Capítulo 21| O velho outono

3.5K 378 139
                                    

Existem momentos em nossas vidas, que finalmente percebemos o quanto algo é importante

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Existem momentos em nossas vidas, que finalmente percebemos o quanto algo é importante. Por mais que você não o tenha notado durante todo o tempo livre, no momento em que o perde, você o nota. E isso começa a doer. Dói como se estivessem cravando uma faca em seu peito e descendo-a lentamente por todo o seu corpo. Ou pode ser pior que isso, pode não ter explicação. Talvez você sinta somente uma parte de você esvair-se como um eco fodido. Mas na maioria das vezes, a dor emocional é mais mortal que a física. Todos nós sabemos disso, mas novamente, na maioria das vezes, nós jogamos cartas com a sorte. E perdemos.

— Você tem cinco minutos antes da mãe. — o homem de jaleco branco afirma e eu não respondo. Não consigo dizer nada até ele sair.

O médico deixa o quarto e eu me aproximo da cama, fitando a expressão relaxada do menininho dormente. Não há dor nele. Não há nada. Nem vida.

Encosto meu polegar na ponta de seu indicador, sentindo sua temperatura um pouco baixa. Deslizo o indicador por seu nariz pequeno. Será que ele era diferente quando bebê? Será que ele chorava muito? Eu não sei.

Eu não sei como eu seria se tivesse sido um bom pai para ele. Será que ele gostava de brincar com carrinhos pegando fogo? Soraya sempre me conta do dia em que eu atirei fogo nos carrinhos pra fingir que eu era um cara de Velozes e Furiosos. Será que ele tinha tanto medo de mim quanto eu tinha dele?

Parece ridículo, mas Travis sempre me deu medo. Olhar pra ele como alguém que veio de mim, que me tinha como um exemplo — segundo Cassandra — era assustador. A única lembrança que eu tenho do meu pai biológico é um pouco lamentável. Ele me disse para esperar no jardim, porque ele voltaria mais tarde.

Eu fiquei com medo, mas me sentei na grama e esperei. Ele nunca voltou. Deslizo os dedos pelo rosto do menininho, sentindo um nó doloroso se formar no meio da minha garganta. Eu não estava pronto pra isso.

— Travis... — sussurro perto dele, com o barulho dos aparelhos soando em volta do quarto. — Eu não sou muito bom para as pessoas, nem mesmo pra você. — meu peito dói e eu respiro fundo, tentando segurar todo o meu medo de que o coração dele pare antes que eu termine de falar. — Mas você merecia meu melhor lado. Você merecia que eu tivesse sido um pai decente. E eu vou carregar essa culpa pro resto da vida, menininho. Mas eu quero que você saiba o quanto eu te amo. Eu não sei explicar o porquê, mas Cassandra me disse, uma vez, que é assim que acontece. Você acorda um dia e se encontra completamente de joelhos por uma criança. E é assim que eu estou agora, Trav. — passo as mãos por seus cabelos finos e ondulados. Eu não sei quanto tempo eu vou aguentar antes de explodir. — Eu queria saber cada detalhe seu. Queria tanto saber como você deu seus primeiros passos e quando você disse as primeiras palavras. Eu daria tudo pra voltar no tempo. — puxo o ar com toda a pouca força que eu tenho para ficar de pé. — Mas eu não posso. Então eu vou te prometer que vou ser o melhor pai do mundo pra Lília. E vou saber tudo o que puder sobre você, porque... — aperto os olhos, sufocando o resto do choro desesperado na minha garganta. — Eu te amo, menininho.

Through CollisionWhere stories live. Discover now