Capítulo 34

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Eu amo-o.

É errado eu sei, todavia na minha vida são poucas e quase inexistentes as coisas que realmente fazem um sentido lógico ou moral. Não posso esconder, no meio de todas aquelas personagens que Andy criou, eu apaixonei-me pelos seus sentimentos doentios.

Não posso culpá-lo. Estar estes dias deitada nesta cama fez-me perceber que da mesma maneira que eu, ele não teve alternativa,ninguém lhe deu outra opção de vida, foi naquele ambiente que ele foi criado.

Abstenho-me destes pensamentos e foco-me em Amy, as rugas do seu rosto acusam cansaço e contudo ela permanece com imensa força, tem me entretido com várias histórias suas, vejo-a como uma inspiração apesar de não ignorar a escuridão dos seus olhos:

- O Andy ligou-me ainda à pouco, ficou feliz por saber que estás a melhorar- ela ajeita-me as almofadas e eu esboço um semi-sorriso

É uma verdade parcial, evito relembrar-me do que Ethan fez comigo mesmo que as dores sejam uma memória viva. 

Está a acabar o oitavo dia depois da nossa última conversa, continue com esperança que ele desista:

-Já pensas-te no que te disse?- a sua voz é suave mas carregada de curiosidade- Não desejo pressionar-te mas preciso de saber se pelo menos consideras a minha proposta

Mais uma loucura.

-Se ele não mudar eu aceito, quero justiça- digo da maneira mais firme possível

Sou deixada novamente sozinha e sonolenta por conta da medicação. Amy confiou-me informações sobre como quer desmoronar aquele sítio, e eu posso ser uma maneira, ela só precisa de provas, todavia para isso eu teria de voltar, ver Chris mais uma vez, arriscar a minha vida, e claro, entregar também Andy...

Acordo quando passos pesados me tiram do meu estado de inconsciência:

-Sei que é tarde mas decidi vir ver-te- a sua voz chega até e eu absorvo-a como senão a ouvisse à meses

A sua figura parece ainda mais sombria com a pouca iluminação do quarto, a roupa preta repleta de correntes, rasgões e símbolos combinam com a personalidade dele, vejo-o sentar-se ao meu lado enquanto me analisa com cuidado. Sinto remorsos por estar a pensar na possibilidade de destruir a sua vida:

-Ruby?- volto a dirigir o olhar para ele- Queres que volte noutra altura?

-Quero que me digas o que pretendes fazer- respondo sem rodeios

- Eu disse-te que era complicado, tenho o meu nome envolvido em vários negócios eu não posso simplesmente sair assim

- Tu não percebeste pois não?- ele franze a sobrancelha sem gostar do tom mas eu decido continuar, já não tenho nada a perder- O bordel vai a baixo, Chris e todos os que estão metidos nisso vão ser presos e pagar por todas as raparigas que sofreram naquele sítio,Andy, essa vida é errada, tu ainda podes escolher

-Foi a Amy que te meteu essas ideias na cabeça não foi?

- Eu não preciso que ninguém me influencie para perceber que é preciso impedir que outras passem pelo mesmo que eu tive de passar, ou pior.

- Não fazes ideia do que estás a dizer..
Vou te trazer documentos de uma nova identidade, assim que tiveres recuperada podes começar uma vida longe daqui- ele passa a mão pelo cabelo espesso e negro

- Eu só vou seguir em frente quando for feita justiça.

-Olha para onde estás agora, senão fosse Amy estarias a ser transformada em cinzas como uma desconhecida, uma sem-abrigo, ninguém iria querer saber, ninguém se iria importar de onde vieste ou quem és, e mesmo que alguém se desse a esse trabalho temos pessoas de confiança que impedem o prosseguimento dessas desconfianças, não existe justiça, tira essa ilusão da cabeça, se sabes assim tanto do assunto então pressuponho que tenhas ficado a saber o quão importante é o bordel para o trágico Internacional, as tuas ações vão ser insignificantes, eu estou a dar-te a oportunidade de começares finalmente a tua vida e tu no entanto acreditas em fazer algo que sabes ser impossível!

- Saber o teu nome também era impossível, sair daquele lugar também era impossível... amar-te também era impossível- acrescento a última parte num murmúrio suplicante

As suas feições refletem dor:

- Por favor não te vás embora como da  última vez- peço

Tento chegar-me para uma beira da cama e ele ajuda-me sem dizer uma única palavra, de seguida deita-se ao meu lado.

Não tenho dores nem passado, só o tenho ali comigo assim como a sensação de segurança que ele me traz. Com o maior dos cuidados, Andy acaba por passar o resto da noite comigo
Ambos temos decisões a tomar e todavia nenhum de nós o deseja fazer.

TORTURADAOnde histórias criam vida. Descubra agora