1- Não se Afogue

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O tick tack do relógio batia de fundo, cada momento passando mais devagar do que o outro conforme eu esticava a mão em direção ao teto e procurava uma resposta para mil perguntas que minha mente me disparava sem diminuir o ritmo.

5 da manhã e o azul do sol começava a surgir no céu. "Quem sou eu?".

"Eu to fazendo a coisa certa?".

"Será que lá no fundo eu não to só passando vergonha?"

"Será que eu to tentando demais?"

Cada pergunta era uma batida mais forte no meu coração cada vez mais apertado enquanto eu me preocupava demais em mil paranoias diferentes. Mil vertentes da mesma pergunta interminável e incansável, exatamente como a minha mente.

"O que as pessoas acham de mim?"

Eu parava por um instante vendo a luz apagada no teto me encarando de volta.

"Será que ela ri das conversas que temos?"

"Será que ela mostra pra alguém e ri pelas minhas costas

das mil e uma coisas que eu tento

fazer pra deixar tudo

bem?"

"Será que eu to me esforçando demais? Me tornando algo como um cachorrinho de alguém... de novo?"

"Ou será

que eu só ajo assim por que

eu to começando a gostar de uma pessoa nova?"

Eu fazia um quebra cabeça com as paranoias na minha mente, e a cada tick e tack que passava elas iam lentamente me envolvendo em uma trama maquiavélica que só servia pra me deprimir e fazer mal. Cada pergunta era mais uma nova paranoia sem sentido para eu me preocupar.

Lentamente eu sentia como se uma maré de agua fosse me envolvendo, lentamente escalando pelas paredes e caindo de cada poro da minha insegurança. A agua escura e pungente me inundava e me submergia me fazendo segurar a respiração...

Tick... O ar se acumulava em minhas bochechas.

Tack... Eu abria os olhos sem conseguir enxergar naquela escuridão

Tick... O ar dos meus pulmões era consumido sobrando só o expirar....

Tack... Eu soltava o ar para fora esperando conseguir sair da agua...

Tick... A queimação da falta de ar começava a se instaurar...

Tack... Eu abria a boca tentando respirar puxando a agua para dentro de mim em pânico...

Tick... O corpo começa a se proteger instintivamente fechando a traqueia e a passagem do ar se sela e assim... O silencio se instaura conforme eu desço mais e mais naquela escuridão infinita...

E naquele instante o meu eu desprivado de ar fala mais alto.

"Não é exatamente assim que funciona..."

De súbito o tick e tack estalava menos, quase como se parasse em meus ouvidos.

Meu corpo flutuava calmamente enquanto eu lutava contra a falta de ar.

"O que as pessoas acham de mim?"

"Elas te acham gentil, amigável, esforçado na amizade"

"E como eu vou saber isso?"

"Você não sabe, você sente!"


"Será que ela ri das conversas que temos?"


"Conhecendo ela como conhece.


Não faz o feitio dela agir dessa forma.


Não?"


"E teria importância? Você faria a sua parte, você demonstraria o seu meio e a sua preocupação, o que os outros acham não é da sua conta. Foque no que te faz bem"


"Será que ela mostra pra alguém e ri pelas minhas costas


das mil e uma coisas que eu tento


fazer pra deixar tudo


bem?"


"Será que eu to me esforçando demais? Me tornando algo como um cachorrinho de alguém... de novo?"


"Você não precisa pensar no esforço ou na recompensa, mas sim no processo, se isso te faz bem, qual o problema de fazer?"


"Ou será que eu só ajo assim por que


eu to começando a gostar de uma pessoa nova?"


"Mas você não age assim com todo mundo? Com todas as pessoas você não se dedica, estende a mão a alguém machucado e abraça as feridas da pessoa com todo o seu intimo?"


"Use seus medos como uma desculpa para se fortalecer, Willian."

...

....

............

...............................

.........................................................

Com estas palavras ditas eu abri meus olhos. Deitado novamente em meu colchão, molhado dos pés a cabeça de suor mas não mais afogado. Me sentei vendo o azul do céu brilhar levemente mais forte janela afora.

Eu sobrevivia a mais um dia.

Não Se AfogueWhere stories live. Discover now