Capítulo IV

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Noah

Acordei com um pequeno corpo embalado ao meu, observei como o encaixe era tão perfeito e seu rosto sereno e não pude conter o impulso de aperta-la mais em encontro ao meu corpo. Seus lábios se esticaram em um sorriso e ouvi um leve suspiro de satisfação. Seu corpo achava conforto em meus braços.

Esse sono pesado é novidade para mim. Me lembro que antes de tudo o que aconteceu, sempre que eu acordava o espaço ao meu lado estava vazio, já frio. Quando eu me levantava sempre via Sara arrumada e já maquiada, "pronta para você" ela sempre dizia.

Me lembro daquela mulher de atitude, que se mostrava ser perfeita, louca e até um pouco imprudente, que me enlouquecia, e não falo somente em um bom sentido e então a observo, seu pequeno corpo encaixado ao meu transmitia o que ela nunca mostrou: fragilidade, dor e angústia.

E isso me parte o coração, e neste momento eu faço uma promessa, quem sabe a mais importante que já fiz, eu ainda a farei sorrir sem dor, lhe ajudaria a enfrentar e superar cada pesadelo para que então ela possa dormir serena. Eu cuidarei dela, assim como ela fez comigo.

Quando acordei no hospital, semanas após o acidente, confuso, ainda com um pouco de dor, com um turbilhão de sentimentos, foi o olhar dela de alegria que me fez acalmar. Saber que durante aquele momento ela esteve ao meu lado, fez bater mais forte em meu coração um sentimento que até então eu não tinha noção de sua existência.

Ela deixou de lado a sua dor para cuidar da minha, ela esteve presente mesmo sob a hipótese de eu nunca mais voltar à abrir os olhos, os médicos nunca haviam descartado a idéia de que o meu estado fosse permanente. Naquele momento ela me mostrou que eu poderia sempre contar com ela, e é isso que eu queria dar a ela, a confiança que independente do momento e das circunstâncias estarei ali por e para ela.

Me levanto com cuidado, sem fazer movimentos bruscos e vou em direção à cozinha, queria fazer algo de especial para ela, mas também não queria bagunçar novamente sua cozinha e muito menos fazer algum barulho que pudesse acordá-la. Então decido ir na padaria no fim da rua, compro várias coisas, na esperança de que ela se agrade: suco de laranja, pãozinhos de queijo, croissant, geléias de sabores variados e morangos.

Preparo uma bandeja com tudo o que comprei e a levo para o quarto e a coloco na cabiceira de sua cama. Ela ainda continua dormindo, sua face exprime uma expressão pesada e confusa, me pergunto o que ela está sonhando. Me deito na cama e alinho seu corpo ao meu, vejo que suas expressões se suavizam com o meu toque.

Enquanto espero Sara acordar, viajo em meus pensamentos para o dia em que nos conhecemos, mesmo que já se tenha passado pouco mais de seis meses, ainda me lembro dos detalhes mais sórdidos daquele dia. Estava fazendo um ensaio fotográfico para uma revista, me lembro que eu não queria aceitar aquele trabalho, mas algo me impulsionou a aceitar, algo que eu não sei explicar, hoje eu vejo como se fosse o destino.

Ela era uma das estagiárias que trabalhava no figurino, era a conclusão de mais um curso de moda que ela estava fazendo. Quando a vi o desejo foi imediato, seus cabelos pareciam tão sedosos e eu só queria passar minhas mãos neles, seu sorriso sapeca com um quê de ironia se destacava em seu rosto angelical, ela era linda. E antes mesmo do fim do ensaio eu consegui puxar assunto com a mais bela do recinto. Dali em diante tudo apenas foi acontecendo, saímos quase todas as noites para os cantos mais variados, nos divertíamos e quando eu dei por mim, meus pais já a conheciam e eu vivia mais no apartamento dela que no meu.

Lie to MeWhere stories live. Discover now