Lug(L)ar

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Eles iriam voltar de barco para a Inglaterra. Ninguém disse nada, mas todos sabiam que aquela estranha visitante estava habitando a maleta de Newt.

E todos também sabiam que ela era uma criatura, que parecia imitar humanos. E vindo de alguém como Newton Scamander, sem dúvidas era algo perigoso.

Eles foram para a casa dos Scamander, em Doncaster. Theseus ainda nem sabia sobre a história de Corvus Lestrange, e ninguém estava disposto a revelar o segredo sombrio de Leta.

Newt deixou a maleta em seu quarto e foi acomodar seus convidados, para então tomar um banho quente e relaxante.

Perdeu umas boas horas na água morna, sabendo que seu irmão trataria de ser um ótimo anfitrião. Theseus era bom nessa coisa de socializar e seguir regras sociais imbecis.

Quando voltou para o quarto, havia um bilhete sobre a mala. Colocou uma roupa confortável e se sentou na cama, pegando o papel dobrado.

"Boa noite, Newt. Voltei para casa, sai muito repentinamente... Desculpe por não me despedir, eu não sabia como fazer isso...
Cuidado ao levar Credence para Hogsmead. Deixe-o conhecer Abbie, mas só leve o menino a Alvo Dumbledore se Aberfort lhe disser que é uma boa ideia.
Oh, a patinha de Niffler está melhor agora, e todos estão alimentados e adormecidos.
Desça para jantar com os outros e tente ficar tranquilo. São pessoas que lhe querem bem.
Saiba que estarei lhe aguardando para uma visita no equinócio de outono.
Hazel."

Abriu um sorriso meio bobo para o papel. Aquela era Hazel. Admitindo que não sabia como se despedir.

Sabia que ela havia ido embora porque estava desconfortável com a presença dos outros. Se ele estivesse sozinho em casa... As coisas seriam diferentes.

•~🍁~•

Aberfort não quis apresentar Aurelius a Albus. Então quando se reuniram, Newt não falou nada sobre o menino. Na verdade, distraiu o professor com o pacto de sangue.

Então Aurelius e Naguini estavam no cabeça de Javali, ouvindo as mais diversas histórias de Aberfort.

Tina havia acompanhado o corpo de aurores, junto com Theseus e Leta, até Hogwarts. Queenie e Jacob haviam ficado na casa em Doncaster.

Voltando de Hogwarts, Newt foi buscar os dois no bar, antes de desaparatarem pra casa. Todos se acomodaram para dormir, exceto o magizoologista.

Niffler estava deitado em sua cama, emburrado, com um relicário de prata entre os dedinhos minúsculos. Newt sentou ao lado da criaturinha, abrindo o relicário para ele. Havia uma foto de Hazel com Niffler e Demiguise no colo, ganhando um beijinho de cada um deles, enquanto ria.

-Achei que estivesse feliz por ter visto a Hazel.-O bichinho lhe deu um tapinha mau-humorado.-Você quer que eu mande uma carta pra ela? Poderíamos ir vê-la antes do equinócio. O que acha?

O pequenino pulou pelo quarto todo, e ainda fez uma marca de patinha depois de colocá-la dentro do tinteiro e carimbar na carta. Newt enviou a mesma, e em três dias estava partindo sem dar explicações, como sempre fazia.

•~🍁~•

Ele ficou aliviado ao chegar na belíssima cadeia de montanhas.

Depois que ela havia se recuperado dos ferimentos e confiado nele, havia lhe mostrado sua casa.

Era um santuário nos Alpes Suíços. Inacessível para a maioria das pessoas. Newt tinha certeza que a loira tinha colocado algum feitiço de ocultamento, mas nunca tinha perguntado.

Pousou a vassoura, vendo a dona da casa/caverna surgir, na campina, com um sorriso lindo e os olhos de dragão, negros com manchas colorida, que o faziam lembrar uma galáxia, e a pupila em fenda prateada, brilhavam. Ela mantinha os cabelos loiros e algumas partes de seu corpo, como a região dos seios e o colo, e do quadril ao meio das coxas, eram uma mistura de escamas cobre e dourado. Tudo visível através do tecido transparente da túnica verde claro que ela usava.

-Newt!-Ela se jogou em seus braços, o riso solto, delicioso.-Você veio!

-Claro, Hazel.-Se escondeu no pescoço longo, sentindo aquele cheiro único que ela tinha. Carvalho, madressilva e café.-Senti tanto a sua falta. Desculpe pelo que houve na França e... Desculpe.

-Não é culpa sua.

-É sim... Eu sei que foi por minha causa... Agora Grindewald não vai descansar enquanto não te encontrar... E se ele suspeitar do que você é... Dumbledore vai saber, e vai pressionar Flamel até descobrir sobre você... É tudo culpa minha e...

-Newt.-Ela se afastou o suficiente para olhar o rosto do magizoologista, colocando o indicador sobre os lábios finos e bem desenhados.-Eu fui porque eu quis. Porque você é importante pra mim. Era minha escolha.-Ela retirou o dedos e lhe roubou um beijo suave, o que fez o mago fechar os olhos por alguns instantes.-Meu amor... A culpa não é sua.

Voltou a abrir os olhos e olhar pra ela. Era algo que o ajudara ao longo dos anos. A presença pacífica e sábia dela, apesar daquela aura de poder, era o que acalentava o mago quando mais ninguém o entendia.

Newt fizera a descoberta do século aquela noite. Ele foi um dos poucos bruxos a ter contato efetivo com a criatura mais enigmática dos mundos, mágico e trouxa. E ao conhecer a fundo aquela criatura, ele escolheu tê-la como amiga, não como descoberta. Guardou o segredo que o tornaria o maior magizoologista da história. Ele foi empático à dor dela.

Na época ele não imaginou que sua empatia teria a lealdade daquele ser como recompensa. Newt sempre soube que Gratidão era um sentimento que as criaturas, mágicas ou não, entendiam de uma forma que os humanos sequer eram capazes. Eles podiam retribuir um ato de gentileza como mais nada que ele já havia visto.

Voltou a fechar os olhos e deixou suas testas coladas, sentindo como as unhas dela passeavam por suas costas e nuca.

-Me perdoe... Eu não pude resistir...

-Humanos foram feitos para se apaixonar, Newt.-Ela deu uma risadinha doce.-Para viver um sentimento intenso, antes de encontrar seu aconchego. Não é errado ter se encatado por Goldstein, querido.

- Não está zangada?

-Está sendo bobo. Venha, precisa de um banho e uma comida quente. Está tenso e seu corpo está exausto. Vou resolver isto.

•~🍁~•

Ele gostava de tudo naquela casa peculiar. Desde os móveis à decoração simplória e rústica, e a dona do lugar.

Ficou quieto na água quente, esparramado na banheira de pedra aquecida. Olhos fechados, quase respirando pela boca de tão relaxado. Logo a ouviu andar pelo cômodo. Colocou os sais de banho na água e pegou um lenço de algodão cru, cor de areia, e veio se sentar passeado o pano por seus ombros e sua nuca, até alcançar as maçãs do rosto.

-Senti tanta saudade, Newt.-A voz veio suave, combinando com o ambiente.-Queria que pudéssemos nos ver mais...

Sem abrir os olhos, tirou o braço direito de dentro da água, pousando-o sobre as coxas da loira, onde fez um carinho leve com a ponta dos dedos, em círculos.

-Eu quero ficar, Hazel...

-Ora, então fique.-Abriu os olhos claros, mirando-os na mulher.-Fique aqui, Newt. Eu sei que não se sente bem lá. Mesmo que seja horrível dizer isso, já que sua família pertence àquele lado... Fique comigo, longe dessa guerra, longe do preconceito... Longe da dor.

-Não diga essas coisas.-Se ergueu um pouco na banheira, roubando um beijinho da criatura.-Não faça isso... Tudo o que eu mais quero é um lar... Você já me deu um lugar para onde eu posso voltar sempre... Mas não me peça pra ficar agora... Tenho que terminar essa guerra... Mas não quero ir.

-Por favor... Eu não posso perder você.-Ela abaixou os olhos.-Eu não quero voltar a ficar sozinha. Por sua causa eu sou o primeiro Druída que aprendeu a amar.

CriaturasWhere stories live. Discover now