Mácula do Espírito Apaixonado

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O passado revolta-se dentro de mim,
Num furor de raiva tempestuosa.
Selvagem dor, a mim, volta tenebrosa,
No vagaroso cair de meu sangue carmim.


Sou vítima culpada,
Do crime de amar sem poder.
Infelizmente não consigo te esquecer,
Desculpe-me minha amada.


Imperdoável quimera esta,
Esperar que me ames.
Tudo volta a ser como antes,
Eu, sozinho nesta obscura floresta.


Puro amor de impura razão,
Vais-te, não me faça sofrer.
Não quero mais lágrimas perder,
Em vão, revoltas no meu coração.


Inevitável é, por ti, minha paixão fervorosa,
Tu, perfeita em seus defeitos.
Negaste em mim teus efeitos,
E o ato de ser tão maravilhosa.


No entanto, fico num estado atroz,
Tu és de outro. Então o que fazer?
O certo? Esquecer-te e morrer.
O errado? Gritar que te amo com toda minha voz.


O tempo dirá o quanto consigo aguentar,
Esta dor excruciante de não tê-la comigo.
O destino é meu inimigo,
E este amor só faz piorar.


Maligno pecado, por que não me deixas?
Pois não há algo pior do que amar sem ser amado.
Dilema ao qual, por ti, fui acorrentado.
Eis a razão de minhas queixas.


Rugidos vorazes solto nas noites sombrias e terríveis,
Onde a lua ilumina todo padecer existente.
O meu, já afamado, por seus gritos estridentes
Dentro de mim, envolto em lágrimas invisíveis.


Lamentar não ajuda nem cura.
Errante num mundo de eterna mágoa.
Vagando sozinho no ardor d'uma frágua,
Sem você, isolado e triste, por desventura.


Será que meu estereótipo sombrio irá aguentar?
Ou desvanecer e amar-te-á ele também?
Meu prognóstico é que na guerra autista do mal contra o bem,
O amor mórbido dentro de mim, em psiquê irá se transformar.


Como uma jura de "amar-te-ei" é tão incorruptível?
No entanto, tão inerte é minha lamúria.
Aflige-me por lidar com tanta injuria
Ao repudiar tua ternura inexprimível.


Amar-te machuca, na dor complexa e na aflição.
Por que dessa dor não desisto?
Causador de insônia e nervosismo, em mim, malquisto,
Por levar-me sentimentalmente abaixo do chão.


Teu amor é a chance de escapar da solidão,
Tristeza, talvez destino dos poetas.
Desatinado coração, te aquietas!
Se não, na insanidade, arranco-te com a mão!


No apodrecer hipocondríaco, minha histérica decadência, estou a tolerar.
Minha ruína é ser insignificante e aguardar seu beijo ameno.
Lúgubre amor, complacente a ti sou, viciante veneno.
Consternado vivo, pois não tenho seu afável, meigo e sereno amar.


GLOSSÁRIO:
furor: fúria; agitação.
tenebroso: sombrio.
vagaroso: lento.
carmim: vermelho intenso.
quimera: fantasia; ilusão.
atroz: horrível de suportar.
excruciante: muito doloroso.
queixa: lamento.
voraz: abominável.
padecer: sofrer.
afamado: famoso.
estridente: ruído intenso.
errante: nômade; sem destino.
frágua: amargura.
desventura: infelicidade.
estereótipo: estado defensivo e impessoal
desvanecer: cair; ceder.
prognóstico: previsão
autista: egoísta.
mórbido:doentio
psiquê: amor espiritual.
inerte: imóvel.
lamúria: lamentação.
injúria: ofensa.
inexprimível: inexplicável.
malquisto: odiado.
desatinado: louco
hipocondríaco: triste; doente.
ameno: amável.
lúgubre: sombria tristeza.
consternado: abatido; triste.
afável: delicado

Poemas do Coração OprimidoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora