[one]

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Park

[capítulo editado]

Gostaria de pensar que a maioria das decisões que tomei nesses meus 18 anos foi inteligente, mas, ao ler a lista que Taemin me escreveu, questiono se vir para a escola foi realmente uma boa ideia.

Esse seria o meu primeiro ano estudando em uma escola de verdade. Passei toda a minha vida estudando em casa — o que não era tão ruim, na minha opinião. Taemin costumava dizer que o ensino médio era um inferno, mas foi ele que me convenceu a tentar. Tenho me candidatado para universidades e acho que minhas chances aumentariam se eu pudesse acrescentar algumas atividades extracurriculares nas inscrições. Depois de meses de súplica, minhas e de Taemin, Jihyo finalmente cedeu e deixou que eu me matriculasse para o último ano.

Park Jihyo era minha mãe adotiva.

Convivo com Jihyo a treze anos e posso dizer que ela tem uma forma de educar bem... contraditória. Ela sempre foi rígida comigo. Nunca tivemos internet, celulares, nem mesmo televisão, porque ela acredita que a tecnologia é a origem de todos os males do mundo. No entanto, é extremamente liberal com outras coisas. Me deixa sair com Taemin sempre que quero e, contanto que avise onde estou, a hora que chego em casa não importa. Acho que não existe meio-termo para ela. É uma liberal conservadora. Ou uma conservadora liberal. Seja lá o que for, é difícil entende-la — mas eu sempre soube lidar bem com sua dualidade. O único assunto que já nos fez discutir foi a minha vontade de estudar em uma escola.

Claro que, se eu soubesse que Taemin iria para o exterior na semana que compartilharíamos nosso primeiro dia de aula juntos, eu nunca levaria a sério a ideia de estudar em um colégio.

Taemin se tornou meu melhor amigo assim que se mudou para a casa ao lado, quatro anos atrás. Descobrimos ter gostos extremamente parecidos e compartilhar uma paixão pela dança. Ele sempre me mostrava os novos lançamentos dos grupos de K-pop e dançávamos juntos em seu quarto — que ficava a apenas alguns metros do meu. Nossas janelas eram de frente uma para outra e isso era incrivelmente útil para melhores amigos como nós.

Também foi com ele que descobri que poderia gostar de garotos.

Taemin troca de namorado com a mesma frequência com que eu troco sabores de sorvete. O sabor do mês para ele é Kim Jongin. O meu é chocolate com menta. Quando estávamos na oitava série, ele me perguntou se eu era gay. Já era comum eu ouvir seus relatos sobre os garotos com quem ficava na escola — e posteriormente os que ele deixava entrar em seu quarto nos fins de semana. Mas eu nunca havia compartilhado uma experiência minha — pelo simples motivo de nunca ter tido uma (pelo menos, não naquela época). Taemin me perguntou se eu me sentia desconfortável com ele falando sobre garotos sendo que ele era um, mas eu lhe disse que não. E eu realmente nunca me incomodei. Ele então me perguntou se eu já tinha gostado de alguém, ou ao menos tido vontade de beijar. Nada. Pelo menos nunca com alguém real. Já me apaixonei por diversos personagens em meus livros, mas nunca na realidade. Contei-lhe que, uma única vez, me perguntei como seria beijar ao ver uma cena meio comprometedora de um dorama. Era um casal hétero, mas eu não sabia qual dos atores me fez ter a vontade de descobrir como seria a sensação.

Naquele dia, Taemin me beijou.

Ele me perguntou antes, para ter certeza que eu estava de acordo. E eu concordei. Nós dois sabíamos que aquilo não ia mudar nossa relação — sempre seríamos melhores amigos — e hoje eu me sinto bem sabendo que nossa amizade só cresceu depois daquilo.

Meses depois, Taemin pediu que o namorado da vez trouxesse um amigo com ele — e foi quando passei a ficar com garotos, mesmo que nunca tenha me sentido realmente atraído por nenhum deles, era o esperado de um adolescente.

Tentei evitar o pensamento de que não vou ter Taemin comigo esse ano. Sei o quanto ele queria essa oportunidade, de poder estudar o que ama no exterior, mas meu lado egoísta queria que ele não fosse. Fico apavorado só de pensar em passar por aquelas portas enormes sem ele. Contudo, sei que nossa separação é inevitável e que, mais cedo ou mais tarde, vou ser obrigado a fazer parte do mundo real onde existem outras pessoas além de Taemin e Jihyo.

Minha falta de acesso ao mundo real foi totalmente substituída por livros, e não deve ser muito saudável viver na terra dos finais felizes. Ler também me ensinou sobre os horrores (possivelmente exagerados) do ensino médio, dos primeiros dias de aula, das panelinhas, das garotas malvadas. E, de acordo com Taemin, talvez eu já tenha uma reputação ao chegar lá, só por ser seu melhor amigo. Obviamente o Lee não tem um passado muito comportado, e os garotos que ele me apresentou com certeza vão me reconhecer, o que não ajuda em nada. Imagino que meu primeiro dia vai ser, no mínimo, interessante.

Não que eu me importe com isso realmente. Não me matriculei na escola para impressionar ninguém, então, contanto que minha reputação injustificada não interfira no meu objetivo principal, tudo vai ficar bem.

Assim espero.



*・゜゚・*



Fiquei em dúvida se devia correr esta manhã ou não, mas acabei decidindo dormir mais um pouco. Corro todos os dias, exceto aos domingos, mas parecia errado acordar mais cedo que o normal hoje. O primeiro dia de aula já era tortura suficiente, então decido adiar o treino para depois do colégio.

Como não tinha certeza de que ônibus deveria pegar, acabei chegando cedo demais. Decido, então, usar o tempo extra para dar uma conferida na quadra de esportes. Se eu estou pensando em tentar entrar para o time de atletismo, preciso pelo menos saber onde ficam as coisas. Além disso, é melhor do que ficar vagando pelos corredores.

Ao chegar na pista de atletismo, vejo um rapaz do outro lado, dando voltas, então vou para a arquibancada. Eu me sento no local mais alto e fico assimilando os novos arredores. Lá de cima, consigo ver o colégio inteiro. Não parece tão grande nem tão intimidador quanto eu imaginava. Taemin desenhou um mapa para mim e até escreveu algumas dicas, então tiro o papel da mochila para dar uma olhada. Acho que ele se sente um pouco mal por ter me abandonado.

— Nunca use o banheiro do lado do laboratório de ciências. Nunca. Nunca mesmo.

— Pendure a alça da mochila só em um ombro. Nunca use nos dois ombros, isso é coisa de nerd.

— Sempre confira a data de validade do leite.

— Os jogadores de futebol são babacas homofóbicos. Fique longe deles.

— O refeitório. Evite-o a todo custo, mas se o clima lá fora estiver ruim é só fingir que não sabe o que está fazendo quando entrar ali. Eles conseguem sentir o cheiro do medo na pessoa.

— Se o Sr. Kang for seu professor de matemática, sente-se no fundo da sala e não faça nenhum contato visual. Ele adora colegiais, se entende o que quero dizer.

A lista continua, mas não consigo ler mais. Não paro de pensar no "eles conseguem sentir o cheiro de medo na pessoa". Em momentos como esse, eu queria ter um celular. Ligaria para Taemin agora mesmo e exigiria uma explicação. Dobro o papel e o guardo na bolsa, em seguida volto a prestar atenção no corredor solitário. Não sei se é um aluno ou um treinador.

O rapaz termina sua última volta e segue em direção à arquibancada, sem erguer o olhar, portanto não me vê. Sai pelo portão e anda até uma moto no estacionamento. Ele coloca o capacete, sobe e vai embora, no exato momento em que o estacionamento começa a ficar cheio. E está ficando cheio bem rápido.

Ai, meu deus.

Pego a mochila e coloco as duas alças nos ombros de propósito. Em seguida, desço a escada que leva até o Inferno.

HOPELESS • jjk + pjmWhere stories live. Discover now