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- Skylynn

  

     Existe uma lenda que a minha avó me contou quando era pequenina. A partir desse momento, nunca mais a esqueci. Era fascinante. Falava sobre um jovem rapaz que andava por florestas desconhecidas à noite, onde vários humanos se perdiam. Não existia Lua. Ele estava sempre acompanhado por uma luz, que fosse talvez ainda mais brilhante que a sua poderosa voz, que fazia com que as pessoas perdidas ganhassem contentamento e a esperança de encontrar o caminho para a sua cidade. Um dia, esse rapaz encontrou uma rapariga provavelmente da mesma idade que ele. Começou a cantar, a deixar que as palavras bonitas escapassem dos seus lábios, e a jovem decidiu cantar com ele, uma vez que sabia a melodia da música. Os dois ficaram juntos a partir daí. O brilho que tinham fazia toda a gente sentir inveja, até mesmo os deuses. Estes não admitiram que isso acontecesse. Tiraram temporariamente a voz à rapariga e esconderam-na numa gruta, para que o jovem não a encontrasse. Ele perdeu um pouco do seu brilho. Cantava tristemente pelas florestas, até que, de súbito, ouviu um soluçar a ecoar. A jovem rapariga encontrava-se com a cabeça entre os joelhos a chorar. Não emitia mais nenhum som. Com esperança e fé, o jovem decidiu cantar canções familiares à rapariga, primeiro baixinho, depois alto. Mas, não havia reacções. Ele cantou até ficar sem voz, e, por fim, ficou tão fraco que o seu corpo amoleceu, fazendo-o cair no chão. A rapariga conseguiu levantar a cabeça. Observou-o com medo nos seus olhos e começou a sussurrar a letra da famosa música que costumavam cantar juntos. E, milagrosamente, ganhou voz. Cantou verdadeiramente. A cabeça do rapaz começou por se levantar e, quando deram por si, estavam a fazer uma melodia mágica. O brilho de ambos voltou a aparecer.

    É claro que, nem tudo tem um final feliz. Os deuses castigaram ambos devidamente, pois não tinham cumprido as ordens que lhes tinham sido dadas. A rapariga transformou-se em algo brilhante, a Lua. As suas lágrimas infinitas representavam as estrelas. E, o rapaz? Deram-lhe a forma de um lobo de tons escuros. A partir daí, em todas as noites de Lua cheia ele iria uivar, com a esperança de que a melodia lhe fosse repetida pelo seu amor. Tal como os ladrões, temos tendência para ficar apaixonados por corações já roubados.

    "Skylynn, ouviste?" - a voz irritante do meu companheiro de quarto irritante fez-se ouvir, interrompendo os meus pensamentos. Suspirei pesadamente, lançando-lhe um olhar intimidador.

    "Calma... Só queria saber se alinhavas em ir almoçar comigo e com mais tipos à hora de almoço" - reformulou a sua frase. Encontrava-se sentado na sua cama, distanciado de mim, a ouvir música, como sempre. Às vezes perguntava-me a mim mesma se o seu gosto seria ótimo ou péssimo.

    "Não sei... Hoje temos mais um daqueles encontros de grupo em que falamos sobre os nossos problemas?" - levantei uma sobrancelha, debruçando-me para pegar num dos meus livros. Luke soltou um breve riso, quase contagiante.

    "Sim, Sky, infelizmente sim" - inclinou a cabeça para o lado, examinando-me detalhadamente. Para ser honesta, ele intimidava-me um pouco. Qual seria a sua história? Porque estava ele aqui?

    Podia estar a exagerar, devido ao facto de apenas estar aqui, neste centro de ajuda, há uma semana, porém, de uma coisa eu tinha a certeza, - este lugar era parecido ao inferno.

    "Então... A tua resposta à minha pergunta é...?" - a voz de Luke voltou a ecoar neste espaço pequeno. Comprimi os lábios, pensando bem no que iria dizer, acabando por assentir.

    "Não me faças arrepender disto" - afirmei - "Ou lanço-te uma maldição" - tentei não me rir com a sua expressão facial.

    "Tão maldosa, Sky" - riu-se exageradamente - "Posso chamar-te de Sky, certo?"

Untouchable ➤ Luke Hemmings [Dropped]Where stories live. Discover now