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Capítulo 3 - Crime e Castigo

Já havia passado algumas horas desde o encerramento do tour por Yonsei. Taehyung, junto aos outros dois novatos de administração, seguiram para suas devidas salas, e desde então, não nos encontramos mais.

O certo seria que eu assistisse todas as minhas aulas do dia, mas resolvi dar-me uma folga e ir descansar em meu dormitório, acompanhando de Jimin, que aproveitaria o silêncio para estudar as apostilas que recebeu em seu curso naquela tarde.

A residência estudantil era o meu ponto de fuga. Diferente da maioria, que optava por cômodos duplos, o incluso em minha mensalidade era individual. Não gosto de dividir espaço ou sentir que estão invadindo minha privacidade, então, para mim, foi melhor assim.

Eu não reclamava quando Jimin passava as noites ali, dormindo em um saco de acampamento no chão; ou quando Heejin entrava escondido na ala dos dormitórios masculinos e conversávamos a madrugada inteira, mas isso eram exceções. Não sei se conseguiria conviver com alguém o tempo todo, levando em conta que desde a infância, me acostumei a ficar sozinho.

Não tinha nada de muito especial no cômodo; cama de solteiro, escrivaninha de frente para a janela, móvel para guardar minhas roupas, poltrona reclinável e por fim, uma pequena estante onde eu armazenava alguns livros e conteúdo me passado pelos professores. Não chegava nem perto de ser imenso como o quarto de minha posse em casa, tampouco sofisticado, — embora a universidade se esforçasse para dar o maior conforto os alunos. Ainda assim, eu conseguia me sentir mais a vontade naquele dormitório universitário do que em meu próprio.

Não moro muito longe de Yonsei; trinta minutos sem trânsito e no máximo uma hora com. Entretanto, quando fui admitido e inclui a residência na matrícula, a situação entre eu e meu pai estava longe de agradável. O mesmo passava muito mais tempo em casa, todavia, naquela época, ele ainda não era o primeiro ministro coreano. A relação continua não sendo boa, e perdi as esperanças de algum dia se tornar, mas a pedido da senhora Ayu, eu retornava para lá quando ele saía de viagem.

— Esses roteiros são péssimos. — murmurei, virando a página. — Preciso parar de prometer te ajudar com esses trabalhos.

Meu melhor amigo não era o que podíamos chamar de... Aluno modelo. Longe de ser um rebelde ou algo assim, mas estava sempre inventando desculpas para faltar às aulas, ainda mais quando incentivado por Heejin, que conseguia ser um pouco pior. A punição para tantos dias perdidos, preferindo jogar videogames ou ficar perambulando pela cidade, era ter de se tornar o representante de seu curso. Com isso, não deveria deixar de marcar presença, ajudar os alunos novos de artes cênicas e de brinde, ainda ser auxiliar dos professores, que quase todos os dias lhe davam algum trabalho novo, como esse que estou tendo que o ajudar.

— Não fale assim, são bons... Apenas repetitivos.

Sua professora de interpretação pediu para que ele analisasse os roteiros de maior potencial, estes, produzidos pelos colegas de Jimin; a interação era achar algum bom o bastante para a peça de teatro da primavera, que apesar do nome, ironicamente ocorre no inverno.

Terminei a página e a coloquei na pilha de ideias descartadas, começando a ler outra logo em seguida. Diferentes das demais, essa me chamou a atenção, mas não por ser um bom enredo — embora realmente fosse —, e sim pelo pensamento que me gerou.

Na mesma, havia escrito um breve resumo da estória. Basicamente, um garoto que desistiu do curso que desejava para cursar algo que os pais sempre sonharam. Não era o que ele queria, mas precisava, por obrigação. Será que Taehyung trocou fotografia por direito pelos mesmos motivos?

Seria uma hipótese bastante possível, caso fosse alguém que parecesse poder ser obrigado a algo, e isso Taehyung não era.

Mas eu mal o conheço, então o que posso afirmar ou deixar de afirmar a respeito de sua vida particular?