0 3 | e x p e c t a t i v a s

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Eu sempre digo para mim mesma
Não crie expectativas
Mas aí eu vejo um par de asas
E já imagino o voo inteiro.

Mas elas sempre estão quebradas
E eu acabo planando feito folha seca
Caindo feito fruto podre no chão.

Então eu quebro a cara
Eu desloco meu coração
E fissuro todas as minhas esperanças
Até que vejo mais uma vez a luz
E já imagino o fim do túnel.

Mas então eu derrapo antes de chegar no final
Alguém passa na minha frente
E eu enfio a testa no concreto
Desmorono tudo em cima mim.

Eu estilhaço a minha cara
Perco a cabeça
Choro lágrimas de injustiça
E acredito mais uma vez.

É uma maldita de uma roda gigante
Que sempre me para no chão
Me deixa presa onde não quero estar.

Eu não quero sonhar
Se no final eu sempre sou acordada a força.

Eu não quero criar prosas perfeitas
Para servirem de descanso de papel.

Eu preciso urgentemente sufocar meu otimismo
E respirar um pouco de realidade.

Viver nas alturas é perigoso
Um passo em falho e caio das nuvens
Saindo de um sonho infantil
Entrando em um pesadelo humano.

Eu conto dez carneirinhos
E recebo trinta pedras na mão
Eu planejo pensando no ouro
Mas a vida sempre trata de o roubar de mim.

Eu sempre digo para mim mesma
Não crie expectativas
Mas minha mente é criativa demais quando se trata de me machucar.

B I A   R A M O S

2018.

Desencantos (Degustação)Where stories live. Discover now