Capítulo 27| Os olhos dela

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Seis dias

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Seis dias.

Deixo a bebida descansar um pouco para que a nicotina possa invadir minhas veias e penetrar em cada uma das minhas feridas.

Seria bom se eu não lembrasse de Travis há cada cinco ou dez minutos. Ou meia hora.

Eu nunca fui apegado a família, até porque eu nunca senti que tinha uma. Mesmo Soraya sendo a mãe mais amorosa comigo, nunca me senti parte dela. Nunca tive um pai ou uma mãe para os quais eu olhasse e reconhecesse. Nunca me senti eu mesmo em todos esses anos.

Amasso o cigarro no chão de concreto, voltando para dentro.

Minhas frustrações estão tão misturadas com aqueles tons de tinta que eu não tenho certeza se vou conseguir terminar os quadros. Por outro lado, olhar para o céu cheio de estrelas grandes me tranquiliza.

Não sei dizer ao certo o quanto Lília e sua voz fininha me trouxe paz. Mesmo que tenha sido por pouco tempo, eu me senti completo. Repeti o áudio várias e várias vezes, como um eco tranquilizador. Um analgésico.

E então Aurora invadiu todas as minhas vias de culpa. Eu queria muito ter me desculpado com ela. Mas quando eu a vi bater em Lexie um sentimento estranho tomou conta de tudo. Como um vírus que invade um sistema.

O jeito como ela nem se defendeu do tapa acertou meu peito de um jeito doloroso que eu nem consigo explicar.

Posiciono o cavalete e as tintas em cores fortes.  O melhor de começar a pintar é ver o quadro tomar forma sem você nem ao menos saber o vai se tornar. Você simplesmente esvazia a mente e deixa sua mão livre.

Um mar bravo toma o fundo branco. Traços em azul e um tom entre verde e branco desenham a onda que se constrói. Lá no fundo, utilizo o tom de azul mais escuro que tenho.

Ao fim, assemelha-se a uma tempestade. Uma perigosa tempestade.

Minha vida parece um borrão no meio da tela tempestuosa. Eu me lembro dos olhos da minha mãe biológica. Eram da cor do mar em agosto, brilhantes como dois diamantes.

Eu também me lembro de alguns flashes dela me fazendo dormir, passando os dados delicados pelos meus cabelos. Surpreendentemente, eu me lembro de tudo sobre o meu pai biológico. Os olhos avermelhados e os inúmeros maços de cigarros nas mãos. Eu mal poderia contar a quantidade de nicotina em suas palmas.

Volto a retocar os espaços em branco da tela, fazendo as ondas ficarem mais vívidas. Mas a todo momento me pego pensando no rosto do pequeno menino.

 Mas a todo momento me pego pensando no rosto do pequeno menino

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Through CollisionWhere stories live. Discover now