas descem escadas rolantes com malas cheias e olhares vazios.
Quanta saudade cabe dentro de um olhar?
Despedidas. Reencontros.
Lágrimas de quem sabe o quanto a distância machuca.
Uma rodoviária cheia de saudades pra contar.

♡ 

Despeço-me da tia do meu marido, por quem tenho um carinho imenso e penso em quantas despedidas ainda serão motivo das minhas lágrimas.
Vejo pessoas sentadas em bancos. Pessoas vagando de um lado para o outro.
"Elas deixaram alguém ou estão indo ao seu encontro?"
- É tão ruim se despedir né? - diz um senhor ao meu lado, depois de acenar para um rapaz na fila de embarque da plataforma 16 com destino a Curitiba.

Sorrio. 

- É sim. Essa vida de indas e vindas não é fácil, né? É seu filho? 
- Sim. Ele veio pra morar comigo em Itapira, mas não se adaptou e resolveu voltar. Vim trabalhar aqui, faz 8 anos. 
- É! O trabalho tira muita coisa de nós. - digo sem jeito, enquanto observo-o tirar os óculos para secar um lágrima que começa a escorrer. 
- Eu escrevo. Escrevi um livro e vou publicá-lo semana que vem. - ele diz, mudando de assunto. 
- Nossa, sério? Que incrível. O Senhor escreve o quê? 
- Poesias. Olha aqui. - desbloqueia o celular e se aproxima para me mostrar uma foto do seu livro e as matérias de jornais em que ele saiu. 
- Acho que vou largar meu trabalho e me dedicar a isso. Assim posso voltar pra Curitiba e ficar perto dele. - disse, guardando o celular. 
- Sim. Faça isso. A vida passa depressa. É bom estar perto daqueles que amamos.

Ele sorriu e assentiu com a cabeça.

Me despedi e desejei boa sorte na publicação do livro e também - se atento - à sua futura volta pra casa.
Segui em encontro ao meu marido e contei que enquanto eu imaginava as histórias daqueles que chegavam e partiam, eu mal suspeitava que ganharia uma de presente.


Creio que o Seu José, escritor de poesias, sabe bem que a distância nada é perto do que sentimos.
A saudade machuca para que um dia possamos matá-la. 

O único problema é que, paradoxalmente, ela nunca morre.  

Outono inWhere stories live. Discover now