Capítulo 1

829 111 13
                                    

Pés descalços, pijama curto de malha, cabelos presos num coque alto, eu caminhei até a varanda da sala, empurrando a porta corrediça, sendo abraçada pelo vento frio da noite nova iorquina. Quem diria que eu, Kimberly Thomson, aos trinta anos ia realmente me mudar para a cidade que nunca dorme? Admito que não foi fácil sair de Oakney, pequena cidade no sul da Califórnia para me aventurar na cidade grande.

A verdade é que eu estava farta daquela vida. Cansada de ser vista como uma solteirona fria que só se dedicava aos seus pacientes e nada mais. Além disso havia a cobrança de meus pais, sempre tão tradicionais e até um pouco moralistas, a todo instante me perguntando quando é que eu ia me casar e lhes dar um neto.

Para falar a verdade, filhos não estava em meus planos. Não que eu não gostasse de crianças. Eu só não teria tempo para criar um filho agora. Aliás, eu não estava tendo tempo nem para os meus namorados, tanto que nenhum dos meus quatro relacionamentos deu certo. Não direi que me apaixonei loucamente por eles, mas o rompimento me marcou e machucou muito.

Conheci Marcel ainda na faculdade e logo nos tornamos amigos. Nunca fui pessoa de grandes amizades até porque sou tímida demais e isso as vezes me atrapalhava. Além dele, posso dizer que tinha apenas duas grandes amigas, as gêmeas Tracy e Alexia. Aos poucos minha amizade com Marcel evoluiu para algo mais e logo estávamos namorando. Ele foi meu primeiro homem, meu primeiro amigo do sexo masculino.

Entretanto, Marcel era um espírito livre, alegre e divertido, que apesar de estudioso, não pensava duas vezes antes de adiar o estudo para ir a uma festa ou boate. Eu não era assim. Eu gostava de estudar e principalmente eu tinha que fazer valer o que pagava na faculdade, que não era pouco. Minha família tinha boas condições financeiras, mas não era por isso que eu ia desbandar e banalizar meus estudos.

Esse foi o principal motivo para o desgaste de nosso relacionamento. Ele queria que eu me doasse mais ao nosso namoro, ao passo que eu só pensava em me doar mais aos estudos. Por fim, chegamos juntos a conclusão de que o término era a melhor saída. E foi assim tranquilo, sem brigas ou acusações. Após um tempo acabamos percebendo que a nossa amizade era mais forte que nossa paixão. Continuamos amigos e meu coração seguiu em paz.

Infelizmente o mesmo não aconteceu em meus outros relacionamentos. Quase um ano após o rompimento com Marcel, eu comecei a namorar Dominik. Nos dois primeiros meses até que foi legal, mas depois ele se mostrou ciumento, possessivo, quase obsessivo. O alvo de seu ciúme, na maioria das vezes era Marcel. Eu ainda tentei levar, mas no momento em que ele ergueu a mão para mim, eu revidei e o denunciei.

Houve certa surpresa em relação às minhas atitudes, mas as pessoas confundiam minha timidez com submissão ou fraqueza. Mas não era bem assim. Eu nunca apanhei, nem de minha mãe e muito menos de meu pai, ia me sujeitar a um homem? Nunca. Eu sofri, muito mais de raiva de mim mesma por não ter percebido antes quem era Dominik do que por qualquer outra coisa.

Um ano sem namorar ninguém e então Tracy me apresentou ao Kevin. Alto, loiro e malhado, era uma perdição. Nós saímos muito para boates, cinema. Qualquer programa com ele era divertido. Mas no sexo eu sempre o sentia meio que em expectativa, como se esperasse algo a mais de mim. Bom, descobri o que era quando me propôs sexo a três. Eu abominei a ideia, pois como o bom machista, ele queria duas mulheres e ele. Não que eu faria se fossem dois homens. Eu não pratico esse tipo de coisa e jamais conseguiria me ver agindo de forma tão... sei lá, vulgar. Dessa vez eu terminei o namoro, mas nem por isso deixou de ser doloroso. Eu realmente gostava muito do Kevin. Eu estava apaixonada por ele.

Por isso, foram quase três anos sem um namorado até que conheci Adam. Era bonito, inteligente e simpático. E devo dizer que ele era bem intenso e fogoso, o tipo que queria sexo todos os dias e várias vezes durante a noite. Foi assim que nosso namoro naufragou. Claro que eu gosto de sexo, mas não mesma forma que ele. Não sou tão desesperada por sexo. Eu conseguia passar alguns dias sem fazer e por isso mesmo fui chamada de frígida, fria e incapaz de dar prazer a um homem. O pior, acho que nem foi ouvir essas barbaridades, mas sim quando ele jogou em minha cara que sempre precisava procurar outras mulheres para se satisfazer... eu era um fracasso.

Por trás das máscarasWhere stories live. Discover now