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–  Luke

  

    As manhãs neste centro de ajuda eram sempre as mesmas. Ouvia-se uma campainha estridente exactamente às nove horas e trinta minutos e tínhamos vinte minutos para nos prepararmos. Eu, sinceramente, não era um rapaz muito social. Tinha apenas um amigo aqui, o Calum. Cada um dos adolescentes que cá habitava, – temporariamente, – tinha um ou dois problemas, como diziam as funcionárias. Elas lá sabiam o que se passava nas nossas vidas. O meu problema era relacionado com comida. Não, não sofro de obesidade. Apenas não como muito, quase nada, até. O psicólogo dizia que era uma espécie de... Transtorno alimentar? Sim, algo desse género.

    A tal campainha tinha soado há cinco minutos. Finalmente ganhei coragem e saí da cama, pontapeando os lençóis para que eles saíssem do meu corpo. Olhei para a cama vazia ao meu lado, que pertencia ao meu companheiro de quarto inexistente, e suspirei longamente. Eu era um dos poucos sortudos que não tinha de partilhar o quarto.

    Andei lentamente até ao espelho velho preso à parede e observei-me. Os meus cabelos encontravam-se fora do sítio e por baixo dos meus olhos azuis estavam olheiras, – talvez por me deitar tarde.

    Fiz a minha rotina matinal. Lavei-me, escovei os dentes, tentei dar um jeitinho nos meus cabelos loiros e coloquei sobre o meu corpo umas calças pretas com rasgões e uma camisola branca translúcida. Simples e casual, – tal como eu gostava. Calcei-me e dei uma última olhadela ao quarto antes de sair do mesmo.

    Atravessei o corredor e avistei uma pessoa ao longe. Carregava algumas malas e assim que me aproximei pude ver que era uma rapariga. Nunca a tinha visto por aqui, por isso deduzi que fosse nova. Encostei-me à parede branca e examinei a adolescente detalhadamente.

    Os seus cabelos meio alaranjados fascinaram-me de imediato, pois sempre adorara ruivas.  Não consegui ver bem a cor dos seus olhos mas percebi que eram claros. Ela usava uma expressão facial triste e confusa. Tentava agarrar as malas firmemente mas estas acabavam sempre por lhe escorregar dos dedos.

    Com receio, decidi ajudá-la. Ela parecia não ter reparado na minha presença, então, quando peguei numa das suas malas facilmente, deu um pequeno salto e olhou-me com medo. Agora sim, podia ver que os seus olhos eram de um tom azul clarinho.

    "Não pretendia assustar-te" – proferi rapidamente, coçando o pescoço nervosamente com a minha mão livre – "Apenas ajudar-te"

    "Está... Está tudo bem" – ela respondeu, engolindo em seco – "Sabes onde fica o quarto número 78?" – humedeceu os lábios. Consegui ver as sardas quase do seu tom de pele.

    "Esse é... o meu quarto?" – afirmei, confuso – "Vais ser a minha companheira?"

    "Pelos vistos sim" – franziu a testa – "Não devia ser proibido partilhar o quarto com alguém do sexo oposto?" – ri-me levemente com a sua frase e abanei negativamente a cabeça.

    "Oh, eles não se importam com isso. Não querem saber de nós" – comecei a caminhar até ao nosso quarto, com a esperança de que ela me seguisse. Quando lá cheguei, abri a porta com facilidade e pousei a sua mala no chão enquanto ela fazia o mesmo.

    "Bem-vinda ao sítio onde a magia acontece" – esbocei um curto sorriso – "Sou o Luke. Tu?"

    "Skylynn" – ela respondeu. Estendi-lhe a minha mão mas Skylynn não a apertou. Apenas olhou em volta.

    "Não gosto muito de toques" – olhou para o chão, brincando com as pontas dos seus dedos.

    "Porquê?" – questionei, sentindo-me curioso.

    "Talvez um dia saberás"

Untouchable ➤ Luke Hemmings [Dropped]Where stories live. Discover now